e-Ciencias de la información
Volumen 13, número 2: julio-diciembre 2023
DOI: https://doi.org/10.15517/eci.v13i2.53038
Ansiedade
de informação: efeitos no comportamento informacional de estudantes em
mobilidade acadêmica no exterior
Information anxiety: effects on the
informational behavior of academically mobile students abroad
Ansiedad
informativa: efectos sobre el
comportamiento informativo de los
estudiantes en movilidad académica en el extranjero
Marta
de Oliveira. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, BRASIL.
e-mail: marta_deoliveira@outlook.com,
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9339-885X
Maurício
de Vargas Corrêa. Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, BRASIL. e-mail: mauricio.correa@ufrgs.br,
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8377-0937
Sonia
Elisa Caregnato. Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, BRASIL. e-mail: sonia.caregnato@ufrgs.br.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5676-2763
Resumo
Busca identificar se o excesso de
informação afeta o comportamento informacional e causa algum efeito de
ansiedade informacional em graduandos de duas universidades brasileiras em
mobilidade acadêmica no exterior. Um estudo de campo exploratório foi realizado
com quinze estudantes de graduação que estudavam no exterior. Os resultados
apontam que o perfil típico dos participantes é constituído por jovens do sexo
feminino, cursando Direito em instituição de ensino superior privada, que
escolheu Portugal para realização da mobilidade acadêmica e buscava o
conhecimento de novas culturas e o desenvolvimento pessoal e profissional.
Quanto à busca de informação, a maioria faz uso da internet, dos sites de redes
sociais e da consulta aos amigos. As dificuldades apontadas ao realizar a busca
têm relação com o acesso e a confiabilidade das fontes encontradas. A maioria
declara ter desconforto em relação à biblioteca, além de acreditar que a
mudança de país influencia na maneira de pesquisar. O grande volume de informação
disponível na internet é visto como um auxílio na tomada de decisão, mas os
preocupa quanto à segurança e veracidade da informação. Os estudantes reconhecem
que o excesso de informação interfere no rendimento, memória e concentração.
Muitos apresentam comportamento indicativo de que lidar com a informação causa
desconforto, incerteza e até mesmo sintomas físicos e psicológicos, como
estresse, queda de rendimento, alteração de humor. A maioria acredita que o
excesso de informação é a principal causa da ansiedade de informação, porém as
preocupações referentes às despesas, à distância da família e à forma de
avaliação nas instituições de destino afetam o seu comportamento. Conclui-se
que o excesso de informação afeta o comportamento informacional e causa efeitos
da ansiedade de informação no grupo estudado e que o desconforto durante a
busca é reflexo do seu desconhecimento das fontes de informação mais adequadas
para cada área.
Palavras-chave:
ansiedade de informação; comportamento informacional; mobilidade acadêmica; estudante
internacional.
Abstract
The study seeks
to identify whether the excess of information affects the informational
behavior of undergraduate students from two Brazilian universities who are in
academic mobility programs and whether it causes them any form of informational
anxiety. The work is characterized as an exploratory field study with the
application of a questionnaire with open and closed questions to fifteen
undergraduate students who were studying abroad. The results indicate that the
typical profile of the research participants consists of a young female,
studying Law in a private higher
education institution, who chose Portugal to carry out academic mobility, and
who seeks experiences of new cultures and personal and professional
development. As for information searching, most students make use of the
internet, social networking sites, in addition to consulting friends. The difficulties
pointed out by them are related to the access and reliability of the sources
found. Most subjects declare to feel discomfort in relation to the library,
besides believing that the change of country influences the way of researching.
The large volume of information available on the internet is seen as an aid to
decision making but concerns them about the security and veracity of the information.
The students acknowledge that this excess of information interferes with
performance, memory, and concentration, as it is difficult to deal with a large
amount of information having little time available to perform tasks, whether
daily or academic. Many students present some behavior indicating that dealing
with information causes discomfort, uncertainty, and even physical and
psychological symptoms, such as stress, decreased performance, mood swings, among others. Most
of them believe that information excess is the main cause of information
anxiety, however concerns about being in another
country, worries about expenses, distance from family and assessments affect
their behavior. It is concluded that the excess of information affected information
behavior and caused effects of information anxiety in the group of respondents,
and that the discomfort during searching reflected students' lack of knowledge
of the most appropriate information sources of information for each area.
Keywords: information
anxiety; informational behaviour; academic mobility;
international student.
Resumen
Busca identificar si
la sobrecarga de información
afecta al comportamiento
informativo y provoca efectos de ansiedad
informativa en estudiantes
de dos universidades brasileñas en
movilidad académica en el extranjero. Se realizó un estudio
de campo exploratorio con quince estudiantes universitarios que estudian en el extranjero.
Los resultados señalan que el
perfil típico de los sujetos
se compone de mujeres jóvenes, que estudian derecho en una institución privada de enseñanza
superior, que eligieron Portugal para la movilidad académica y buscaron el conocimiento
de nuevas culturas y el desarrollo personal y profesional. En cuanto a la búsqueda
de información, la mayoría recurre a Internet, a las redes sociales y a la consulta de amigos. Las dificultades señaladas en la búsqueda
están relacionadas con el acceso y la
fiabilidad de las fuentes encontradas. La mayoría
declara tener malestar en relación con
la biblioteca, además de creer que el cambio de país influye en la
forma de buscar. El gran volumen
de información disponible en Internet se considera una ayuda
para la toma de decisiones,
pero les preocupa la seguridad y la veracidad de la información. Los estudiantes reconocen que un exceso de información
interfiere en su rendimiento, memoria y concentración. Muchos presentan comportamientos que indican que el tratamiento de la información provoca malestar, incertidumbre e incluso síntomas
físicos y psicológicos, como estrés, disminución del rendimiento, cambios de humor. La
mayoría cree que la sobrecarga de información es la principal causa de la ansiedad por la información, sin embargo, la preocupación por los gastos, la distancia
de la familia y la forma de evaluación en las instituciones
de destino afectan a su comportamiento. Se concluye que la sobrecarga de información afecta al comportamiento
informativo y provoca efectos de ansiedad
informativa en el grupo estudiado y que el malestar durante la búsqueda es un reflejo de su desconocimiento
de las fuentes de información más adecuadas para
cada área.
Palabras
clave: ansiedad informativa; comportamiento
informativo; movilidad académica; estudiante
internacional.
Data
de entrada: 02 nov, 2022
Data
de correção: 21 fev, 2023
Data
de aceitação: 15 mar, 2023
O papel das universidades públicas e privadas é a formação
profissional e científica de seus alunos. Uma maneira de oferecer formação
diferenciada e que leve os estudantes a novas experiências acadêmico-científicas,
culturais e sociais é a mobilidade acadêmica para o exterior. A mobilidade
acadêmica ou intercâmbio estudantil, oferecida periodicamente por meio de
convênios com instituições de ensino estrangeiras ou editais de programas de
bolsas de estudo no exterior, se tornou um desejo e uma possibilidade mais
acessível do que há algumas décadas devido à oferta de bolsas de estudo[1]
e aos convênios entre as instituições brasileiras e estrangeiras.
Com a evolução e a apropriação tecnológica, o volume de informações
a que se tem acesso é vasto, gerando uma espécie de sobrecarga de informações.
O excesso de informações pode se tornar um empecilho na realização de
determinadas atividades, já que a abundância informacional promove mudanças no
comportamento de busca, seleção e uso da informação. As dúvidas sobre o que é
necessário e importante, o que é confiável e o que deve ser usado trazem inquietação
e incerteza, que são características da ansiedade, caracterizada por ser um:
Sentimento
de impotência e incapacidade de enfrentar eventos ameaçadores, caracterizados
pelo predomínio da tensão física. Ela se manifesta diante de qualquer ameaça
percebida, seja ela fisicamente real, psicologicamente irritante ou mesmo
imaginária. Cientificamente, a ansiedade é conceituada como uma resposta de
luta ou fuga. (Consuegra Anaya,
2010, p. 22).
É importante mencionar que assim como a quantidade
demasiada de informação, a fata dela também pode ser fato causador da ansiedade
informacional.
O comportamento informacional tem início a partir de uma
necessidade de informação e engloba os processos de busca e o uso da informação
(Wilson, 2000).
As necessidades de informação surgem de fatores externos, representados pelo
ambiente em que o participante está inserido, e de fatores internos, que são as
experiências, o conhecimento ou falta deste, bem como as habilidades de cada
pessoa (Calva González, 2004). De acordo com Choo
(2006), as necessidades podem ser compreendidas ao mesmo tempo como cognitivas
e emocionais, sendo que as últimas quase sempre levam à busca de informações.
MacMullin e
Taylor (1984, p. 98, tradução nossa) afirmam que “[...] cada ambiente de uso da
informação tem um tipo diferente de problema, gerado por seu ambiente
particular e pelas exigências de sua profissão, ocupação ou estilo de vida.”
Dessa forma, pode-se considerar que o comportamento de busca é influenciado
pelo ambiente e que as atitudes de participantes que pertencem a um mesmo grupo
tendem a ser semelhantes. Outro componente do comportamento informacional é a seleção
ou escolha das fontes de informação que serão usadas para solucionar um
determinado problema. O uso ocorre quando o participante já buscou e selecionou
a informação para então utilizá-la. É através do uso que se pode suprir a
necessidade de informação.
A ansiedade de informação é definida por Wurman (1991, p. 38) como “[...] o resultado da distância
cada vez maior entre o que compreendemos e o que achamos que deveríamos
compreender. É o buraco negro que existe entre dados e conhecimento, e ocorre
quando a informação não nos diz o que queremos ou precisamos saber.” Alves,
Bezerra e Sampaio (2015) explicam que a ansiedade de informação é o resultado
da confusão entre o que achamos que deveríamos saber com aquilo que realmente
deveríamos apreender. A sobrecarga de informação e o excesso de informação
podem ser alguns dos fatores que levam à ansiedade de informação.
Segundo Oliveira (2011), a ansiedade de informação, causada
pela explosão informacional, tem efeitos expressivos sobre a concentração, a
produtividade e a memorização dos estudantes. Alves, Bezerra & Sampaio
(2015), por sua vez, se referem à “normose” como uma das consequências da
ansiedade de informação que podem trazer danos à sociedade.
Diante desse cenário, o presente estudo se propõe a entender
o comportamento informacional dos estudantes de graduação de uma universidade
pública e de uma privada do estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em mobilidade
acadêmica no exterior diante do excesso de informação e da ansiedade
informacional. Buscou-se, especificamente, investigar como estes estudantes
buscam, selecionam e usam a informação; averiguar se o excesso de informação
interfere na satisfação quanto à busca e ao uso da informação e identificar
manifestações de ansiedade informacional causadas pelo excesso de informação.
Para tanto foi elaborado o seguinte problema de pesquisa: Como
o excesso de informação afeta o comportamento informacional dos graduandos em
mobilidade acadêmica no exterior? Isso gera alguma manifestação da ansiedade de
informação nestes sujeitos?
O estudo se diferencia de outros trabalhos por investigar o
comportamento informacional de um grupo de estudantes que não apenas teve que
enfrentar barreiras acadêmicas durante a sua graduação, mas também a mudança de
país e a vivência de uma cultura e costumes diferentes, o que poderia gerar
ansiedade, além de alterar as suas percepções e práticas cotidianas.
Este estudo se caracteriza
como uma pesquisa descritiva com métodos mistos. O método qualitativo foi utilizado
para coletar e interpretar a opinião de cada estudante participante e os dados
quantitativos para traçar o seu perfil. Trata-se
de um estudo de campo cujos participantes foram graduandos de diversos cursos de
uma Instituição de Ensino Superior (IES) pública e de uma privada do estado do
Rio Grande do Sul, Brasil, em mobilidade acadêmica no exterior. Os estudantes
foram identificados através das listas de selecionados para mobilidade
acadêmica no exterior dos editais de 2016/2 publicados pelas instituições
escolhidas para o estudo. Foram identificados 30 alunos selecionados pelas IES,
sendo doze alunos da IES pública e dezoito alunos da IES privada. Como instrumento de coleta de dados, utilizou-se
um questionário composto por vinte e quatro questões abertas e fechadas
(objetivas e de múltipla escolha) construídas com base na literatura.
O questionário eletrônico, desenvolvido com a ferramenta Google Docs,
foi enviado aos graduandos identificados nos editais por
meio de uma rede social. Foram contatados vinte e três graduandos, sendo dez
alunos da IES pública e treze alunos da IES privada. Responderam ao
questionário quinze graduandos, sendo seis alunos da IES pública e novo alunos
da IES privada. O questionário foi respondido no período de cinco a 25 de abril
de 2017. Após a aplicação
dos questionários, foi realizada a codificação e a categorização do conteúdo abordado.
O uso do método de codificação e categorização foi necessária, tendo em vista
que os dados coletados foram tanto qualitativos, quanto quantitativos e de
acordo com Flick
(2009) é uma das formas mais destacadas usadas para analisar métodos não
especificados. A fim de não terem suas identidades divulgadas,
os participantes foram codificados como G1, para o graduando 1, G2, para o graduando
2 e assim sucessivamente, já as questões foram categorizadas em uma planilha de
Excel e realizada a tabulação dos dados coletados, a fim de analisar as
respostas quantitativas em geral e as qualitativas de forma individualizada afim
de traçar o perfil dos participantes do estudo.
Por meio da análise e
interpretação dos dados foi possível chegar a considerações diante do problema
de pesquisa.
Para
analisar os dados, primeiro foi traçado um perfil dos sujeitos da pesquisa,
para em seguida apresentar a análise das questões relativas ao comportamento
informacional, ao excesso de informação e a ansiedade informacional.
De
acordo com Wilson e Walsh (1996), variáveis demográficas como idade, sexo, entre outros fatores, influenciam o
comportamento informacional. Dessa forma, um dos objetivos da pesquisa foi traçar o perfil
dos estudantes que participaram do estudo. Dos quinze graduandos em mobilidade acadêmica
no exterior participantes da pesquisa, treze (86,3 %) tinham entre vinte e um e
vinte e cinco anos de idade, sendo que dois (13,3 %) tinham entre dezoito e vinte
anos. Em relação ao sexo, nove (60 %) participantes eram do sexo feminino e seis
(40 %) do sexo masculino.
Em relação à instituição de
ensino de origem dos graduandos, nota-se que a maioria era proveniente da IES privada,
o que correspondeu a 60 % dos participantes da pesquisa. Eles eram
estudantes dos cursos de Música, Teatro, Ciências Sociais, Direito, Engenharia Química,
Produção Audiovisual e Psicologia. O curso que teve mais alunos em mobilidade acadêmica foi o de Direito,
com nove graduandos. Também foram identificados na pesquisa outros seis cursos,
todos com um graduando participante cada.
Dos quinze participantes da pesquisa,
sete estavam realizando a mobilidade acadêmica em Portugal, três na Espanha, dois
no Canadá, um na Alemanha, um no México e um na Suécia. Pode-se observar que
quase a metade dos participantes do estudo optou por realizar a mobilidade
acadêmica em um lugar com o mesmo idioma de seu país de origem. Os resultados
se assemelham em parte aos encontrados no estudo realizado por Bett (2012), no qual Portugal foi apontado como o país
preferido para a realização dessa modalidade de ensino acadêmico por 32 % dos participantes
da pesquisa.
Quanto às IES em que a
mobilidade acadêmica estava sendo realizada, a Universidade de Lisboa foi a
mais citada pelos participantes, com cinco graduandos, seguida pela
Universidade do Porto, com dois. As demais universidades, que aparecem apenas
uma vez, são: Concordia University of Edmonton (Canadá), Kwantlen Polytechnic University (Canadá), Tübingen Universität (Alemanha), Universidad Autónoma de Madrid (Espanha), Universidad de Jaén (Espanha), Universidad
de Valladolid (Espanha), Universidad Nacional Autónoma
de México (México) e Uppsala University (Suécia).
Dos quinze participantes da pesquisa,
apenas quatro contavam com bolsas de estudos, todas oferecidas anualmente pelo convênio
entre as universidades de origem com o Banco Santander[2], através dos diversos programas de bolsas promovidos
pela instituição, sendo que três deles estavam na Espanha e um no México. Além
do oferecimento regular de bolsas do convênio com o Banco Santander durante o
período, uma possível explicação para a preferência dos estudantes brasileiros por
Portugal pode ter sido a familiaridade com o idioma. Contudo, esse aspecto não
foi analisado na pesquisa.
No que se
refere às motivações que levaram os participantes a realizar a mobilidade
acadêmica no exterior, todos relataram que foram em busca de desenvolvimento
pessoal ou profissional. A troca de conhecimentos e experiências, bem como a
busca por autoconhecimento (amadurecimento) foram apontados por quatorze
estudantes (93,3 %). Já o interesse em conhecer novas culturas foi mencionado
por dez (66,7 %) respondentes. Os motivos indicados por menos de dez participantes
foram a busca por formação integrada (46,7 %) e outras motivações (26,7 %).
Em seu
estudo, Lima e Riegel (2010) apontam motivações de ordem sociocultural, acadêmica,
econômico-comercial e político-administrativo para a mobilidade acadêmica. Os
motivos socioculturais trazidos por esses autores, que se assemelham aos
apontados pelos participantes desta pesquisa, vão desde a:
[...] língua
oficial do país, a proximidade geográfica e cultural entre o país de origem e
de destino, assim como ligações históricas pré-existentes” até a “qualidade
de vida e atratividade cultural existente no país de destino: estabilidade política,
segurança pública, aspectos climáticos, diversidade de ecossistemas, atividades
culturais e turísticas etc. (Lima & Riegel, 2010,
p. 6).
Apenas um participante
indicou um motivo que tem relação com formação acadêmica: G6: “Oportunidade de estudar [curso] em nível de
graduação, o que não é possível na [IES], e acredito que também no resto do Brasil”.
Esse motivo é apontado como um aspecto acadêmico por Lima e Riegel (2010, p. 6): “Limitações
na oferta de programas e cursos no sistema de educação do país de origem.”
Os
graduandos foram questionados sobre onde buscavam informações acadêmicas ou
cotidianas, se utilizavam tudo que encontravam, como escolhiam o que usar e, ainda,
sobre as dificuldades ao realizar a busca, se sentiam desconforto diante dessa
atividade e se a mudança de país interferia na maneira de fazer suas pesquisas.
Com relação
à busca de informação, todos procuravam informações na internet (Google, sites
especializados) e a maioria com os amigos (73,3 %) e nos sites de redes sociais
(60,3 %). O centro de apoio ao estudante da universidade era usado por 33,3 % e
a biblioteca por 26,7 % dos estudantes. Alguns participantes declararam, ainda,
buscar informações em outras fontes (20,0 %), como a consulta a professores,
instituições públicas e colegas, e na instituição de origem (6,7 %).
A procura de
informações na internet também foi mencionada em um estudo, realizado por
Miranda e Alcará (2016), que aborda a busca e o uso
da informação por estudantes dos cursos de Arquivologia e Biblioteconomia de
uma universidade pública do sul do Brasil. As autoras constataram que 76,1 %
dos estudantes do estudo alegaram sempre utilizar a internet para satisfazer
suas necessidades informacionais e 88 % deles utilizavam os sites de busca
frequentemente e sempre.
A baixa procura
pela biblioteca também foi apontada pelo referido estudo: “[...] os
participantes que mais utilizam a biblioteca perfazem menos da metade da
amostra (aproximadamente 39 %), indicando uma frequência baixa da biblioteca
universitária.” (Miranda & Alcará, 2016, p. 103).
Sobre a pouca busca pela biblioteca, é importante considerar a possibilidade de
que os participantes da pesquisa tenham utilizado fontes eletrônicas oferecidas
por uma unidade de informação. Porém, ao responderem a esse questionamento,
pensaram na biblioteca somente como um ambiente físico.
A busca de
informação na internet foi mencionada por 100 % dos participantes desta
pesquisa, enquanto a busca nos sites de redes sociais foi indicada por 60,3 %. O
uso dos recursos eletrônicos e dos sites de redes sociais por alunos de
graduação foi mencionado no estudo de Kim et al. (2011), que apontou que as
mídias sociais estão ficando mais populares entre todas as gerações de
usuários, incluindo alunos de graduação. Tomaél et
al. (2016) também observaram em seu trabalho que as mídias sociais se tornaram
fontes de informação, sobretudo para os nativos digitais, que as utilizam no
dia a dia.
É importante
lembrar que os participantes desta pesquisa tinham idade entre dezoito e vinte
e cinco anos, ou seja, trata-se de uma geração que cresceu em meio à evolução
digital, em que o acesso diário à informação é facilitado principalmente pelas
tecnologias de internet móvel. Assim, parece compreensível que façam amplo uso
dessas fontes.
Outro
resultado importante é que 73,3 % dos participantes da pesquisa declararam buscar
informações com amigos. Como os graduandos estavam em mobilidade acadêmica no
exterior, as informações poderiam ser trocadas entre eles através das redes
sociais. Em um estudo realizado com estudantes de graduação da Michigan State University, nos Estados
Unidos, sobre a relação entre o uso do site de redes sociais Facebook e a
formação e a manutenção do capital social, Ellison, Steinfield e Lampe (2007) constataram que as conexões potencialmente
úteis estabelecidas pelos acadêmicos nessas redes podem se configurar como
fontes valiosas de novas informações e recursos. Outros três participantes (20
%) declararam procurar informações em fontes pessoais, ou seja, com
professores, nas instituições públicas e com os colegas.
O uso da
internet e das mídias sociais, além da consulta aos amigos para buscar informações,
se reflete na resposta dos participantes relativa ao tempo médio utilizado em
suas buscas: seis graduandos (40 %) declararam usar menos de dez minutos; outros
seis (40 %) responderam usar entre dez e trinta minutos, dois disseram necessitar
de quarenta a sessenta minutos em média e apenas um afirmou precisar de mais de
sessenta minutos. Com o acesso à informação facilitado pelo uso das
tecnologias, é compreensível que os participantes utilizem pouco tempo. Outra
explicação é o fato de os participantes terem sido questionados sobre busca para
atividades acadêmicas e cotidianas. Na busca por informações cotidianas, como o
endereço de um restaurante ou de um ponto turístico, por exemplo, poucos
minutos podem ser suficientes.
A fim de compreender
como usavam a informação, os graduandos foram questionados se utilizam toda a
informação que encontram. Dos quinze participantes, nove (60 %) disseram utilizar
tudo que encontram e seis (40 %) afirmaram não utilizar todas as informações. O
fato de a maioria utilizar todas as informações encontradas pode ser
justificado pela pouca idade dos participantes e pouca experiência em pesquisa
à época. Porém, percebe-se que alguns já se preocupavam em seguir critérios de
avaliação e seleção próprios, como a utilidade, a usabilidade e a qualidade da
informação.
Os
estudantes que declararam não utilizar todas as informações, puderam dizer como
selecionavam o que iriam utilizar. As respostas foram diversas e através delas
pode-se perceber que cada graduando usava um critério próprio de avaliação para
realizar a seleção da informação, como poderá ser percebido nas respostas a
seguir: “Fontes confiáveis. Bibliografia,
por exemplo, quase nunca uso de fonte da internet.” (G2); “Escolho as que são
úteis para o que preciso, de maneira que descarto as demais [...].” (G5). O participante G6 comentou que
leva em consideração o que é apresentado e indicado pelo professor em sala de
aula. Já o participante G15 respondeu observar o tempo que tem disponível e
suas capacidades, além de atentar para a questão da autoridade da informação,
que é um critério utilizado para avaliar a qualidade da informação.
Através desses
relatos, é perceptível a preocupação com a confiabilidade e qualidade da informação
selecionada, mesmo com a facilidade e rapidez em acessar a informação pela
internet e pelas redes sociais. Os alunos apresentavam preocupação com as
fontes de informação que iriam usar em suas atividades acadêmicas e para
avaliar essas fontes utilizavam critérios como a autoridade, a utilidade da
informação, a relação com a matéria apresentada em aula, além de suas
possiblidades de conhecimento e tempo. A preocupação com as informações
disponibilizadas na internet para uso acadêmico é frequentemente observada na
literatura, como em Tomaél et al. (2008) e Kim et al.
(2011), por exemplo.
Os
graduandos também foram questionados a respeito das dificuldades que
normalmente acontecem quando buscam por informações acadêmicas e cotidianas.
Diante desse questionamento, apenas cinco (33,3 %) declararam não ter
dificuldades, já dez (66,7 %) participantes afirmaram encontrar dificuldades
durante a busca de informação. No estudo realizado por Miranda e Alcará (2016, p. 106), 57,8 % dos estudantes declararam
encontrar dificuldades às vezes, 25 % raramente, 9,4 % frequentemente, 6,6
% sempre e 1,6 % afirmar nunca encontrar dificuldades durante o processo de
busca. Nota-se que a porcentagem de estudantes que relataram dificuldades na
busca de informações acadêmicas e cotidianas foi similar nos dois estudos.
As dificuldades
apontadas pelos sujeitos estão relacionadas ao acesso aos materiais, à língua, às
fontes de informação e seu funcionamento, à confiabilidade dessas fontes, às
dúvidas na seleção das informações e até mesmo sobre o uso das informações encontradas,
como mostram os depoimentos abaixo:
“Não encontro muita acessibilidade a materiais acadêmicos.” (G1); “Fontes
não confiáveis, ou duvidosas. As informações podem ser falsas, ou imprecisas.”
(G8); “Dificuldade de explicação de funcionamento e de prática.” (G11).
Sinto dificuldade para escolher a informação mais adequada. Existem as
dúvidas: será que estou usando o melhor material? Escolhi certo? Mas, para as
atividades cotidianas, geralmente, a seleção é mais fácil, porém, nas
acadêmicas, as dificuldades parecem maiores. (G15).
De fato, as
dificuldades apresentadas pelos participantes da pesquisa são pontos importantes
a serem considerados. Lopez (2004) atenta para a qualidade da informação diante
do crescente volume de informação disponibilizada na internet e destaca a
necessidade de filtros para minimizar o excesso de informação. As dificuldades
apontadas pelos estudantes podem ser justificadas pelo fato de a maioria ter
declarado realizar as buscas na internet. Muitas vezes a variedade de tipos de
fontes online cria dificuldades para os
usuários.
Além das
dificuldades relativas à busca de informações, os participantes da pesquisa
foram questionados sobre quais fontes de informação que lhes causam mais
desconforto. A biblioteca foi a mais citada pelos participantes (40 %), seguida
da internet (33,3 %), das redes sociais (20 %) e do centro de apoio aos
estudantes (20 %). São lembradas, ainda, a instituição de origem dos participantes
(13,3 %), outras fontes (13,3 %) e os amigos (6,7 %).
Como afirmado
anteriormente, tanto a dificuldade quanto o desconforto em relação às fontes de
informação pode ser devido à quantidade de informação e à dificuldade em selecionar
materiais de qualidade. Para Otelo (2006), o problema fundamental é o de
selecionar, no imenso estoque de informações atualmente existente, aquelas que
têm qualidade. Um
aspecto importante que se pode observar é que a biblioteca aparece de forma
negativa nas respostas à questão. Como essa fonte foi apontada como uma das
menos utilizadas na busca de informações, pode-se inferir que o pouco uso da
biblioteca estaria relacionado ao desconforto sentido pelos participantes em
relação a esse ambiente.
Outros
estudos de comportamento informacional já apontaram esse desconforto em relação
à biblioteca. Casarin e Oliveira (2012), em seu estudo sobre o uso da informação no âmbito acadêmico,
observaram que fatores ambientais, como a falta de tempo e sensação de
desconforto durante a permanência na biblioteca, devido a suas características,
influenciam no comportamento de busca dos usuários. Wilson e Walsh (1996) já
traziam a ideia que as variáveis ambientais podem interferir no processo de
busca.
Também é
relevante salientar que o uso crescente das tecnologias de informação e comunicação,
aliado ao grande volume de recursos eletrônicos disponível na internet, cujo
acesso é provido muitas vezes pelas bibliotecas e instituições mantenedoras, são
fatores que podem exercer influência sobre o uso da biblioteca para atividades
que anteriormente ocorriam principalmente no ambiente físico da unidade de informação,
como a busca na web, a consulta em bases de dados e o acesso a documentos eletrônicos,
por exemplo.
Outra
questão apresentada aos participantes é se a mudança de país poderia influenciar
o comportamento de busca, devido aos novos costumes e cultura, e porque, na
opinião deles, isso interferiria ou não. A maioria dos participantes acreditava
que a mudança de país interferia na maneira como buscam a informação. Os participantes
justificaram suas respostas de diferentes maneiras. O participante G1 declarou que
esta mudança é devido a estar “longe da
zona de conforto”. Já o participante G4 justificou sua resposta pelo fato
de “enxergar o mundo de outra forma”.
O idioma também foi apontado como um fator que influencia o comportamento de
busca, como pode ser percebido nas respostas abaixo:
“Principalmente porque é em outro idioma que as informações que você
buscar vão chegar até você. E isso já é uma mudança enorme.” (G5); “Se pode
buscar informações qualificadas na língua desse outro país, ou seja, ampliar as
possibilidades de fontes de informação.” (G8).
É importante
mencionar que o comportamento de colegas de universidade pode servir como
exemplo aos demais estudantes e influenciar a maneira pela qual se busca a
informação, como pode ser percebido a seguir:
Não sei exemplificar exatamente o motivo, pois estou há dois meses na
Espanha, mas acredito que ver meus colegas sempre com uma grande quantidade de
livros e sempre indo na biblioteca me inspira a fazer mais isso, o que no
Brasil não era tão comum. (G6).
Outros aspectos
culturais também foram apontados como fatores que influenciavam o comportamento
de busca. Esses fatores estavam relacionados com o trato que os moradores
locais tinham em relação a eles, mas também acerca das regras locais sobre a
divulgação da informação, como pode ser percebido nas respostas abaixo:
“Porque a forma de tratamento entre os sujeitos se altera com a cultura.
Por exemplo, em Portugal a formalidade é maior e as pessoas são menos dispostas
a te prestar informações pessoalmente.”(G13);
“Alguns sites são bloqueados, a maneira que a informação é exposta é
diferente, as vezes não há tanto conteúdo.” (G14).
Já aqueles
que declararam acreditar que a mudança de país não altera o comportamento de
busca afirmaram que isso acontece devido à globalização proporcionada pela
internet, que os faz sentirem-se confortáveis, independentemente do país em que
se encontram. Porém, percebe-se pelas respostas dos participantes que relataram
acreditar que a mudança de país influencia no comportamento de busca que a globalização
trazida pela internet não é algo que responde de maneira integral às
necessidades que surgem quando se vai para um lugar que possui cultura e
costumes diferentes do lugar de origem.
A fim de
compreender se o excesso de informação interferia na satisfação quanto à busca
e ao uso da informação, os participantes foram questionados sobre o volume de informação
disponibilizado na internet e se isso prejudicava ou auxiliava na tomada de
decisão em suas atividades, sejam estas cotidianas ou acadêmicas.
A maioria
dos participantes (80 %) acreditava que o volume de informação era um auxílio
na tomada de decisão. Através das respostas, nota-se que os participantes
consideravam o volume de informação como algo positivo pelo fato de se ter um
primeiro contato com aquilo que se busca, ou seja, servir como uma pesquisa de
reconhecimento sobre o assunto que se necessita.
Alguns estudantes
acreditavam que o volume de informação diminuía a dificuldade, tornando o processo
de busca mais fácil. O participante G5 declarou acreditar que o grande volume
de informação em alguns momentos auxilia e em outros prejudica.
O grande volume
de informação também torna-se importante nos casos em
que as fontes de informação especializadas são limitadas, como demonstra a
declaração abaixo:
No caso da musicologia, em especial, auxilia, pois geralmente são poucas
as fontes, e quando temos mais opções acabamos saindo no lucro. Um diferencial
no caso da mobilidade é a oportunidade de ter acesso a uma maior gama de
literatura, que no Brasil é muito escassa. (G6).
Analisando
as respostas, é possível perceber que alguns participantes sentiam-se
confortáveis ao lidar com o grande volume de informação e realizavam uma
seleção para saber o que de fato necessitavam para a tomada de decisão, além de
se preocuparem em utilizar fontes confiáveis, como se observa no relato abaixo:
Existem duas etapas: a de seleção da informação conforme objetivos e
interesses em cada situação; em seguida, a sistematização da informação
encontrada para a tomada de decisões. O volume de informação ajuda, mas se esta
informação vier de fontes confiáveis, reconhecidas, e passar por um processo de
análise (subjetivo) de sua relevância para cada momento. (G8).
O grande
volume de informação disponível na internet representava um auxílio para os
participantes por acreditarem que as possibilidades estavam sendo ampliadas.
Porém, os graduandos também apontaram que é preciso saber selecionar o que se
necessita para cada momento e avaliar as fontes encontradas a fim de utilizar
material de qualidade. Dos respondentes da pesquisa, 20 % acreditavam que a
grande quantidade de informação disponibilizada na internet era prejudicial,
pois para eles era difícil escolher entre as várias opções disponíveis. Esse é
um fator que possui relação com o sentimento de insegurança, pois além de ser
necessário tempo para selecionar a informação é preciso certificação quanto à
confiabilidade da fonte e se realmente será útil para responder ao que se
necessita.
Outro motivo
identificado diz respeito ao acesso e à forma como os países disponibilizam a
informação, além do cuidado com a qualidade, como se pode notar na resposta a
seguir:
Acredito que prejudica, pois, com a enorme quantidade de informações,
acabo me dispersando, demorando para tomar uma decisão. Existem muitas
informações e acabo tendo dificuldades para escolher a informação. Também me
disperso com maior facilidade. Porém, uma quantidade maior de informações
também pode me auxiliar no estudo. Por exemplo, no Brasil, como temos uma
população grande, temos muito material disponível. Em Portugal, com uma
população menor, a quantidade de informações me parece menor. Com menos opções,
pode ser mais difícil encontrar a informação que nos interessa. Todavia, quantidade
não quer dizer qualidade. É importante termos acesso a informações de
qualidade. (G15)
Percebe-se
que a preocupação dos participantes que afirmaram acreditar que o excesso de
informação é prejudicial era em ter acesso a fontes confiáveis e, mesmo assim,
ter certeza de que iriam utilizar informações de credibilidade. Tomaél e Valentin (2004) apontam como um dos critérios para
a avaliação da qualidade das fontes de informação na internet exatamente a
confiabilidade da informação, em que se deve levar em conta a autoridade e a
responsabilidade dos produtores de informação.
Segundo
Bawden e Robinson (2020), a sobrecarga informacional é a situação que acontece
quando o uso efetivo e eficiente da informação pelo participante é dificultado
pelo volume de informações relevantes e potencialmente úteis disponíveis. Os
autores apontam que no extremo, a sobrecarga
informacional pode levar a problemas de saúde mental e física, além da perda de
eficiência.
Os participantes
foram questionados se o excesso de informação afeta a sua memória, concentração
e rendimento. Dos quinze respondentes, dez (66,7 %) declararam que o excesso de
informação durante a busca na internet interferia no rendimento, pois a
concentração e a memória são afetadas. Apenas cinco respondentes (33,3 %) não
acreditavam que tais características fossem causadas pelo excesso de
informação.
Os
participantes que responderam de maneira positiva à questão creditavam o efeito
negativo em seu rendimento, concentração e memória ao número de coisas a fazer
e pensar, relacionadas com a grande quantidade de informação existente na
internet, pois o excesso de informação faz com que não haja foco.
Os participantes
ainda foram questionados se o excesso de informação afeta a vida acadêmica e
cotidiana deles. A diferença nessa questão foi pequena: sete (46,7 %) acreditavam
que não afeta e oito (53,3 %) declararam que o excesso de informação interfere,
tanto no que se refere a assuntos acadêmicos como cotidianos.
Aqueles que responderam
sim à questão explicaram que isso ocorre devido ao pouco tempo de sono, à dependência
das tecnologias, à sobrecarga que o excesso de informação acarreta, fazendo com
que não se consiga terminar as atividades a tempo, e à distração que a internet
causa. Eles também relataram que o grande volume de informação na rede faz com
que se perca tempo com coisas que poderiam ser resolvidas rapidamente, surgindo
a indecisão. O participante G14 afirmou que as buscas relacionadas a
informações jurídicas como “Doutrina e
jurisprudência atualizando constantemente. Gera muita produção de informação.”.
Por fim, os participantes
foram questionados sobre a satisfação em relação à busca e uso da informação e
se isso era afetado em decorrência do excesso de informação. A maioria dos
respondentes (66,7 %) declarou estar parcialmente satisfeitos em relação à
busca e uso da informação, 20 % responderam não estar satisfeitos e apenas 13,35
% indicaram estar satisfeitos em relação à busca e uso da informação.
Com o
intuito de identificar as manifestações de ansiedade informacional causadas pelo excesso de informação nos
graduandos em mobilidade acadêmica no exterior foram feitos alguns
questionamentos a esses estudantes. Primeiramente foram apresentados
comportamentos que podem indicar que lidar com a informação pode ser um
problema na vida dos estudantes. Como pode ser visto na Tabela 1, a maioria deles
(73,3 %) respondeu buscar informações em mais de uma fonte pelo receio acerca da
veracidade do que encontrou.
Tabela
1
Comportamentos
relacionados à ansiedade de informação em estudantes de universidades do sul do
Brasil em mobilidade acadêmica no exterior no ano de 2017
Comportamentos indicativos |
Números de alunos |
|
Busca informações
em mais de uma fonte, pois tem receio sobre a veracidade do que encontrou. |
11 |
73,3 % |
Fica nervoso por
não saber lidar com tanto conteúdo acumulado. |
7 |
46,7 % |
Acha que a pessoa ao
seu lado está entendendo tudo e você não. |
6 |
40 % |
Responde de maneira
afirmativa sobre alguma notícia, autor, livro, filme ou sobre qualquer
assunto, mesmo que nunca tenha ouvido falar. |
2 |
13,3 % |
Sente que é incapaz
de explicar algo que pensava ter entendido. |
2 |
13,3 % |
Dá atenção excessiva a notícias que não têm qualquer impacto cultural,
econômico ou científico em sua vida. |
2 |
13,3 % |
Fica com vergonha
de dizer “Não sei” e inventar uma desculpa para não responder a algum
questionamento. |
0 |
0 % |
Total |
15 |
100 % |
Fonte: Dados da pesquisa (2017 adaptado de Wurman
1991).
Como Tabela 1 aponta, os estudantes se preocupavam com a credibilidade
da informação, ao ponto de buscar em mais de uma fonte a mesma informação. Esse
comportamento é um indicativo que a informação causa incerteza nos participantes
diante dos dados encontrados durante o processo de busca.
Outra
manifestação da ansiedade informacional, indicada por 46,7 % dos participantes
da pesquisa, é que estes ficam nervosos por não saberem lidar com o tanto
conteúdo acumulado. No estudo realizado por Oliveira (2011), 49,6 % dos
participantes informaram que não se sentem atualizados com o mundo a sua volta.
Para Shedroff (2005, p. 15),
[...] o que de fato nos afeta mental e emocionalmente - e às vezes até fisicamente
– é a ansiedade que nos invade quando tentamos ficar a par do mundo à nossa
volta. A começar pelo pressuposto cultural de que “estar atualizado” é o mínimo
que se espera de nós.
Entre os participantes,
40 % afirmaram acreditar que os pares compreendem todas as informações que
recebem, enquanto eles próprios não têm a mesma habilidade. Dado semelhante foi
observado no estudo de Oliveira (2011), no qual 40,8 % dos participantes apresentaram
tal comportamento.
Dois
estudantes afirmaram responder de maneira afirmativa quando indagados sobre
alguma notícia, autor, livro, filme ou sobre qualquer assunto, mesmo que nunca
tenham ouvido falar sobre eles (13,3 %). Essa questão foi apontada por 17,6 %
dos participantes da pesquisa de Oliveira (2011). “Uma forma de ansiedade é a
perigosa arrogância de saber antes dos outros.” (Shedroff,
2005, p. 16).
É importante
destacar que 13,3 % dos participantes declaram se sentir incapazes de explicar
algo que pensavam ter entendido. Essa manifestação foi apontada por 41,6 % dos participantes
da pesquisa realizada por Oliveira (2011). A incapacidade de explicar o que
acreditávamos ter entendido pode estar relacionada com a falta de compreensão
diante de um determinado assunto. Nesse sentido, Wurman (2005) acredita que uma
maneira de saber se compreendemos algo é explicar essa coisa a alguma pessoa.
Por fim os participantes
declararam dar atenção excessiva a notícias que não têm qualquer impacto
cultural, econômico ou científico em suas vidas (13,3 %). No estudo de Oliveira
(2011), 48,8 % dos participantes manifestaram esse comportamento. Shedroff (2005) fala sobre a falsa ideia de que precisamos
estar sempre atualizados e bem-informados:
Infelizmente como compramos a ideia de que a atualização é imprescindível
e de que precisamos estar sempre “bem informados”,
esquecemos que a qualidade das notícias não pode ser substituída nem pela
velocidade da divulgação e nem pela quantidade de detalhes insignificantes. (Shedroff, 2005, p. 16).
Percebe-se
através das respostas que os participantes manifestavam alguns comportamentos
característicos da ansiedade de informação, cujos traços podem ser identificados
por meio de determinadas características. A fim de saber quais manifestações os
estudantes acreditavam ter, foram apresentadas algumas características que
podem ser consequência da ansiedade informacional. Essas manifestações podem
ser físicas e/ou mentais. Os resultados são apresentados na Tabela 2.
Tabela
2
Manifestações
em consequência do excesso de informação
Consequência do excesso de informação |
Números de alunos |
|
Estresse |
9 |
60 % |
Dependência das
tecnologias |
7 |
46,7 |
Queda de rendimento |
6 |
40 % |
Alteração de humor |
6 |
40 % |
Irritabilidade |
5 |
33,3 % |
Distúrbios no sono |
3 |
20 % |
Distúrbio na
memória |
2 |
13,3 % |
Perturbação |
2 |
13,3 % |
Mal-estar |
2 |
13,3 % |
Dor de cabeça |
2 |
13,3 % |
Indisposição |
1 |
6,7 % |
Isolamento |
1 |
6,7 % |
Outros |
1 |
6,7 % |
Tontura |
0 |
0 % |
Vertigem |
0 |
0 % |
Total |
15 |
100 % |
Fonte: Dados da pesquisa (2017 adaptado de OLIVEIRA, 2011).
Outro
sintoma, como a ansiedade propriamente dita, foi citado pelo estudante G15.
O estudo de Akin (1998, p. 1, tradução nossa) sobre a sobrecarga
informacional, com duzentos e sessenta e cinco alunos do ensino público
elementar do Texas, nos Estados Unidos, apontou que estes alunos “[...] experimentam
sentimentos de confusão, frustração, irritação, fúria, estresse, tensão e
pânico, além de sintomas físicos, como dor de cabeça, cansaço, depressão,
fadiga e doenças.” De acordo com Izquierdo (2011, p. 80), o excesso de
informação que gera manifestações de ansiedade, afeta a memória e prejudica o
aprendizado:
Todos sabemos por experiência própria que os estados de ânimo, as emoções,
o nível de alerta, a ansiedade e o estresse modulam fortemente as memórias. Um
aluno estressado ou pouco alerta não forma corretamente memórias numa sala de
aula. Um aluno que é submetido a um nível alto de ansiedade depois de uma
aula, pode esquecer aquilo que aprendeu. Um aluno estressado na hora da
evocação (numa prova, por exemplo) apresenta dificuldades para evocar (o famoso
“branco”); outro que, pelo contrário, estiver bem alerta, conseguirá recordar
muito bem.
Os participantes
desta pesquisa também foram questionados sobre como se sentem diante da
quantidade de informação disponibilizada na rede e se a internet era a
principal causa da ansiedade informacional na opinião deles.
Sobre esse
ponto, as opiniões foram diversas e apenas três participantes responderam de
maneira direta, com sim ou não. Agrupando as respostas similares, pode-se afirmar
que oito participantes sentiam que a quantidade de informação interferia na sua
vida e que ela era a causadora da ansiedade de informação. Dois respondentes acreditavam
que ela interferia em parte, mas não acreditavam que a quantidade de informação
disponibilizada na internet fosse a única causa para a ansiedade informacional.
Outros cinco não consideravam que esse aspecto interferia em sua vida ou fosse
a causa de sua ansiedade.
Muitos
pontos trazidos anteriormente ressurgem nessa questão, como a preocupação com a
veracidade e a confiabilidade da informação, demonstrada pelos participantes G2
e G5. O participante G3 apresentou um comportamento típico da ansiedade
informacional, ao afirmar que a ansiedade se dá não pela quantidade de
informação disponibilizada na internet, mas sim pela cobrança em absorver todas
as informações e conhecimentos. O estudante G10 declarou que se sente “perdida, sinto que nunca saberei tudo”. De
acordo com Wurman (1991, p. 60), “sendo capaz de admitir que não sabe, você fica
mais propenso a formular as perguntas que lhe permitirão aprender.” A aceitação
levará a compreensão e, como foi afirmado pelo autor, somente quando
compreendemos é que de fato aprendemos. O participante G14 declarou que se sente
perdida, mas quando se organiza consegue aproveitar boa parte da informação.
A fim de compreender
melhor o comportamento dos participantes e deixá-los mais livres para
responder, questionou-se acerca de outros fatores, além do informacional, que
pudessem gerar a ansiedade de informação. A grande maioria indicou que questões
relacionadas a despesas são as que mais os preocupam, com 86,7 % das
indicações. Outro fator mencionado foi a distância da família, com 60 % das indicações,
seguido pela forma de ensino e tipo de avaliação realizada pela instituição de
ensino escolhida para a mobilidade acadêmica, indicado por 53,3 % dos
participantes. Ainda foram apontadas as questões relativas ao fuso horário (40
%), dos novos costumes e cultura (26,7 %), e outros fatores, que apareceram com
20 % das indicações.
O objetivo principal do presente estudo foi identificar
através do comportamento informacional de graduandos em mobilidade acadêmica no
exterior se o excesso de informação causava manifestações características da ansiedade
de informação. Foi possível traçar um perfil dos estudantes, que eram jovens
entre vinte e um e vinte e cinco, na sua maioria do sexo feminino, provenientes
de IES privada e do curso de Direito, que escolheram Portugal para realização
dessa modalidade de ensino. Estes estudantes foram em busca de desenvolvimento
pessoal e profissional e para isso desejavam ter novas experiências e conhecer
novas culturas e costumes.
Quando se trata da busca de informações acadêmicas ou cotidianas,
observou-se que a maioria dos participantes utilizava fontes de informação na
internet, bem como as redes sociais e a consulta a amigos. A dificuldade em
relação às fontes de informação estava ligada à acessibilidade e à
confiabilidade da informação encontrada. Verificou-se também a pouca utilização
da biblioteca por estes estudantes, que manifestavam desconforto diante dela.
Para os participantes
da pesquisa, a mudança de país interferia na maneira de buscar a informação,
pois nem mesmo a globalização da internet era capaz de responder de maneira
integral às necessidades informacionais surgidas quando se está em um lugar com
cultura e costumes diferentes.
Os participantes
da pesquisa acreditavam que o excesso de informação era um auxílio na tomada de
decisão, porém notou-se a preocupação com a confiabilidade e a veracidade da
informação. Eles, em sua maioria, apresentavam manifestações indicativas da
ansiedade informacional e mostravam desconforto em manipular a informação,
gerando incerteza diante das informações recuperadas. A maioria acreditava que
o volume de informação era a principal causa da ansiedade informacional.
Pode-se
concluir que o excesso de informação afetou o comportamento informacional, causando
efeitos característicos da ansiedade de informação nesses participantes. Contudo,
percebeu-se também uma preocupação recorrente com a credibilidade, a
confiabilidade e a veracidade da informação disponibilizada na internet.
Com isso, é
possível considerar que o desconforto durante a busca foi um reflexo do
desconhecimento desses participantes em relação às fontes de informação
adequadas para cada área, particularmente as fontes de informação na internet. Se
estes estudantes conhecessem as fontes adequadas para a busca, lidar com o
volume de informação disponibilizada na internet talvez não houvesse ou seriam
amenizados os problemas em relação a ansiedade informacional.
Uma maneira
de lidar com esse problema identificado na pesquisa seria fazer com que os
estudantes reconhecessem as fontes adequadas para realizar suas buscas e recorressem
aos serviços da biblioteca, mais precisamente ao bibliotecário, que é o
profissional que tem como competências compreender o processo de busca da
informação e facilitar o reconhecimento e o acesso às fontes de informação mais
adequadas para cada área, entendendo a necessidade individual de cada usuário.
Por fim, indica-se que
estudos voltados ao comportamento informacional e os aspectos que influenciam a
busca e uso da informação principalmente em relação às fontes de informação na
internet tenham continuidade. Percebe-se ainda a importância do idioma tanto na
busca por informações, quanto para a escolha do país onde será realizada a
mobilidade acadêmica, dessa forma estudos que relacionem o domínio da língua
falada com a busca por informações sejam indicados. Outro fator que justifica a
continuidade desse estudo é o papel da biblioteca e do bibliotecário diante da
globalização da informação e como esse profissional pretende capacitar os
usuários da informação diante das ferramentas digitais existentes e pouco ou
mal exploradas pela comunidade.
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Associados.
[1] Dados
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES é um
órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC) e desempenha papel fundamental na
desempenha papel fundamental na expansão e consolidação da pós-graduação
stricto sensu no Brasil) apontam que no período de 2017 a 2019 havia 19.512
bolsas de estudos ativas no Brasil e no exterior de programas de mobilidade
internacional (Brasil, 2021).
[2] Informações fornecidas
pelo site do Banco Santander.
Disponível em: http://www.becas-santander.com/. Acesso em: 8 jun. 2017.