ISSN 2215-3535
Actualidades en Psicología, 38(137), julho-dezembro, 2024, 106-117
DOI: 10.15517/ap.v38i137.52503
Esta obra está bajo una licencia de Creative Commons Reconocimiento-NoComercial-SinObraDerivada 4.0 Internacional.
Autoconceito e representações sociais de brasileiros acerca
de suas vivências LGBTQIA+
Self-concept and Social Representations of Brazilians about their LGBTQIA+ Experiences
Raimundo Nonato de Sousa Barros Neto 1
https://orcid.org/0000-0001-5066-142X
Ludgleydson Fernandes de Araújo 2
https://orcid.org/0000-0003-4486-7565
Alda Vanessa Cardoso Ferreira 3
https://orcid.org/0000-0001-8010-3234
1,2,3 Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal do Delta do Parnaíba - UFDPar, Parnaíba, Brasil.
1 nonatosbneto@outlook.com 2 ludgleydson@yahoo.com.br 3 aldavanessacafer@gmail.com
Recibido: 17 de setembro del 2022. Aceito: 05 de novembro del 2024.
Resumo. Objetivo. A pesquisa teve por objetivo identicar os elementos constituintes do autoconceito e a
estrutura representacional de brasileiros acerca de suas vivências LGBTQIA+. Método. O estudo contou com a
participação de 120 pessoas LGBTQIA+, com idade entre 18 e 42 anos (M = 27.19 e DT = 5.95). Para a coleta de
dados, utilizou-se um questionário sociodemográco e o Teste de Associação Livre de Palavras (TALP), com o
estímulo indutor “Eu mesmo. Resultados. A análise indicou que os participantes apresentaram representações
positivas de si mesmos, sugerindo um autoconceito saudável. Entretanto, apesar dos traços positivos predomi-
nantes, os estressores enfrentados por pessoas LGBTQIA+ podem afetar negativamente o autoconceito. Nesse
sentido, algumas das palavras evocadas após a apresentação do estímulo indutor se referem a características e
sentimentos negativos, associados a um autoconceito empobrecido.
Palavras-Chave. Representações sociais, autoconceito, pessoas LGBTQIA+
Abstract. Objective. The objective of this research was to identify the constituent elements of the self-concept
and the representational structure of Brazilians about their LGBTQIA+ experiences Method. The study involved
the participation of 120 LGBTQIA+ people, all Brazilian, aged between 18 and 42 years (M = 27.19 and SD =
5.95). Data collection employed a sociodemographic questionnaire and the Free Word Association Test (FWAT)
with the inducing stimulus "Myself". Results. The analysis indicated that participants demonstrated positive
self-representations, suggesting a healthy self-concept. However, despite the predominance of positive traits,
the stressors faced by LGBTQIA+ individuals may negatively impact their self-concept. In this context, some of
the words evoked following the presentation of the inducing stimulus referred to negative characteristics and
feelings associated with an impoverished self-concept.
Keywords. Social representations, self-concept, LGBTQIA+ people
Autoconceito e representações sociais de suas vivências LGBTQIA+
Actualidades en Psicología, 38(137), 2024.
107
INICIO MÉTODO RESULTADOS DISCUSIÓN REFERENCIAS
Introdução
Historicamente, a população LGBTQIA+ (Lésbi-
cas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis, Queers,
Intersexuais e Assexuais) é vítima frequente de
violência simbólica, psicológica, sexual, institucional
e física (Araújo, 2022). Apesar dos avanços recentes,
como a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF;
Supremo Tribunal Federal, 2019) que criminaliza ca-
sos de preconceito e discriminação motivados pela
orientação sexual e/ou identidade de gênero, a
LGBTfobia ainda é uma realidade evidente no Brasil.
Em um recente relatório produzido pela revista
“Gênero e Número, 51% das pessoas LGBTQIA+
entrevistadas relataram ter sofrido algum tipo de
violência motivada por sua identidade de gênero ou
orientação sexual somente no contexto das eleições
nacionais de 2018. Enquanto 95.2% perceberam um
aumento dos casos de LGBTfobia nos meses sub-
sequentes a eleição (Bulgarelli & Fontgaland, 2019).
Ademais, os dados relativos as mortes violentas en-
tre pessoas LGBTQIA+ no Brasil também são alar-
mantes. Um relatório, produzido em parceria entre
os grupos Acontece Arte e Política LGBTI+ e o Gru-
po Gay da Bahia (GGB), aponta que apenas no ano
de 2020 foram registradas 237 mortes violentas de
pessoas LGBTQIA+ no Brasil, sendo que, do total,
90.71% dos casos são referentes a homicídios, 5.48%
a suicídio e 3.79% a latrocínios (Gastaldi et al., 2021).
Tendo em vista esse cenário, conforme Paveltchuk
e Borsa (2020), pessoas que não seguem padrões de
heteronormatividade enfrentam, além dos estresso-
res cotidianos comuns a todos, estressores adicionais
conhecidos como estresse de minoria. Esses estresso-
res incluem experiências de vitimização, diculdades
relacionadas à aceitação da própria identidade sexual
(que podem levar à homofobia internalizada),e ex-
pectativas de rejeição devido à sua orientação sexual.
De acordo com Antunes (2017), a homofobia interna-
lizada pode ser caracterizada como o sentimento ne-
gativo do sujeito acerca de sua própria homossexua-
lidade, que é vivenciada como fonte de sofrimento,
perigo e punição para si mesmo.
Dessa forma, ao internalizar a homofobia, o su-
jeito pode passar a acreditar que seus problemas
decorrem de sua orientação sexual, fazendo com
que experimentem sentimentos de vergonha, raiva e
ódio autodirigidos. Esse processo pode ter diversos
desdobramentos, dentre eles o desenvolvimento de
baixa autoestima e de uma visão negativa acerca de
si mesmo (Antunes, 2017). Nesse sentido, a interna-
lização da homofobia está associada ao desenvol-
vimento de um autoconceito negativo e a baixos
níveis de autoestima (Paveltchuk & Borsa, 2020).
O autoconceito pode ser denido como um
conjunto de crenças que cada sujeito possui acerca
de si mesmo, sendo um tema de interesse frequen-
te da psicologia social, já que está implicado na or-
ganização do pensamento e atua como um guia
do comportamento social (Myers, 2014). De acordo
com García et al. (2011), o autoconceito deve ser
compreendido como um fenômeno multifatorial.
Nesse sentido, os autores propõem um modelo de
cinco dimensões para a avaliação do autoconceito,
sendo: prossional/acadêmico, social, físico, emo-
cional e familiar.
No que se refere aos fatores associados a for-
mação do autoconceito, Myers (2014) salienta a im-
portância dos papeis desempenhados pelo sujeito,
suas identidades sociais, as comparações realizadas
em relação aos outros, seu histórico de êxitos e fra-
cassos; pelos julgamentos dos outros e pelo con-
texto cultural em que se está inserido. Tajfel (1981),
por sua vez, ao postular a teoria da identidade so-
cial, destaca que o autoconceito sofre forte inuên-
cia da pertença grupal e da identicação do sujeito
com seu grupo social.
Desse jeito, considerando as implicações psi-
cossociais das experiências compartilhadas por
pessoas LGBTQIA+, inclusive na forma como repre-
sentam a si mesmas, entende-se como relevante o
estudo do autoconceito entre membros dessa co-
munidade. Nesse contexto, a Teoria das Represen-
tações Sociais (TRS) surge como uma abordagem
teórica e metodológica adequada, já que o auto-
conceito está ligado às experiências sociais do in-
Autoconceito e representações sociais de suas vivências LGBTQIA+
Actualidades en Psicología, 38(137), 2024.
108
INICIO MÉTODO RESULTADOS DISCUSIÓN REFERENCIAS
tativos das representações sociais (Lynch, 2020).
Dessa forma, enquanto o NC é a parte rígida da
representação, sendo essencialmente determinado
pelo contexto social e apresentando um maior nível
homogeneidade grupal, o sistema periférico é mais
exível. Isto já que apresenta um maior grau de in-
dividualização, o que lhe garante maior heteroge-
neidade (Abric, 2003).
Diante do exposto, a investigação do autocon-
ceito de pessoas LGBTQIA+ é de grande relevân-
cia, dado o contexto social e cultural em que esse
grupo se insere. O autoconceito, que envolve a re-
presentação que um indivíduo tem de si mesmo,
está profundamente relacionado à autoestima, à
saúde mental e ao bem-estar psicológico. Para a
população LGBTQIA+, a vivência em um ambiente
frequentemente marcado por discriminação, estig-
matização e marginalização pode impactar signi-
cativamente na construção de um autoconceito
positivo e saudável (Antunes, 2017; Paveltchuk &
Borsa, 2020).
Portanto, a necessidade de investigar o auto-
conceito de pessoas LGBTQIA+ vai além do interes-
se acadêmico, sendo um passo importante para a
construção de uma sociedade mais inclusiva e para
a promoção de melhores condições de vida e saú-
de para essa população. Nesse sentido, este estudo
poderá oferecer uma compreensão mais aprofun-
dada sobre como o contexto histórico e social brasi-
leiro impacta as representações que indivíduos não
heteronormativos constroem acerca de si mesmos.
Tendo por objetivo identicar os elementos
constituintes do autoconceito e a estrutura repre-
sentacional de brasileiros acerca de suas vivências
LGBTQIA+, o presente estudo está ancorado na
Teoria das Representações Sociais, mais especica-
mente na abordagem estrutural das representações
sociais. A m de alcançar os objetivos propostos, foi
adotado um modelo de pesquisa qualitativo, com a
utilização de um protocolo de pesquisa composto
por um questionário sociodemográco e a Técnica
de Associação Livre de Palavras - TALP, tendo como
estímulo indutor o termo “Eu mesmo.
divíduo, particularmente à sua identicação com o
grupo ao qual pertence (Myers, 2014; Tajfel, 1981).
Postulada pelo psicólogo social Serge Moscovi-
ci, ainda na década de 1960, a TRS propõe o es-
tudo cientíco do “senso comum”, ou, em outras
palavras, do conhecimento construído socialmen-
te e compartilhado por determinado grupo social
(Lynch, 2020). Nesse sentido, Jodelet dene as re-
presentações sociais como “[...] uma forma de con-
hecimento socialmente elaborado e compartilha-
do, com um objetivo prático, e que contribui para a
construção de uma realidade comum a um conjun-
to social" (Jodelet, 2001, p. 22).
Apesar de consolidada dentro do campo da
psicologia social, a TRS ainda é uma teoria em
construção. Ao longo dos cinquenta anos do seu
desenvolvimento, surgiram diversas correntes que
compõem esse campo teórico mais amplo. Dentre
essas, uma das que merece destaque é a aborda-
gem estrutural das representações sociais. Também
conhecida como Escola de Aix-en-Provence, essa
abordagem tem com marco inaugural a publicação
de 1976, da tese de doutorado do psicólogo francês
Jean-Claude Abric, onde se estabelece as bases da
Teoria do Núcleo Central (TNC; Lynch, 2020).
Na perspectiva de Abric (2003), “uma represen-
tação social é um conjunto organizado e estruturado
de informações, crenças, opiniões e atitudes, ele cons-
titui um sistema sociognitivo particular, composto de
dois subsistemas: um sistema central (ou núcleo cen-
tral) e um sistema periférico” (p. 38). O núcleo central
(NC) é o elemento em torno do qual está organizada
uma representação, sendo resultado da memória co-
letiva e do sistema de normas estabelecido por deter-
minado grupo social. Desse modo, estando ancorado
à memória coletiva de um grupo de pertença especí-
co, o núcleo central congura-se como a parte mais
rígida de uma representação social, conferindo assim,
maior estabilidade às representações (Lynch, 2020).
Os elementos periféricos, por sua parte, promo-
vem a interface entre o núcleo central e a realidade
objetiva, dessa maneira, caracterizam-se como os
componentes mais acessíveis, dinâmicos e adap-
Autoconceito e representações sociais de suas vivências LGBTQIA+
Actualidades en Psicología, 38(137), 2024.
109
INICIO MÉTODO RESULTADOS DISCUSIÓN REFERENCIAS
Instrumentos
Utilizou-se de dois instrumentos para a coleta
de dados. Primeiramente, a m de se caracterizar
o perl dos participantes, empregou-se um ques-
tionário sociodemográco, com perguntas relativas
sobre idade, sexo, orientação sexual, identidade de
gênero, escolaridade, renda familiar e religião. Além
desse, com o objetivo de se identicar os elemen-
tos constituintes do autoconceito dos participantes
e apreender as representações sociais acerca de
suas vivências LGBTQIA+, utilizou-se o Teste de As-
sociação Livre de Palavras (TALP), com o estimulo
indutor “Eu mesmo.
Procedimiento
Primeiramente a pesquisa foi submetida a apre-
ciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Universidade Federal do Piauí, Brasil, sendo apro-
vado em setembro de 2021, conforme o parecer de
número: 5,001,189. Após a aprovação deu-se início
a coleta de dados. No primeiro momento, o instru-
mento de pesquisa foi divulgado por meio de apli-
cativos de mensagens instantâneas, como WhatsA-
pp, e de redes sociais, como Instagram, Twitter e
Facebook. As pessoas que se dispuseram a partici-
par da pesquisa foram orientadas a ler o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, cando os pes-
quisadores disponíveis para sanar possíveis dúvidas
acerca do estudo. Ressalta-se que foram respei-
tadas as orientações apresentadas nas resoluções
do Conselho Nacional de Saúde de Nº 466/2012
e 510/2019, que tratam da realização de pesquisas
com seres humanos e determina diretrizes éticas
para ciências humanas e sociais.
Análise dos dados
A m de caracterizar o perl dos participantes da
pesquisa, os dados coletados a partir do Questio-
nário Sociodemográco foram submetidos a análi-
ses descritivas, expressas em porcentagem, média
e desvio padrão, por meio do Software Estatístico
IBM SPSS versão 26. Por sua vez, os dados obti-
dos por intermédio da TALP foram tabulados numa
Método
Tipo de investigação
Trata-se de uma pesquisa descritiva e explorató-
ria, com uma abordagem qualitativa.
Participantes
A amostra, do tipo não probabilística e por con-
veniência, foi composta por 120 (cento e vinte) pes-
soas LGBTQIA+ brasileiras, com idade entre 18 e 42
anos (M = 27.19 e DT = 5.95). Quanto a orientação
sexual, 57% dos participantes se declararam gays
(pessoas do gênero masculino que sentem atração
sexual por pessoas do mesmo gênero), 22% bis-
sexuais (indivíduos que se relacionam sexualmen-
te com pessoas de ambos os sexos/gêneros), 16%
lésbicas (pessoas do gênero feminino que sentem
atração sexual por pessoas do mesmo gênero), 4%
pansexuais (pessoas que se relacionam sexual e/
ou afetivamente com outras pessoas independen-
temente de sexo ou gênero) e 1% assexuais (indi-
víduos que não sentem atração sexual por outras
pessoas). Já em relação a identidade de gênero,
62% dos entrevistados se identicaram como ho-
mens cisgênero (homens que se identicam com o
sexo designado no nascimento), 26% como mulhe-
res cisgênero (mulheres que se identicam com o
sexo designado no nascimento), 8% como não-bi-
nário (pessoa que não dene sua identidade de -
nero dentro do binarismo, masculino e feminino),
2% como mulheres transgênero (mulheres que se
identicam com o gênero oposto ao sexo designa-
do no nascimento), 1% como homens transgênero
(homens que se identicam com o gênero oposto
ao sexo designado no nascimento) e 1% como tra-
vestis (pessoa que nasceu com determinado sexo,
mas que passa a se identicar e construir em si
mesma o gênero oposto; Reis, 2018). Os critérios de
inclusão para participar da pesquisa foram: (1) ter
18 anos ou mais; (2) ter nascido no Brasil; (3) iden-
ticar-se como pessoas LGBTQIA+; e (4) aceitar a
participação mediante o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE).
Actualidades en Psicología, 38(137), 2024.
110
INICIO MÉTODO RESULTADOS DISCUSIÓN REFERENCIAS
Autoconceito e representações sociais de suas vivências LGBTQIA+
planilha do software Open Oce. Posteriormente,
foi importada para o programa de análises textuais
IRaMuTeQ versão 0.7 alpha 2, onde foram realiza-
das análises de matriz, mais especicamente a aná-
lise de frequência múltipla e a análise prototípica.
Resultados
A análise prototípica, também chamada de aná-
lise das evocações ou técnica do quadro das quatro
casas, é um método extensamente utilizado para
caracterizar a estrutura de uma representação so-
cial a partir de dados coletados por meio de técni-
cas de evocações livres. A análise prototípica con-
siste na organização das palavras evocadas pelos
participantes em quatro quadrantes, de acordo cri-
térios de frequência (F) e ordem média de evocação
(OME; Wachelke et al., 2016).
Identicou-se um total de 560 evocações acerca
do estímulo “Eu Mesmo. Para o agrupamento das
respostas foi utilizado o critério semântico, ou seja,
as evocações foram classicadas em categorias de
acordo com a semelhança de signicado (Wache-
lke & Wolter, 2011). As categorias que tiveram a fre-
quência mínima de evocação inferior a 3 não foram
consideradas na apresentação dos quadrantes.
Na primeira coluna da Tabela 1 são apresentadas
as categorias que compõem o primeiro quadrante,
que corresponde aos elementos centrais. Esse qua-
drante é composto pelas categorias que tiveram alta
frequência (F) e baixa ordem média de evocação
(OME), ou seja, são palavras que foram mais pron-
tamente evocadas após a apresentação do estímulo
indutor. Como pode ser observado na tabela, foram
considerados como elementos centrais as categorias
que apresentaram frequência ≥ 6.82 e OME < 2.81.
A primeira categoria a gurar no núcleo central
da representação social foi “feliz” (F = 19; OME = 2.6).
Esse resultado indica que, apesar dos estressores
adicionais especícos dessa comunidade, a presença
de fatores de proteção como: resiliência, apoio social
familiar e religiosidade, podem estar associados a ní-
veis positivos de bem-estar subjetivo entre os parti-
cipantes (Campos, 2015). Além de “feliz”, as outras
categorias que compuseram o núcleo central foram:
“forte" (F = 17; OME = 1.5), “lutador" (F = 16; OME
= 2.6), “resistente" (F = 9; OME = 2.8), “medo" (F =
8; OME = 2.6), “corajoso" (F = 7; OME = 2.3) e “soli-
tário" (F = 7; OME = 1.6). Como pode ser observado,
com exceção das categorias “solitário” e “medo, as
demais podem ser percebidas como características
desejáveis, associadas a um autoconceito positivo.
Elementos Centrais Elementos da Primeira Periferia
Palavra FOME < 2.81 Palavra FOME > 2.81
Frequência
≥ 6.82
Feliz 19 2.6 Amor 21 3.2
Forte 17 1.5 Amigo 12 2.9
Lutador 16 2.6 Livre 11 3.5
Resistente 9 2.8 Ansioso 10 3.1
Medo 8 2.6 Respeito 7 3.6
Corajoso 7 2.3 Empático 7 3.7
Solitário 7 1.6
Tabela 1. Elementos Centrais e Primeira Periferia das representações sociais sobre “Eu Mesmo
Autoconceito e representações sociais de suas vivências LGBTQIA+
Actualidades en Psicología, 38(137), 2024.
111
INICIO MÉTODO RESULTADOS DISCUSIÓN REFERENCIAS
Os elementos da primeira periferia, que corres-
pondem ao segundo quadrante, são aquelas cate-
gorias que apresentaram alta frequência de evo-
cação, entretanto, sua ordem média de evocação
foi superior à dos elementos centrais. Ou seja, ape-
sar de apresentar alta frequência, sua evocação, em
média, se deu posteriormente a evocação dos ele-
mentos centrais. Como pode ser visto na segunda
coluna da Tabela 1, os elementos da primeira peri-
feria foram “amor" (F = 21; OME = 3.2), “amigo" (F =
12; OME = 2.9), “livre" (F = 11; OME = 3.5), “ansioso"
(F = 10; OME = 3.1), “respeito" (F = 7; OME = 3.6) e
empático" (F = 7; OME = 3.7). Consequentemen-
te, em consonância com os elementos do núcleo
central, com exceção da categoria “ansioso, os ele-
mentos periféricos estão associados a característi-
cas positivas dos sujeitos, estando especialmente
orientadas à dimensão social do autoconceito (Gar-
cía et al., 2011). Quanto a categoria “ansioso, Fran-
cisco et al. (2020) colocam que, frequentemente,
os sintomas de ansiedade entre pessoas LGBTQIA+
estão relacionados a vergonha e comportamento
evitativo assumidos por essa população, por conta
da discriminação e a falta de apoio social e familiar.
No terceiro quadrante encontram-se os elemen-
tos contrastantes, sendo aqueles que foram pronta-
mente evocados após a apresentação do estímulo
indutor, entretanto sua frequência de evocação foi
menor em relação aos elementos do núcleo central.
Parte dos elementos contrastantes, que podem ser
observados na primeira coluna da Tabela 2, se refe-
rem a características que podem ser compreendidas
como positivas acerca de si mesmos, como “inteli-
gente (F = 6; OME = 2.3)”, “autêntico (F = 6; OME =
2.5)” e “honesto (F = 3; OME = 1.7)”. Por outro lado,
quando comparado aos elementos do núcleo cen-
tral e sistema periférico, no terceiro quadrante hou-
ve uma maior ocorrência de categorias associadas a
Elementos Contrastantes Elementos da Segunda Periferia
Palavra FOME < 2.81 Palavra FOME > 2.81
Frequência
≥ 6.82
Inteligente 6 2.3 Vida 6 4.0
Inseguro 6 2.8 Sonhador 6 3.3
Sofrimento 6 2.5 Carinhoso 6 3.5
Aceitação 6 1.7 Perseverante 5 4.6
Autêntico 6 2.5 Determinado 4 3.8
Triste 5 2.0 Esforçado 4 3.0
Gay 4 1.8 Independente 4 4.0
Tímido 4 2.2 Único 3 3.0
Mudança 3 2.3 Livros 3 3.3
Honesto 3 1.7 Resiliente 3 4.7
Egoísmo 3 1.7 Depressivo 3 3.3
Simpático 3 3.3
Sensível 3 3.0
Tranquilo 3 3.3
Tabela 2. Elementos Contrastantes e Segunda Periferia das representações sociais sobre “Eu Mesmo
Autoconceito e representações sociais de suas vivências LGBTQIA+
Actualidades en Psicología, 38(137), 2024.
112
INICIO MÉTODO RESULTADOS DISCUSIÓN REFERENCIAS
um autoconceito negativo, como “inseguro” (F = 6;
OME = 2.8), “sofrimento” (F = 6; OME = 2.5), “triste”
(F = 5; OME = 2.0) e “tímido” (F = 4; OME = 2.2).
Os elementos da segunda periferia, situados no
quarto quadrante, complementam os elementos da
primeira periferia, mas apresentam menor frequência
de evocação do que esses. Como pode ser visualiza-
do na segunda coluna da Tabela 2, esses elementos
apresentaram forte semelhança com os dos demais
quadrantes, com maior frequência de categorias que
remetem a um autoconceito saudável, como “son-
hador” (F = 6; OME = 3.3), “carinhoso (F = 6; OME
= 3.5), “perseverante” (F = 5; OME = 4.6), “determi-
nado (F = 4; OME = 3.8), “esforçado” (F = 4; OME =
3.0), “independente” (F = 4; OME = 4.0), “resiliente”
(F = 3; OME = 4.7)” e “simpático” (F = 3; OME = 3.3).
De maneira geral, foi possível identicar que,
tanto no núcleo central como no sistema periférico,
houve uma maior ocorrência de palavras referen-
tes a características e sentimentos que podem ser
compreendidos como positivos, esperados para um
autoconceito saudável. Todavia, também foi obser-
vada a ocorrência de categorias associadas caracte-
rísticas e sentimentos não desejáveis, que podem ter
implicações psicossociais negativas para os sujeitos.
Diante das categorias evocadas, discute-se aqui
os elementos constituintes da estrutura representa-
cional de pessoas LGBTQIA+ acerca de si mesmas,
relacionando os achados às vivências e experiências
compartilhadas por representantes desse grupo.
Além disso, discorre-se sobre os fatores possivelmen-
te associados a forma como elas representam a si
mesmas, bem como as possíveis implicações psicos-
sociais de determinadas características e sentimentos
que compõem o autoconceito dos participantes.
Discussão
A primeira categoria a gurar no núcleo central
das representações sociais foi “feliz”, indicando que,
apesar da população LGBTQIA+ sofrer com estres-
sores adicionais, associados a um contexto social
notadamente LGBTfóbico, os participantes possuem
níveis satisfatórios de bem-estar subjetivo. Esse sen-
timento ou estado de humor, naturalmente, deve ser
compreendido como um traço positivo da dimensão
emocional do autoconceito (García et al., 2011). Pa-
veltchuk e Borsa (2020) colocam que alguns fatores,
sejam individuais ou ambientais, atuam como prote-
tores do bem-estar entre minorias sexuais.
Estudos indicam o apoio social e familiar, a re-
siliência, a religiosidade, a autoestima, a autoacei-
tação e estar em um relacionamento,também fun-
cionam como alguns desses fatores (Campos, 2015;
De Vries et al., 2019). Roberts e Christens (2021) des-
tacam ainda que a conectividade e o envolvimento
com movimentos LGBTQIA+ tem impactos positivos
sobre o bem-estar desse grupo. Para os autores, a
comunidade LGBTQIA+, enquanto movimento so-
ciopolítico, atua como uma fonte de acolhimen-
to, validação e segurança. Desempenha um papel
essencial na promoção do bem-estar de pessoas
não-heteronormativas ao favorecer um ambiente
onde essas possam expressar-se livremente e en-
frentar estressores sociais de forma mais fortalecida.
Apesar da relevância dos dados apresentados
anteriormente, é fundamental reconhecer que es-
tressores especícos, como vivências de vitimização
LGBTfóbica e a homofobia internalizada, acarretam
consequências signicativas para o bem-estar de
pessoas LGBTQIA+. Conforme apontado por Pa-
veltchuck e Borsa (2020), esses estressores adicio-
nais, denominados estressores de minoria, contri-
buem para uma maior vulnerabilidade de pessoas
não-heteronormativas ao comprometimento de
sua saúde mental e bem-estar. Essa realidade é
corroborada por pesquisas que indicam que indi-
víduos LGBTQIA+ tendem a apresentar indicado-
res de bem-estar subjetivo, satisfação com a vida e
saúde mental em níveis inferiores aos das pessoas
cisgênero e heterossexuais (Araújo, 2022; Pavelt-
chuk et al., 2019). Esses achados apontam para a
necessidade de abordagens inclusivas e sensíveis
no campo da saúde mental, com intervenções fo-
cadas nas especicidades de cada grupo da comu-
Autoconceito e representações sociais de suas vivências LGBTQIA+
Actualidades en Psicología, 38(137), 2024.
113
INICIO MÉTODO RESULTADOS DISCUSIÓN REFERENCIAS
nidade LGBTQIA+ e voltadas para a mitigação dos
impactos desses estressores minoritários.
Ainda no núcleo central, são observadas outras
características como: “forte”, “lutador, “resistente”
e “corajoso, que podem ser compreendidas como
positivas. Naturalmente, tais características não po-
dem ser desvencilhadas das experiências e repre-
sentações compartilhadas pelo grupo de pertença
dos participantes. Nesse sentido, compreende-se
que, muitas vezes em contextos adversos para mi-
norias sexuais, lutar e a resistir tornam-se, ações
essenciais para assegurar o direito de existir e ex-
pressar livremente a própria orientação sexual e
identidade de gênero.
Casali e Gonçalves (2019), ao versar sobre os de-
saos em relação à proteção e garantia do direito
à diversidade sexual, à cidadania e à educação es-
colar apontam que o preconceito e a discriminação
se apresentam como obstáculos à permanência de
pessoas LGBTQIA+ no ambiente escolar. O mesmo
pode ser observado no campo do trabalho, onde
pessoas LGBTQIA+ enfrentam diculdades que vão
desde a inserção até a permanência em ambientes
laborais marcados pela LGBTfobia (Menezes et al.,
2018). Assim, embora as características menciona-
das no parágrafo anterior possam ser entendidas
como componentes de um autoconceito positivo,
elas também sinalizam uma necessidade constante
de luta e vigilância para assegurar direitos funda-
mentais. Para a população LGBTQIA+, tais traços
reetem uma adaptação frente a contextos adver-
sos e representam uma resposta de enfrentamento
frente a ambientes que ainda limitam a igualdade
de oportunidades e o exercício pleno da cidadania.
No que diz respeito à dimensão social do auto-
conceito, as categorias "amor", "amigo" e "empá-
tico" parecem reetir uma percepção positiva dos
participantes sobre suas habilidades sociais e re-
lações interpessoais. Esse achado é particularmen-
te relevante, considerando que o apoio social se
destaca como um importante fator de proteção ao
bem-estar de pessoas LGBTQIA+ (Campos, 2015).
Em complemento, um estudo de McConnell et al.
(2015), realizado com 232 jovens LGBTQIA+, revela
que o apoio social — especialmente o apoio fa-
miliar possui uma correlação signicativa com a
saúde mental, reforçando o papel fundamental das
redes de apoio na mitigação dos impactos negati-
vos de estressores externos. Esses relacionamentos
de apoio e aceitação contribuem não apenas para o
fortalecimento do autoconceito, mas também para
a promoção de uma saúde mental mais estável e
positiva, enfatizando a importância da conexão e
da empatia na construção de uma identidade sau-
dável para pessoas LGBTQIA+.
Em contrapartida às características discutidas
anteriormente, termos como "solitário", "medo",
"ansioso", "inseguro", "sofrimento", "triste" e "tími-
do" reetem sentimentos e estados emocionais
que podem gerar impactos psicossociais negativos,
especialmente no que diz respeito à saúde mental
e à socialização de pessoas LGBTQIA+. Essas ca-
racterísticas muitas vezes indicam experiências de
vulnerabilidade e estresse psicológico, resultantes
de discriminação e exclusão. O isolamento social e
a insegurança em revelar aspectos importantes da
própria identidade podem intensicar essas sen-
sações, contribuindo para o desenvolvimento de
condições como ansiedade e depressão.
Nesse sentido, um estudo de revisão integrativa
realizado por Francisco et al. (2020) aponta que a
população LGBTQIA+, quando comparada aos he-
terossexuais, apresenta maior risco para transtor-
nos de saúde mental, dentre eles a ansiedade e
depressão. De acordo com os autores, os sintomas
de ansiedade estão relacionados com a vergonha
e o comportamento evitativo dessa população, de-
corrente da discriminação e a ausência de apoio
social e familiar.
Em outro estudo, conduzido por Guimarães et
al. (2019), jovens homoafetivos revelaram sentir
receio de falar abertamente sobre sua orientação
sexual com familiares, por medo da rejeição, violên-
cia, perder o suporte nanceiro ou causar conitos
entre os pais. Por conta disso, alguns optaram por
se afastar da família, a m de poder vivenciar a ho-
Autoconceito e representações sociais de suas vivências LGBTQIA+
Actualidades en Psicología, 38(137), 2024.
114
INICIO MÉTODO RESULTADOS DISCUSIÓN REFERENCIAS
moafetividade. Os participantes relataram ainda se
sentir inseguros em revelar sua orientação sexual a
amigos, por medo de perderem sua amizade. De
acordo com Elmer et al. (2022), essa expectativa
de rejeição e a consequente tentativa de ocultar a
orientação sexual, pode levar ao retraimento e isola-
mento social. Em consonância com essa armação,
em um estudo de metanálise realizado por Gorc-
zynski e Fasoli (2021), representantes de minorias
sexuais apresentaram indicativos de solidão mais
elevados quando comparados aos heterossexuais.
Em complemento, estudos apontam que a so-
lidão e isolamento social entre pessoas LGBTQIA+
estão associados a níveis inferiores de saúde mental
e física (Eres et al., 2021; Araújo, 2022). Dessa for-
ma, é importante pesquisar estratégias que visem
a integração social de pessoas LGBTQIA+. Araújo
(2022), ao tratar sobre os aspectos biopsicossociais
da velhice LGBT+, salienta que a comunidade LGB-
TQIA+ exerce importante papel no enfrentamento
do isolamento social e solidão vivenciadas por esse
grupo, oferecendo redes de apoio e espaços de
acolhimento que contribuem para um envelheci-
mento mais saudável.
Em linhas gerais, as categorias que compõem o
núcleo central e o sistema periférico indicam que
os participantes possuem representações que po-
dem ser compreendidas como positivas acerca de
si mesmos, o que sugere um autoconceito saudá-
vel. A representação positiva da identidade LGBT-
QIA+ como uma expressão saudável e aceitável é
importante para essa construção, contribui para a
aceitação da própria identidade e fortalece a sen-
sação de pertencimento. Ao relacionar esses acha-
dos com as vivências compartilhadas pelo grupo de
pertencimento dos participantes, observa-se que a
presença de fatores de proteção (tanto individuais
quanto do meio) pode atuar como moderadores
em um ambiente marcado pela discriminação e
preconceito. Tais fatores de proteção, como a rede
de apoio familiar e social e a inserção em contextos
armativos, desempenham um papel fundamental
na manutenção de um autoconceito positivo diante
das adversidades sociais, permitindo que os indiví-
duos transitem de maneira mais segura e conante.
Entretanto, a predominância de traços associa-
dos a um autoconceito positivo não implica que
os estressores adicionais a que estão submetidas
pessoas LGBTQIA+ não possuem reverberações
mais amplas sobre o autoconceito dos membros
desse grupo. Nesse sentido, algumas das pala-
vras evocadas após a apresentação do estímulo
indutor “Eu mesmo” se referem a características e
sentimentos negativos, associados a um autocon-
ceito fragilizado. Isso pode reetir as experiências
de discriminação, rejeição social e estigmatização,
que frequentemente marcam as vivências de pes-
soas LGBTQIA+. Assim, embora traços positivos de
autoconceito estejam presentes, a internalização de
atitudes sociais negativas e o enfrentamento contí-
nuo de preconceitos podem, eventualmente, minar
a visão que esses indivíduos têm de si mesmos.
Os resultados deste artigo fornecem contri-
buições relevantes para a melhor compreensão
acerca dos fatores implicados na construção de um
autoconceito positivo de pessoas LGBTQIA+. No
contexto da psicologia clínica, os achados sugerem
a importância de intervenções que promovam a
aceitação e valorização da identidade LGBTQIA+,
criando espaços de acolhimento que mitiguem os
efeitos de estressores como o preconceito e a ho-
mofobia internalizada. Na psicologia do desenvolvi-
mento, destacam-se a necessidade de abordagens
que favoreçam a construção de uma autoimagem
positiva em jovens LGBTQIA+, oferecendo modelos
de apoio e pertencimento que validem sua identi-
dade ao longo da vida. Do ponto de vista socioló-
gico, a promoção de representações sociais arma-
tivas sobre a identidade LGBTQIA+ pode impactar
positivamente a percepção e aceitação coletiva. Isto
contribui para uma sociedade que apoie o bem-es-
tar das minorias sexuais e favoreça a inclusão. Isso
inclui fortalecer as redes comunitárias e ampliar a
visibilidade de discursos armativos, gerando um
contexto mais inclusivo e menos estigmatizante.
Autoconceito e representações sociais de suas vivências LGBTQIA+
Actualidades en Psicología, 38(137), 2024.
115
INICIO MÉTODO RESULTADOS DISCUSIÓN REFERENCIAS
Além disso, os resultados também evidenciam
as consequências negativas do estresse minoritário
e da homofobia internalizada sobre o autoconceito
de pessoas LGBTQIA+, destacando suas implicações
psicossociais prejudiciais. Na psicologia clínica, isso
ressalta a necessidade de abordagens terapêuticas
que ajudem os indivíduos a ressignicar pensamen-
tos autodepreciativos e internalizados, desenvol-
vendo estratégias de enfrentamento para mitigar
os impactos da LGBTfobia. Na psicologia do desen-
volvimento, os dados apontam para a importância
das intervenções preventivas para apoiar os jovens
LGBTQIA+, ajudando-os a lidar com a discrimi-
nação e a fortalecer um autoconceito saudável. Já
no campo social, a compreensão das desvantagens
do estresse minoritário reforça a necessidade de
políticas e ações sociais que combatam o estigma
e promovam ambientes inclusivos. Isto permitiria
que pessoas LGBTQIA+ se desenvolvam plenamen-
te e sem as pressões do preconceito, criando uma
sociedade mais inclusiva e protetora do bem-estar
das minorias sexuais.
Quanto as limitações apresentadas pelo estudo,
observa-se que, devido a coleta de dados ter sido
realizada de forma exclusivamente online, pessoas
brasileiras que não possuem acesso à internet não
foram alcançadas pela pesquisa. Tal fato reete ain-
da na composição da amostra, que, como pode
ser observado, foi constituída majoritariamente por
pessoas jovens que cursam ou já concluíram o en-
sino superior. Além disso, a amostra pode ter sido
afetada por um viés de autosseleção, uma vez que
a participação na pesquisa foi voluntária e depen-
dente do interesse do indivíduo. Esse viés pode ter
inuenciado os resultados, pois pessoas com maior
disposição para responder a pesquisas online po-
dem ter características ou opiniões distintas em re-
lação à população geral.
A despeito das limitações, espera-se que o estudo
possa contribuir para as discussões acerca da temáti-
ca, como também para subsidiar o desenvolvimento
de programas e estratégias que visem a promoção
de um autoconceito saudável entre pessoas LGBT-
QIA+. Sugere-se que em futuras pesquisas, além da
TALP, sejam utilizadas perguntas abertas referentes
a forma como pessoas LGBTQIA+ representam a si
mesmas, a m de que esses dados possam com-
plementar os obtidos, proporcionando um material
ainda mais amplo e rico para a discussão.
Ademais, é importante destacar que a comunida-
de LGBTQIA+ abrange uma diversidade de grupos
como: gays, lésbicas, bissexuais, assexuais, pessoas
trans e travestis, cada um dos quais enfrenta es-
tressores especícos ligados a identidades e vivên-
cias próprias. Dessa forma, estudos futuros podem
aprofundar-se nas representações sociais, desaos
e particularidades de cada grupo, reconhecendo a
complexidade e a diversidade de experiências que
compõem essa comunidade mais ampla. Tal abor-
dagem permitirá uma compreensão mais sensível e
abrangente do autoconceito e das formas de enfren-
tamento desenvolvidas por esses indivíduos frente a
contextos de discriminação e marginalização.
Referências
Abric, J. C. (2003). Abordagem estrutural das represen-
tações sociais: desenvolvimentos recentes. Em P. H.
F. Campos & M. C. Loureiro. (Eds.), Representações
Sociais e prática educativas (pp. 37-57). UCG.
Antunes, P. P. S. (2017). Homofobia internalizada: o precon-
ceito do homossexual contra si mesmo. Annablume.
Araújo, L. F. (2022). Desaos da Gerontologia frente à vel-
hice LGBT: aspectos psicossociais. Em E. V. De Freitas
& L. Py (Orgs.). Tratado de Geriatria e Gerontologia
(Vol. 1, 5a ed., pp. 1331-1335). Guanabara Koogan.
Bulgarelli, L., & Fontgaland, A. (2019). Violência contra
LGBTs+ nos contextos eleitoral e pós-eleitoral. Gê-
nero e Número. http://violencialgbt.com.br/da-
dos/190321_relatorio_LGBT_V1.pdf
Campos, L. S. (2015). O bem-estar de homossexuais:
associações com o apoio social familiar, resiliên-
cia, valores e religiosidade [Dissertação de Mes-
trado, Universidade Federal do Espírito Santo].
Repositório UFES. https://dspace4.ufes.br/items/
91b6f399-af7c-48ee-8637-e63ebb72d0
Autoconceito e representações sociais de suas vivências LGBTQIA+
Actualidades en Psicología, 38(137), 2024.
116
INICIO MÉTODO RESULTADOS DISCUSIÓN REFERENCIAS
Casali, J. P., & Gonçalves, J. P. (2019). População LGBT em
âmbito escolar: preconceitos e discriminações x di-
reito à educação e cidadania. Itinerarius Reectionis,
15(1), 1-18. https://doi.org/10.5216/rir.v15i5.55095
De Vries, B., Gutman, G., Humble, Á., Gahagan, J.,
Chamberland, L., Aubert, P., Fast, J., & Mock, S.
(2019). End-of-life preparations among LGBT ol-
der Canadian adults: The missing conversa-
tions. The International Journal of Aging and Hu-
man Development, 88(4), 358-379. https://doi.
dx.org/10.1177/0091415019836738
Elmer, E. M., Van-Tilburg, T., & Fokkema, T. (2022). Mi-
nority stress and loneliness in a global sample of
sexual minority adults: The roles of social anxiety,
social inhibition, and community involvement. Ar-
chives of Sexual Behavior, 51, 2269-2298. https://
doi.org/10.1007/s10508-021-02132-3
Eres, R., Postolovski, N., Thielking, M., & Lim, M. H. (2021).
Loneliness, mental health, and social health indi-
cators in LGBTQIA+ Australians. American Jour-
nal of Orthopsychiatry, 91(3), 358-366. https://doi.
org/10.1037/ort0000531
Francisco, L. C. F. D. L., Barros, A. C., Pacheco, M. D. S.,
Nardi, A. E., & Alves, V. D. M. (2020). Ansiedade em
minorias sexuais e de gênero: uma revisão integra-
tiva. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 69(1), 48-56. ht-
tps://doi.org/10.1590/0047-2085000000255
García, J. F., Musitu, G., Riquelme, E., & Riquelme, P. A.
(2011). A conrmatory factor analysis of the Auto-
concepto Forma 5” Questionnaire in young adults
from Spain and Chile. The Spanish Journal of Psy-
chology, 14(2), 648-658. https://doi.org/10.5209/
rev_SJOP.2011.v14.n2.13
Gastaldi, A. B. F., Mott, L., Oliveira, J. M. D., Ayres, C. L.
S, Souza, W. V. F., & Silva, K. V. C. (2021). Relatório:
observatório de Mortes Violentas de LGBTI+ no Bra-
sil - 2020. Editora Acontece Arte e Política LGBTI+/
Grupo Gay da Bahia. https://static.poder360.com.
br/2021/05/Observatorio%E2%80%90de%E2%80%-
90Mortes%E2%80%90Violentas%E2%80%-
90de%E2%80%90LGBTI-13mai2021.pdf
Guimarães, A. N., Marqui, G. D. S., Brum, M. L. B., Ven-
druscolo, C., Werner, J. M., & Zanatta, E. A. (2019).
Narratives of young people on same-sex relations-
hips about their path and implications for mental
health. Escola Anna Nery, 23(1), e20180240. https://
doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2018-0240
Jodelet, D. (2001). Representações sociais: um domínio
em expansão. Em D. Jodelet (Ed.), As representações
sociais (pp. 17-44). UERJ.
Lynch, G. (2020). La investigación de las representaciones
sociales: enfoques teóricos e implicaciones meto-
dológicas. Red Sociales. Revista del Departamento
de Ciencias Sociales, 7(1), pp. 102-118. https://ri.unlu.
edu.ar/xmlui/handle/rediunlu/1778
McConnell, E. A., Birkett, M. A., & Mustanski, B. (2015). Typo-
logies of social support and associations with mental
health outcomes among LGBT youth. LGBT Health,
2(1), 55-61. https://doi.org/10.1089/lgbt.2014.0051
Menezes, M. S., Oliveira, A. C., & Nascimento, A. P. L. (2018,
11-13 de abril). LGBT e mercado de trabalh90o: uma
trajetória de preconceitos e discriminações [Sessão
de conferência]. I Conferência Internacional de Es-
tudos Queer (ConQueer), Sergipe, Brasil. https://
editorarealize.com.br/artigo/visualizar/40228
Myers, D. (2014). Psicologia Social (10ma ed.). Artmed
Editora.
Gorczynski, P., & Fasoli, F. (2021). Loneliness in sexual
minority and heterosexual individuals: a compara-
tive meta-analysis. Journal of Gay & Lesbian Mental
Health, 26(2), 112-129. https://doi.org/10.1080/1935
9705.2021.1957742
Paveltchuk, F. O., Borsa, J. C., & Damásio, B. F. (2019). In-
dicadores de bem-estar subjetivo e saúde mental
em mulheres de diferentes orientações sexuais.
Psico, 50(3), e31616. https://doi.org/10.15448/1980-
8623.2019.3.31616
Paveltchuk, F. O., & Borsa, J. C. (2020). A teoria do es-
tresse de minoria em lésbicas, gays e bissexuais.
Revista da SPAGESP, 21(2), 41-54. https://pepsic.
bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S1677-29702020000200004
Autoconceito e representações sociais de suas vivências LGBTQIA+
Actualidades en Psicología, 38(137), 2024.
117
INICIO MÉTODO RESULTADOS DISCUSIÓN REFERENCIAS
Reis, T. (2018). Manual de comunicação LGBTI+. Curitiba,
PR: Aliança Nacional LGBTI/GayLatino.
Roberts, L. M., & Christens, B. D. (2021). Pathways to
well-being among lgbt adults: Sociopolitical invol-
vement, family support, outness, and community
connectedness with race/ethnicity as a moderator.
American Journal of Community Psychology, 67(3-
4), 405-418. https://doi.org/10.1002/ajcp.12482
Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucio-
nalidade por Omissão - ADO 26. 13 de junho de
2019. http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNo-
ticiaStf/anexo/tesesADO26.pdf
Tajfel, H. (1981). Grupos humanos e categorias sociais. Li-
vros Horizonte.
Wachelke, J., & Wolter, R. (2011). Critérios de construção
e relato da análise prototípica para representações
sociais. Psicologia: Teoria e pesquisa, 27(4), 521-526.
https://doi.org/10.1590/S0102-37722011000400017
Wachelke, J., Wolter, R., & Matos, F. R. (2016). Efeito do
tamanho da amostra na análise de evocações para
representações sociais. Liberabit, 22(2), 153-160.
http://www.scielo.org.pe/scielo.php?script=sci_art-
text&pid=S1729-48272016000200003