e-Ciencias de la información

Volumen 13, número 2: julio-diciembre 2023

DOI: https://doi.org/10.15517/eci.v13i2.53038

 

Ansiedade de informação: efeitos no comportamento informacional de estudantes em mobilidade acadêmica no exterior

 

Information anxiety: effects on the informational behavior of academically mobile students abroad

Ansiedad informativa: efectos sobre el comportamiento informativo de los estudiantes en movilidad académica en el extranjero

 

Marta de Oliveira. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, BRASIL. e-mail: marta_deoliveira@outlook.com,  ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9339-885X

Maurício de Vargas Corrêa. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, BRASIL.  e-mail: mauricio.correa@ufrgs.br, ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8377-0937

Sonia Elisa Caregnato. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, BRASIL. e-mail: sonia.caregnato@ufrgs.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5676-2763

 

Resumo

 

Busca identificar se o excesso de informação afeta o comportamento informacional e causa algum efeito de ansiedade informacional em graduandos de duas universidades brasileiras em mobilidade acadêmica no exterior. Um estudo de campo exploratório foi realizado com quinze estudantes de graduação que estudavam no exterior. Os resultados apontam que o perfil típico dos participantes é constituído por jovens do sexo feminino, cursando Direito em instituição de ensino superior privada, que escolheu Portugal para realização da mobilidade acadêmica e buscava o conhecimento de novas culturas e o desenvolvimento pessoal e profissional. Quanto à busca de informação, a maioria faz uso da internet, dos sites de redes sociais e da consulta aos amigos. As dificuldades apontadas ao realizar a busca têm relação com o acesso e a confiabilidade das fontes encontradas. A maioria declara ter desconforto em relação à biblioteca, além de acreditar que a mudança de país influencia na maneira de pesquisar. O grande volume de informação disponível na internet é visto como um auxílio na tomada de decisão, mas os preocupa quanto à segurança e veracidade da informação. Os estudantes reconhecem que o excesso de informação interfere no rendimento, memória e concentração. Muitos apresentam comportamento indicativo de que lidar com a informação causa desconforto, incerteza e até mesmo sintomas físicos e psicológicos, como estresse, queda de rendimento, alteração de humor. A maioria acredita que o excesso de informação é a principal causa da ansiedade de informação, porém as preocupações referentes às despesas, à distância da família e à forma de avaliação nas instituições de destino afetam o seu comportamento. Conclui-se que o excesso de informação afeta o comportamento informacional e causa efeitos da ansiedade de informação no grupo estudado e que o desconforto durante a busca é reflexo do seu desconhecimento das fontes de informação mais adequadas para cada área.

 

Palavras-chave: ansiedade de informação; comportamento informacional; mobilidade acadêmica; estudante internacional.

 

Abstract

 

The study seeks to identify whether the excess of information affects the informational behavior of undergraduate students from two Brazilian universities who are in academic mobility programs and whether it causes them any form of informational anxiety. The work is characterized as an exploratory field study with the application of a questionnaire with open and closed questions to fifteen undergraduate students who were studying abroad. The results indicate that the typical profile of the research participants consists of a young female, studying Law   in a private higher education institution, who chose Portugal to carry out academic mobility, and who seeks experiences of new cultures and personal and professional development. As for information searching, most students make use of the internet, social networking sites, in addition to consulting friends. The difficulties pointed out by them are related to the access and reliability of the sources found. Most subjects declare to feel discomfort in relation to the library, besides believing that the change of country influences the way of researching. The large volume of information available on the internet is seen as an aid to decision making but concerns them about the security and veracity of the information. The students acknowledge that this excess of information interferes with performance, memory, and concentration, as it is difficult to deal with a large amount of information having little time available to perform tasks, whether daily or academic. Many students present some behavior indicating that dealing with information causes discomfort, uncertainty, and even physical and psychological symptoms, such as stress, decreased   performance, mood swings, among others. Most of them believe that information excess is the main cause of information anxiety, however concerns about being in another country, worries about expenses, distance from family and assessments affect their behavior. It is concluded that the excess of information affected information behavior and caused effects of information anxiety in the group of respondents, and that the discomfort during searching reflected students' lack of knowledge of the most appropriate information sources of information for each area.

 

Keywords: information anxiety; informational behaviour; academic mobility; international student.

 

Resumen

 

Busca identificar si la sobrecarga de información afecta al comportamiento informativo y provoca efectos de ansiedad informativa en estudiantes de dos universidades brasileñas en movilidad académica en el extranjero. Se realizó un estudio de campo exploratorio con quince estudiantes universitarios que estudian en el extranjero. Los resultados señalan que el perfil típico de los sujetos se compone de mujeres jóvenes, que estudian derecho en una institución privada de enseñanza superior, que eligieron Portugal para la movilidad académica y buscaron el conocimiento de nuevas culturas y el desarrollo personal y profesional. En cuanto a la búsqueda de información, la mayoría recurre a Internet, a las redes sociales y a la consulta de amigos. Las dificultades señaladas en la búsqueda están relacionadas con el acceso y la fiabilidad de las fuentes encontradas. La mayoría declara tener malestar en relación con la biblioteca, además de creer que el cambio de país influye en la forma de buscar. El gran volumen de información disponible en Internet se considera una ayuda para la toma de decisiones, pero les preocupa la seguridad y la veracidad de la información. Los estudiantes reconocen que un exceso de información interfiere en su rendimiento, memoria y concentración. Muchos presentan comportamientos que indican que el tratamiento de la información provoca malestar, incertidumbre e incluso síntomas físicos y psicológicos, como estrés, disminución del rendimiento, cambios de humor. La mayoría cree que la sobrecarga de información es la principal causa de la ansiedad por la información, sin embargo, la preocupación por los gastos, la distancia de la familia y la forma de evaluación en las instituciones de destino afectan a su comportamiento. Se concluye que la sobrecarga de información afecta al comportamiento informativo y provoca efectos de ansiedad informativa en el grupo estudiado y que el malestar durante la búsqueda es un reflejo de su desconocimiento de las fuentes de información más adecuadas para cada área.

 

Palabras clave: ansiedad informativa; comportamiento informativo; movilidad académica; estudiante internacional.

 

Data de entrada: 02 nov, 2022

Data de correção: 21 fev, 2023

Data de aceitação: 15 mar, 2023

 

 

1 Introdução

 

O papel das universidades públicas e privadas é a formação profissional e científica de seus alunos. Uma maneira de oferecer formação diferenciada e que leve os estudantes a novas experiências acadêmico-científicas, culturais e sociais é a mobilidade acadêmica para o exterior. A mobilidade acadêmica ou intercâmbio estudantil, oferecida periodicamente por meio de convênios com instituições de ensino estrangeiras ou editais de programas de bolsas de estudo no exterior, se tornou um desejo e uma possibilidade mais acessível do que há algumas décadas devido à oferta de bolsas de estudo[1] e aos convênios entre as instituições brasileiras e estrangeiras.

 

Com a evolução e a apropriação tecnológica, o volume de informações a que se tem acesso é vasto, gerando uma espécie de sobrecarga de informações. O excesso de informações pode se tornar um empecilho na realização de determinadas atividades, já que a abundância informacional promove mudanças no comportamento de busca, seleção e uso da informação. As dúvidas sobre o que é necessário e importante, o que é confiável e o que deve ser usado trazem inquietação e incerteza, que são características da ansiedade, caracterizada por ser um:

 

Sentimento de impotência e incapacidade de enfrentar eventos ameaçadores, caracterizados pelo predomínio da tensão física. Ela se manifesta diante de qualquer ameaça percebida, seja ela fisicamente real, psicologicamente irritante ou mesmo imaginária. Cientificamente, a ansiedade é conceituada como uma resposta de luta ou fuga. (Consuegra Anaya, 2010, p. 22).

 

É importante mencionar que assim como a quantidade demasiada de informação, a fata dela também pode ser fato causador da ansiedade informacional.

 

O comportamento informacional tem início a partir de uma necessidade de informação e engloba os processos de busca e o uso da informação (Wilson, 2000). As necessidades de informação surgem de fatores externos, representados pelo ambiente em que o participante está inserido, e de fatores internos, que são as experiências, o conhecimento ou falta deste, bem como as habilidades de cada pessoa (Calva González, 2004). De acordo com Choo (2006), as necessidades podem ser compreendidas ao mesmo tempo como cognitivas e emocionais, sendo que as últimas quase sempre levam à busca de informações.

 

MacMullin e Taylor (1984, p. 98, tradução nossa) afirmam que “[...] cada ambiente de uso da informação tem um tipo diferente de problema, gerado por seu ambiente particular e pelas exigências de sua profissão, ocupação ou estilo de vida.” Dessa forma, pode-se considerar que o comportamento de busca é influenciado pelo ambiente e que as atitudes de participantes que pertencem a um mesmo grupo tendem a ser semelhantes. Outro componente do comportamento informacional é a seleção ou escolha das fontes de informação que serão usadas para solucionar um determinado problema. O uso ocorre quando o participante já buscou e selecionou a informação para então utilizá-la. É através do uso que se pode suprir a necessidade de informação.

 

A ansiedade de informação é definida por Wurman (1991, p. 38) como “[...] o resultado da distância cada vez maior entre o que compreendemos e o que achamos que deveríamos compreender. É o buraco negro que existe entre dados e conhecimento, e ocorre quando a informação não nos diz o que queremos ou precisamos saber.” Alves, Bezerra e Sampaio (2015) explicam que a ansiedade de informação é o resultado da confusão entre o que achamos que deveríamos saber com aquilo que realmente deveríamos apreender. A sobrecarga de informação e o excesso de informação podem ser alguns dos fatores que levam à ansiedade de informação.

 

Segundo Oliveira (2011), a ansiedade de informação, causada pela explosão informacional, tem efeitos expressivos sobre a concentração, a produtividade e a memorização dos estudantes. Alves, Bezerra & Sampaio (2015), por sua vez, se referem à “normose” como uma das consequências da ansiedade de informação que podem trazer danos à sociedade.

 

Diante desse cenário, o presente estudo se propõe a entender o comportamento informacional dos estudantes de graduação de uma universidade pública e de uma privada do estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em mobilidade acadêmica no exterior diante do excesso de informação e da ansiedade informacional. Buscou-se, especificamente, investigar como estes estudantes buscam, selecionam e usam a informação; averiguar se o excesso de informação interfere na satisfação quanto à busca e ao uso da informação e identificar manifestações de ansiedade informacional causadas pelo excesso de informação.

 

Para tanto foi elaborado o seguinte problema de pesquisa: Como o excesso de informação afeta o comportamento informacional dos graduandos em mobilidade acadêmica no exterior? Isso gera alguma manifestação da ansiedade de informação nestes sujeitos?

 

O estudo se diferencia de outros trabalhos por investigar o comportamento informacional de um grupo de estudantes que não apenas teve que enfrentar barreiras acadêmicas durante a sua graduação, mas também a mudança de país e a vivência de uma cultura e costumes diferentes, o que poderia gerar ansiedade, além de alterar as suas percepções e práticas cotidianas.

 

2 Procedimentos metodológicos

 

Este estudo se caracteriza como uma pesquisa descritiva com métodos mistos. O método qualitativo foi utilizado para coletar e interpretar a opinião de cada estudante participante e os dados quantitativos para traçar o seu perfil. Trata-se de um estudo de campo cujos participantes foram graduandos de diversos cursos de uma Instituição de Ensino Superior (IES) pública e de uma privada do estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em mobilidade acadêmica no exterior. Os estudantes foram identificados através das listas de selecionados para mobilidade acadêmica no exterior dos editais de 2016/2 publicados pelas instituições escolhidas para o estudo. Foram identificados 30 alunos selecionados pelas IES, sendo doze alunos da IES pública e dezoito alunos da IES privada. Como instrumento de coleta de dados, utilizou-se um questionário composto por vinte e quatro questões abertas e fechadas (objetivas e de múltipla escolha) construídas com base na literatura.

 

O questionário eletrônico, desenvolvido com a ferramenta Google Docs, foi enviado aos graduandos identificados nos editais por meio de uma rede social. Foram contatados vinte e três graduandos, sendo dez alunos da IES pública e treze alunos da IES privada. Responderam ao questionário quinze graduandos, sendo seis alunos da IES pública e novo alunos da IES privada. O questionário foi respondido no período de cinco a 25 de abril de 2017. Após a aplicação dos questionários, foi realizada a codificação e a categorização do conteúdo abordado. O uso do método de codificação e categorização foi necessária, tendo em vista que os dados coletados foram tanto qualitativos, quanto quantitativos e de acordo com Flick (2009) é uma das formas mais destacadas usadas para analisar métodos não especificados. A fim de não terem suas identidades divulgadas, os participantes foram codificados como G1, para o graduando 1, G2, para o graduando 2 e assim sucessivamente, já as questões foram categorizadas em uma planilha de Excel e realizada a tabulação dos dados coletados, a fim de analisar as respostas quantitativas em geral e as qualitativas de forma individualizada afim de traçar o perfil dos participantes do estudo.

 

Por meio da análise e interpretação dos dados foi possível chegar a considerações diante do problema de pesquisa.

 

3 Resultados e discussão

 

Para analisar os dados, primeiro foi traçado um perfil dos sujeitos da pesquisa, para em seguida apresentar a análise das questões relativas ao comportamento informacional, ao excesso de informação e a ansiedade informacional.

 

3.1 Perfil dos graduandos em mobilidade acadêmica

 

De acordo com Wilson e Walsh (1996), variáveis demográficas como idade, sexo, entre outros fatores, influenciam o comportamento informacional. Dessa forma, um dos objetivos da pesquisa foi traçar o perfil dos estudantes que participaram do estudo. Dos quinze graduandos em mobilidade acadêmica no exterior participantes da pesquisa, treze (86,3 %) tinham entre vinte e um e vinte e cinco anos de idade, sendo que dois (13,3 %) tinham entre dezoito e vinte anos. Em relação ao sexo, nove (60 %) participantes eram do sexo feminino e seis (40 %) do sexo masculino.

 

Em relação à instituição de ensino de origem dos graduandos, nota-se que a maioria era proveniente da IES privada, o que correspondeu a 60 % dos participantes da pesquisa. Eles eram estudantes dos cursos de Música, Teatro, Ciências Sociais, Direito, Engenharia Química, Produção Audiovisual e Psicologia. O curso que teve mais alunos em mobilidade acadêmica foi o de Direito, com nove graduandos. Também foram identificados na pesquisa outros seis cursos, todos com um graduando participante cada.

 

Dos quinze participantes da pesquisa, sete estavam realizando a mobilidade acadêmica em Portugal, três na Espanha, dois no Canadá, um na Alemanha, um no México e um na Suécia. Pode-se observar que quase a metade dos participantes do estudo optou por realizar a mobilidade acadêmica em um lugar com o mesmo idioma de seu país de origem. Os resultados se assemelham em parte aos encontrados no estudo realizado por Bett (2012), no qual Portugal foi apontado como o país preferido para a realização dessa modalidade de ensino acadêmico por 32 % dos participantes da pesquisa.

 

Quanto às IES em que a mobilidade acadêmica estava sendo realizada, a Universidade de Lisboa foi a mais citada pelos participantes, com cinco graduandos, seguida pela Universidade do Porto, com dois. As demais universidades, que aparecem apenas uma vez, são: Concordia University of Edmonton (Canadá), Kwantlen Polytechnic University (Canadá), Tübingen Universität (Alemanha), Universidad Autónoma de Madrid (Espanha), Universidad de Jaén (Espanha), Universidad de Valladolid (Espanha), Universidad Nacional Autónoma de México (México) e Uppsala University (Suécia).

 

Dos quinze participantes da pesquisa, apenas quatro contavam com bolsas de estudos, todas oferecidas anualmente pelo convênio entre as universidades de origem com o Banco Santander[2], através dos diversos programas de bolsas promovidos pela instituição, sendo que três deles estavam na Espanha e um no México. Além do oferecimento regular de bolsas do convênio com o Banco Santander durante o período, uma possível explicação para a preferência dos estudantes brasileiros por Portugal pode ter sido a familiaridade com o idioma. Contudo, esse aspecto não foi analisado na pesquisa.

 

No que se refere às motivações que levaram os participantes a realizar a mobilidade acadêmica no exterior, todos relataram que foram em busca de desenvolvimento pessoal ou profissional. A troca de conhecimentos e experiências, bem como a busca por autoconhecimento (amadurecimento) foram apontados por quatorze estudantes (93,3 %). Já o interesse em conhecer novas culturas foi mencionado por dez (66,7 %) respondentes. Os motivos indicados por menos de dez participantes foram a busca por formação integrada (46,7 %) e outras motivações (26,7 %).

 

Em seu estudo, Lima e Riegel (2010) apontam motivações de ordem sociocultural, acadêmica, econômico-comercial e político-administrativo para a mobilidade acadêmica. Os motivos socioculturais trazidos por esses autores, que se assemelham aos apontados pelos participantes desta pesquisa, vão desde a:

 

[...] língua oficial do país, a proximidade geográfica e cultural entre o país de origem e de destino, assim como ligações históricas pré-existentes” até a qualidade de vida e atratividade cultural existente no país de destino: estabilidade política, segurança pública, aspectos climáticos, diversidade de ecossistemas, atividades culturais e turísticas etc. (Lima & Riegel, 2010, p. 6).

 

Apenas um participante indicou um motivo que tem relação com formação acadêmica: G6: “Oportunidade de estudar [curso] em nível de graduação, o que não é possível na [IES], e acredito que também no resto do Brasil”. Esse motivo é apontado como um aspecto acadêmico por Lima e Riegel (2010, p. 6): “Limitações na oferta de programas e cursos no sistema de educação do país de origem.”

 

3.2 Busca, seleção e uso da informação pelos graduandos em mobilidade acadêmica

 

Os graduandos foram questionados sobre onde buscavam informações acadêmicas ou cotidianas, se utilizavam tudo que encontravam, como escolhiam o que usar e, ainda, sobre as dificuldades ao realizar a busca, se sentiam desconforto diante dessa atividade e se a mudança de país interferia na maneira de fazer suas pesquisas.

 

Com relação à busca de informação, todos procuravam informações na internet (Google, sites especializados) e a maioria com os amigos (73,3 %) e nos sites de redes sociais (60,3 %). O centro de apoio ao estudante da universidade era usado por 33,3 % e a biblioteca por 26,7 % dos estudantes. Alguns participantes declararam, ainda, buscar informações em outras fontes (20,0 %), como a consulta a professores, instituições públicas e colegas, e na instituição de origem (6,7 %).

 

A procura de informações na internet também foi mencionada em um estudo, realizado por Miranda e Alcará (2016), que aborda a busca e o uso da informação por estudantes dos cursos de Arquivologia e Biblioteconomia de uma universidade pública do sul do Brasil. As autoras constataram que 76,1 % dos estudantes do estudo alegaram sempre utilizar a internet para satisfazer suas necessidades informacionais e 88 % deles utilizavam os sites de busca frequentemente e sempre.

 

A baixa procura pela biblioteca também foi apontada pelo referido estudo: “[...] os participantes que mais utilizam a biblioteca perfazem menos da metade da amostra (aproximadamente 39 %), indicando uma frequência baixa da biblioteca universitária.” (Miranda & Alcará, 2016, p. 103). Sobre a pouca busca pela biblioteca, é importante considerar a possibilidade de que os participantes da pesquisa tenham utilizado fontes eletrônicas oferecidas por uma unidade de informação. Porém, ao responderem a esse questionamento, pensaram na biblioteca somente como um ambiente físico.

 

A busca de informação na internet foi mencionada por 100 % dos participantes desta pesquisa, enquanto a busca nos sites de redes sociais foi indicada por 60,3 %. O uso dos recursos eletrônicos e dos sites de redes sociais por alunos de graduação foi mencionado no estudo de Kim et al. (2011), que apontou que as mídias sociais estão ficando mais populares entre todas as gerações de usuários, incluindo alunos de graduação. Tomaél et al. (2016) também observaram em seu trabalho que as mídias sociais se tornaram fontes de informação, sobretudo para os nativos digitais, que as utilizam no dia a dia.

É importante lembrar que os participantes desta pesquisa tinham idade entre dezoito e vinte e cinco anos, ou seja, trata-se de uma geração que cresceu em meio à evolução digital, em que o acesso diário à informação é facilitado principalmente pelas tecnologias de internet móvel. Assim, parece compreensível que façam amplo uso dessas fontes.

Outro resultado importante é que 73,3 % dos participantes da pesquisa declararam buscar informações com amigos. Como os graduandos estavam em mobilidade acadêmica no exterior, as informações poderiam ser trocadas entre eles através das redes sociais. Em um estudo realizado com estudantes de graduação da Michigan State University, nos Estados Unidos, sobre a relação entre o uso do site de redes sociais Facebook e a formação e a manutenção do capital social, Ellison, Steinfield e Lampe (2007) constataram que as conexões potencialmente úteis estabelecidas pelos acadêmicos nessas redes podem se configurar como fontes valiosas de novas informações e recursos. Outros três participantes (20 %) declararam procurar informações em fontes pessoais, ou seja, com professores, nas instituições públicas e com os colegas.

 

O uso da internet e das mídias sociais, além da consulta aos amigos para buscar informações, se reflete na resposta dos participantes relativa ao tempo médio utilizado em suas buscas: seis graduandos (40 %) declararam usar menos de dez minutos; outros seis (40 %) responderam usar entre dez e trinta minutos, dois disseram necessitar de quarenta a sessenta minutos em média e apenas um afirmou precisar de mais de sessenta minutos. Com o acesso à informação facilitado pelo uso das tecnologias, é compreensível que os participantes utilizem pouco tempo. Outra explicação é o fato de os participantes terem sido questionados sobre busca para atividades acadêmicas e cotidianas. Na busca por informações cotidianas, como o endereço de um restaurante ou de um ponto turístico, por exemplo, poucos minutos podem ser suficientes.

 

A fim de compreender como usavam a informação, os graduandos foram questionados se utilizam toda a informação que encontram. Dos quinze participantes, nove (60 %) disseram utilizar tudo que encontram e seis (40 %) afirmaram não utilizar todas as informações. O fato de a maioria utilizar todas as informações encontradas pode ser justificado pela pouca idade dos participantes e pouca experiência em pesquisa à época. Porém, percebe-se que alguns já se preocupavam em seguir critérios de avaliação e seleção próprios, como a utilidade, a usabilidade e a qualidade da informação.

 

Os estudantes que declararam não utilizar todas as informações, puderam dizer como selecionavam o que iriam utilizar. As respostas foram diversas e através delas pode-se perceber que cada graduando usava um critério próprio de avaliação para realizar a seleção da informação, como poderá ser percebido nas respostas a seguir: “Fontes confiáveis. Bibliografia, por exemplo, quase nunca uso de fonte da internet.” (G2); “Escolho as que são úteis para o que preciso, de maneira que descarto as demais [...].” (G5). O participante G6 comentou que leva em consideração o que é apresentado e indicado pelo professor em sala de aula. Já o participante G15 respondeu observar o tempo que tem disponível e suas capacidades, além de atentar para a questão da autoridade da informação, que é um critério utilizado para avaliar a qualidade da informação.

 

Através desses relatos, é perceptível a preocupação com a confiabilidade e qualidade da informação selecionada, mesmo com a facilidade e rapidez em acessar a informação pela internet e pelas redes sociais. Os alunos apresentavam preocupação com as fontes de informação que iriam usar em suas atividades acadêmicas e para avaliar essas fontes utilizavam critérios como a autoridade, a utilidade da informação, a relação com a matéria apresentada em aula, além de suas possiblidades de conhecimento e tempo. A preocupação com as informações disponibilizadas na internet para uso acadêmico é frequentemente observada na literatura, como em Tomaél et al. (2008) e Kim et al. (2011), por exemplo.

 

Os graduandos também foram questionados a respeito das dificuldades que normalmente acontecem quando buscam por informações acadêmicas e cotidianas. Diante desse questionamento, apenas cinco (33,3 %) declararam não ter dificuldades, já dez (66,7 %) participantes afirmaram encontrar dificuldades durante a busca de informação. No estudo realizado por Miranda e Alcará (2016, p. 106), 57,8 % dos estudantes declararam encontrar dificuldades às vezes, 25  % raramente, 9,4 % frequentemente, 6,6 % sempre e 1,6 % afirmar nunca encontrar dificuldades durante o processo de busca. Nota-se que a porcentagem de estudantes que relataram dificuldades na busca de informações acadêmicas e cotidianas foi similar nos dois estudos.

 

As dificuldades apontadas pelos sujeitos estão relacionadas ao acesso aos materiais, à língua, às fontes de informação e seu funcionamento, à confiabilidade dessas fontes, às dúvidas na seleção das informações e até mesmo sobre o uso das informações encontradas, como mostram os depoimentos abaixo:

 

“Não encontro muita acessibilidade a materiais acadêmicos.” (G1); “Fontes não confiáveis, ou duvidosas. As informações podem ser falsas, ou imprecisas.” (G8); “Dificuldade de explicação de funcionamento e de prática.” (G11).

 

Sinto dificuldade para escolher a informação mais adequada. Existem as dúvidas: será que estou usando o melhor material? Escolhi certo? Mas, para as atividades cotidianas, geralmente, a seleção é mais fácil, porém, nas acadêmicas, as dificuldades parecem maiores. (G15).

 

De fato, as dificuldades apresentadas pelos participantes da pesquisa são pontos importantes a serem considerados. Lopez (2004) atenta para a qualidade da informação diante do crescente volume de informação disponibilizada na internet e destaca a necessidade de filtros para minimizar o excesso de informação. As dificuldades apontadas pelos estudantes podem ser justificadas pelo fato de a maioria ter declarado realizar as buscas na internet. Muitas vezes a variedade de tipos de fontes online cria dificuldades para os usuários.

 

Além das dificuldades relativas à busca de informações, os participantes da pesquisa foram questionados sobre quais fontes de informação que lhes causam mais desconforto. A biblioteca foi a mais citada pelos participantes (40 %), seguida da internet (33,3 %), das redes sociais (20 %) e do centro de apoio aos estudantes (20 %). São lembradas, ainda, a instituição de origem dos participantes (13,3 %), outras fontes (13,3 %) e os amigos (6,7 %).

 

Como afirmado anteriormente, tanto a dificuldade quanto o desconforto em relação às fontes de informação pode ser devido à quantidade de informação e à dificuldade em selecionar materiais de qualidade. Para Otelo (2006), o problema fundamental é o de selecionar, no imenso estoque de informações atualmente existente, aquelas que têm qualidade. Um aspecto importante que se pode observar é que a biblioteca aparece de forma negativa nas respostas à questão. Como essa fonte foi apontada como uma das menos utilizadas na busca de informações, pode-se inferir que o pouco uso da biblioteca estaria relacionado ao desconforto sentido pelos participantes em relação a esse ambiente.

 

Outros estudos de comportamento informacional já apontaram esse desconforto em relação à biblioteca. Casarin e Oliveira (2012), em seu estudo sobre o uso da informação no âmbito acadêmico, observaram que fatores ambientais, como a falta de tempo e sensação de desconforto durante a permanência na biblioteca, devido a suas características, influenciam no comportamento de busca dos usuários. Wilson e Walsh (1996) já traziam a ideia que as variáveis ambientais podem interferir no processo de busca.

 

Também é relevante salientar que o uso crescente das tecnologias de informação e comunicação, aliado ao grande volume de recursos eletrônicos disponível na internet, cujo acesso é provido muitas vezes pelas bibliotecas e instituições mantenedoras, são fatores que podem exercer influência sobre o uso da biblioteca para atividades que anteriormente ocorriam principalmente no ambiente físico da unidade de informação, como a busca na web, a consulta em bases de dados e o acesso a documentos eletrônicos, por exemplo.

 

Outra questão apresentada aos participantes é se a mudança de país poderia influenciar o comportamento de busca, devido aos novos costumes e cultura, e porque, na opinião deles, isso interferiria ou não. A maioria dos participantes acreditava que a mudança de país interferia na maneira como buscam a informação. Os participantes justificaram suas respostas de diferentes maneiras. O participante G1 declarou que esta mudança é devido a estar “longe da zona de conforto”. Já o participante G4 justificou sua resposta pelo fato de “enxergar o mundo de outra forma”. O idioma também foi apontado como um fator que influencia o comportamento de busca, como pode ser percebido nas respostas abaixo:

 

“Principalmente porque é em outro idioma que as informações que você buscar vão chegar até você. E isso já é uma mudança enorme.” (G5); “Se pode buscar informações qualificadas na língua desse outro país, ou seja, ampliar as possibilidades de fontes de informação.” (G8).

 

É importante mencionar que o comportamento de colegas de universidade pode servir como exemplo aos demais estudantes e influenciar a maneira pela qual se busca a informação, como pode ser percebido a seguir:

 

Não sei exemplificar exatamente o motivo, pois estou há dois meses na Espanha, mas acredito que ver meus colegas sempre com uma grande quantidade de livros e sempre indo na biblioteca me inspira a fazer mais isso, o que no Brasil não era tão comum. (G6).

 

Outros aspectos culturais também foram apontados como fatores que influenciavam o comportamento de busca. Esses fatores estavam relacionados com o trato que os moradores locais tinham em relação a eles, mas também acerca das regras locais sobre a divulgação da informação, como pode ser percebido nas respostas abaixo:

 

“Porque a forma de tratamento entre os sujeitos se altera com a cultura. Por exemplo, em Portugal a formalidade é maior e as pessoas são menos dispostas a te prestar informações pessoalmente.”(G13);

 

“Alguns sites são bloqueados, a maneira que a informação é exposta é diferente, as vezes não há tanto conteúdo.” (G14).

 

Já aqueles que declararam acreditar que a mudança de país não altera o comportamento de busca afirmaram que isso acontece devido à globalização proporcionada pela internet, que os faz sentirem-se confortáveis, independentemente do país em que se encontram. Porém, percebe-se pelas respostas dos participantes que relataram acreditar que a mudança de país influencia no comportamento de busca que a globalização trazida pela internet não é algo que responde de maneira integral às necessidades que surgem quando se vai para um lugar que possui cultura e costumes diferentes do lugar de origem.

 

3.3 Excesso de informação nos graduandos em mobilidade acadêmica no exterior

 

A fim de compreender se o excesso de informação interferia na satisfação quanto à busca e ao uso da informação, os participantes foram questionados sobre o volume de informação disponibilizado na internet e se isso prejudicava ou auxiliava na tomada de decisão em suas atividades, sejam estas cotidianas ou acadêmicas.

 

A maioria dos participantes (80 %) acreditava que o volume de informação era um auxílio na tomada de decisão. Através das respostas, nota-se que os participantes consideravam o volume de informação como algo positivo pelo fato de se ter um primeiro contato com aquilo que se busca, ou seja, servir como uma pesquisa de reconhecimento sobre o assunto que se necessita.

 

Alguns estudantes acreditavam que o volume de informação diminuía a dificuldade, tornando o processo de busca mais fácil. O participante G5 declarou acreditar que o grande volume de informação em alguns momentos auxilia e em outros prejudica.

 

O grande volume de informação também torna-se importante nos casos em que as fontes de informação especializadas são limitadas, como demonstra a declaração abaixo:

 

No caso da musicologia, em especial, auxilia, pois geralmente são poucas as fontes, e quando temos mais opções acabamos saindo no lucro. Um diferencial no caso da mobilidade é a oportunidade de ter acesso a uma maior gama de literatura, que no Brasil é muito escassa. (G6).

 

Analisando as respostas, é possível perceber que alguns participantes sentiam-se confortáveis ao lidar com o grande volume de informação e realizavam uma seleção para saber o que de fato necessitavam para a tomada de decisão, além de se preocuparem em utilizar fontes confiáveis, como se observa no relato abaixo:

 

Existem duas etapas: a de seleção da informação conforme objetivos e interesses em cada situação; em seguida, a sistematização da informação encontrada para a tomada de decisões. O volume de informação ajuda, mas se esta informação vier de fontes confiáveis, reconhecidas, e passar por um processo de análise (subjetivo) de sua relevância para cada momento. (G8).

 

O grande volume de informação disponível na internet representava um auxílio para os participantes por acreditarem que as possibilidades estavam sendo ampliadas. Porém, os graduandos também apontaram que é preciso saber selecionar o que se necessita para cada momento e avaliar as fontes encontradas a fim de utilizar material de qualidade. Dos respondentes da pesquisa, 20 % acreditavam que a grande quantidade de informação disponibilizada na internet era prejudicial, pois para eles era difícil escolher entre as várias opções disponíveis. Esse é um fator que possui relação com o sentimento de insegurança, pois além de ser necessário tempo para selecionar a informação é preciso certificação quanto à confiabilidade da fonte e se realmente será útil para responder ao que se necessita.

 

Outro motivo identificado diz respeito ao acesso e à forma como os países disponibilizam a informação, além do cuidado com a qualidade, como se pode notar na resposta a seguir:

 

Acredito que prejudica, pois, com a enorme quantidade de informações, acabo me dispersando, demorando para tomar uma decisão. Existem muitas informações e acabo tendo dificuldades para escolher a informação. Também me disperso com maior facilidade. Porém, uma quantidade maior de informações também pode me auxiliar no estudo. Por exemplo, no Brasil, como temos uma população grande, temos muito material disponível. Em Portugal, com uma população menor, a quantidade de informações me parece menor. Com menos opções, pode ser mais difícil encontrar a informação que nos interessa. Todavia, quantidade não quer dizer qualidade. É importante termos acesso a informações de qualidade. (G15)

Percebe-se que a preocupação dos participantes que afirmaram acreditar que o excesso de informação é prejudicial era em ter acesso a fontes confiáveis e, mesmo assim, ter certeza de que iriam utilizar informações de credibilidade. Tomaél e Valentin (2004) apontam como um dos critérios para a avaliação da qualidade das fontes de informação na internet exatamente a confiabilidade da informação, em que se deve levar em conta a autoridade e a responsabilidade dos produtores de informação.

 

Segundo Bawden e Robinson (2020), a sobrecarga informacional é a situação que acontece quando o uso efetivo e eficiente da informação pelo participante é dificultado pelo volume de informações relevantes e potencialmente úteis disponíveis. Os autores apontam que no extremo, a sobrecarga informacional pode levar a problemas de saúde mental e física, além da perda de eficiência.

 

Os participantes foram questionados se o excesso de informação afeta a sua memória, concentração e rendimento. Dos quinze respondentes, dez (66,7 %) declararam que o excesso de informação durante a busca na internet interferia no rendimento, pois a concentração e a memória são afetadas. Apenas cinco respondentes (33,3 %) não acreditavam que tais características fossem causadas pelo excesso de informação.

 

Os participantes que responderam de maneira positiva à questão creditavam o efeito negativo em seu rendimento, concentração e memória ao número de coisas a fazer e pensar, relacionadas com a grande quantidade de informação existente na internet, pois o excesso de informação faz com que não haja foco.

 

Os participantes ainda foram questionados se o excesso de informação afeta a vida acadêmica e cotidiana deles. A diferença nessa questão foi pequena: sete (46,7 %) acreditavam que não afeta e oito (53,3 %) declararam que o excesso de informação interfere, tanto no que se refere a assuntos acadêmicos como cotidianos.

 

Aqueles que responderam sim à questão explicaram que isso ocorre devido ao pouco tempo de sono, à dependência das tecnologias, à sobrecarga que o excesso de informação acarreta, fazendo com que não se consiga terminar as atividades a tempo, e à distração que a internet causa. Eles também relataram que o grande volume de informação na rede faz com que se perca tempo com coisas que poderiam ser resolvidas rapidamente, surgindo a indecisão. O participante G14 afirmou que as buscas relacionadas a informações jurídicas como “Doutrina e jurisprudência atualizando constantemente. Gera muita produção de informação.”.

Por fim, os participantes foram questionados sobre a satisfação em relação à busca e uso da informação e se isso era afetado em decorrência do excesso de informação. A maioria dos respondentes (66,7 %) declarou estar parcialmente satisfeitos em relação à busca e uso da informação, 20 % responderam não estar satisfeitos e apenas 13,35 % indicaram estar satisfeitos em relação à busca e uso da informação.

 

3.4 Ansiedade de informação nos graduandos em mobilidade acadêmica no exterior

 

Com o intuito de identificar as manifestações de ansiedade informacional causadas pelo excesso de informação nos graduandos em mobilidade acadêmica no exterior foram feitos alguns questionamentos a esses estudantes. Primeiramente foram apresentados comportamentos que podem indicar que lidar com a informação pode ser um problema na vida dos estudantes. Como pode ser visto na Tabela 1, a maioria deles (73,3 %) respondeu buscar informações em mais de uma fonte pelo receio acerca da veracidade do que encontrou.

 

Tabela 1

Comportamentos relacionados à ansiedade de informação em estudantes de universidades do sul do Brasil em mobilidade acadêmica no exterior no ano de 2017

Comportamentos indicativos

Números de alunos

Busca informações em mais de uma fonte, pois tem receio sobre a veracidade do que encontrou.

11

73,3 %

Fica nervoso por não saber lidar com tanto conteúdo acumulado.

7

46,7 %

Acha que a pessoa ao seu lado está entendendo tudo e você não.

6

40 %

Responde de maneira afirmativa sobre alguma notícia, autor, livro, filme ou sobre qualquer assunto, mesmo que nunca tenha ouvido falar.

2

13,3 %

Sente que é incapaz de explicar algo que pensava ter entendido.

2

13,3 %

Dá atenção excessiva a notícias que não têm qualquer impacto cultural, econômico ou científico em sua vida.

2

13,3 %

Fica com vergonha de dizer “Não sei” e inventar uma desculpa para não responder a algum questionamento.

0

0 %

Total

15

100 %

Fonte: Dados da pesquisa (2017 adaptado de Wurman 1991).

 

Como Tabela 1 aponta, os estudantes se preocupavam com a credibilidade da informação, ao ponto de buscar em mais de uma fonte a mesma informação. Esse comportamento é um indicativo que a informação causa incerteza nos participantes diante dos dados encontrados durante o processo de busca.

 

Outra manifestação da ansiedade informacional, indicada por 46,7 % dos participantes da pesquisa, é que estes ficam nervosos por não saberem lidar com o tanto conteúdo acumulado. No estudo realizado por Oliveira (2011), 49,6 % dos participantes informaram que não se sentem atualizados com o mundo a sua volta. Para Shedroff (2005, p. 15),

 

[...] o que de fato nos afeta mental e emocionalmente - e às vezes até fisicamente – é a ansiedade que nos invade quando tentamos ficar a par do mundo à nossa volta. A começar pelo pressuposto cultural de que “estar atualizado” é o mínimo que se espera de nós.

 

Entre os participantes, 40 % afirmaram acreditar que os pares compreendem todas as informações que recebem, enquanto eles próprios não têm a mesma habilidade. Dado semelhante foi observado no estudo de Oliveira (2011), no qual 40,8 % dos participantes apresentaram tal comportamento.

 

Dois estudantes afirmaram responder de maneira afirmativa quando indagados sobre alguma notícia, autor, livro, filme ou sobre qualquer assunto, mesmo que nunca tenham ouvido falar sobre eles (13,3 %). Essa questão foi apontada por 17,6 % dos participantes da pesquisa de Oliveira (2011). “Uma forma de ansiedade é a perigosa arrogância de saber antes dos outros.” (Shedroff, 2005, p. 16).

 

É importante destacar que 13,3 % dos participantes declaram se sentir incapazes de explicar algo que pensavam ter entendido. Essa manifestação foi apontada por 41,6 % dos participantes da pesquisa realizada por Oliveira (2011). A incapacidade de explicar o que acreditávamos ter entendido pode estar relacionada com a falta de compreensão diante de um determinado assunto. Nesse sentido, Wurman (2005) acredita que uma maneira de saber se compreendemos algo é explicar essa coisa a alguma pessoa.

 

Por fim os participantes declararam dar atenção excessiva a notícias que não têm qualquer impacto cultural, econômico ou científico em suas vidas (13,3 %). No estudo de Oliveira (2011), 48,8 % dos participantes manifestaram esse comportamento. Shedroff (2005) fala sobre a falsa ideia de que precisamos estar sempre atualizados e bem-informados:

 

Infelizmente como compramos a ideia de que a atualização é imprescindível e de que precisamos estar sempre “bem informados”, esquecemos que a qualidade das notícias não pode ser substituída nem pela velocidade da divulgação e nem pela quantidade de detalhes insignificantes. (Shedroff, 2005, p. 16).

 

Percebe-se através das respostas que os participantes manifestavam alguns comportamentos característicos da ansiedade de informação, cujos traços podem ser identificados por meio de determinadas características. A fim de saber quais manifestações os estudantes acreditavam ter, foram apresentadas algumas características que podem ser consequência da ansiedade informacional. Essas manifestações podem ser físicas e/ou mentais. Os resultados são apresentados na Tabela 2.

 

Tabela 2

Manifestações em consequência do excesso de informação

Consequência do excesso de informação

Números de alunos

Estresse

9

60 %

Dependência das tecnologias

7

46,7

Queda de rendimento

6

40 %

Alteração de humor

6

40 %

Irritabilidade

5

33,3 %

Distúrbios no sono

3

20 %

Distúrbio na memória

2

13,3 %

Perturbação

2

13,3 %

Mal-estar

2

13,3 %

Dor de cabeça

2

13,3 %

Indisposição

1

6,7 %

Isolamento

1

6,7 %

Outros

1

6,7 %

Tontura

0

0 %

Vertigem

0

0 %

Total

15

100 %

Fonte: Dados da pesquisa (2017 adaptado de OLIVEIRA, 2011).

 

Outro sintoma, como a ansiedade propriamente dita, foi citado pelo estudante G15.

 

O estudo de Akin (1998, p. 1, tradução nossa) sobre a sobrecarga informacional, com duzentos e sessenta e cinco alunos do ensino público elementar do Texas, nos Estados Unidos, apontou que estes alunos “[...] experimentam sentimentos de confusão, frustração, irritação, fúria, estresse, tensão e pânico, além de sintomas físicos, como dor de cabeça, cansaço, depressão, fadiga e doenças.” De acordo com Izquierdo (2011, p. 80), o excesso de informação que gera manifestações de ansiedade, afeta a memória e prejudica o aprendizado:

 

Todos sabemos por experiência própria que os estados de ânimo, as emoções, o nível de alerta, a ansiedade e o estresse modulam fortemente as memórias. Um aluno estressado ou pouco alerta não forma corretamente memórias numa sala de aula. Um aluno que é submetido a um nível alto de ansiedade depois de uma aula, pode esquecer aquilo que aprendeu. Um aluno estressado na hora da evocação (numa prova, por exemplo) apresenta dificuldades para evocar (o famoso “branco”); outro que, pelo contrário, estiver bem alerta, conseguirá recordar muito bem.

 

Os participantes desta pesquisa também foram questionados sobre como se sentem diante da quantidade de informação disponibilizada na rede e se a internet era a principal causa da ansiedade informacional na opinião deles.

 

Sobre esse ponto, as opiniões foram diversas e apenas três participantes responderam de maneira direta, com sim ou não. Agrupando as respostas similares, pode-se afirmar que oito participantes sentiam que a quantidade de informação interferia na sua vida e que ela era a causadora da ansiedade de informação. Dois respondentes acreditavam que ela interferia em parte, mas não acreditavam que a quantidade de informação disponibilizada na internet fosse a única causa para a ansiedade informacional. Outros cinco não consideravam que esse aspecto interferia em sua vida ou fosse a causa de sua ansiedade.

 

Muitos pontos trazidos anteriormente ressurgem nessa questão, como a preocupação com a veracidade e a confiabilidade da informação, demonstrada pelos participantes G2 e G5. O participante G3 apresentou um comportamento típico da ansiedade informacional, ao afirmar que a ansiedade se dá não pela quantidade de informação disponibilizada na internet, mas sim pela cobrança em absorver todas as informações e conhecimentos. O estudante G10 declarou que se sente “perdida, sinto que nunca saberei tudo”. De acordo com Wurman (1991, p. 60), “sendo capaz de admitir que não sabe, você fica mais propenso a formular as perguntas que lhe permitirão aprender.” A aceitação levará a compreensão e, como foi afirmado pelo autor, somente quando compreendemos é que de fato aprendemos. O participante G14 declarou que se sente perdida, mas quando se organiza consegue aproveitar boa parte da informação.

 

A fim de compreender melhor o comportamento dos participantes e deixá-los mais livres para responder, questionou-se acerca de outros fatores, além do informacional, que pudessem gerar a ansiedade de informação. A grande maioria indicou que questões relacionadas a despesas são as que mais os preocupam, com 86,7 % das indicações. Outro fator mencionado foi a distância da família, com 60  % das indicações, seguido pela forma de ensino e tipo de avaliação realizada pela instituição de ensino escolhida para a mobilidade acadêmica, indicado por 53,3 % dos participantes. Ainda foram apontadas as questões relativas ao fuso horário (40 %), dos novos costumes e cultura (26,7  %), e outros fatores, que apareceram com 20 % das indicações.

 

4 Considerações finais

 

O objetivo principal do presente estudo foi identificar através do comportamento informacional de graduandos em mobilidade acadêmica no exterior se o excesso de informação causava manifestações características da ansiedade de informação. Foi possível traçar um perfil dos estudantes, que eram jovens entre vinte e um e vinte e cinco, na sua maioria do sexo feminino, provenientes de IES privada e do curso de Direito, que escolheram Portugal para realização dessa modalidade de ensino. Estes estudantes foram em busca de desenvolvimento pessoal e profissional e para isso desejavam ter novas experiências e conhecer novas culturas e costumes.

 

Quando se trata da busca de informações acadêmicas ou cotidianas, observou-se que a maioria dos participantes utilizava fontes de informação na internet, bem como as redes sociais e a consulta a amigos. A dificuldade em relação às fontes de informação estava ligada à acessibilidade e à confiabilidade da informação encontrada. Verificou-se também a pouca utilização da biblioteca por estes estudantes, que manifestavam desconforto diante dela. Para os participantes da pesquisa, a mudança de país interferia na maneira de buscar a informação, pois nem mesmo a globalização da internet era capaz de responder de maneira integral às necessidades informacionais surgidas quando se está em um lugar com cultura e costumes diferentes.

 

Os participantes da pesquisa acreditavam que o excesso de informação era um auxílio na tomada de decisão, porém notou-se a preocupação com a confiabilidade e a veracidade da informação. Eles, em sua maioria, apresentavam manifestações indicativas da ansiedade informacional e mostravam desconforto em manipular a informação, gerando incerteza diante das informações recuperadas. A maioria acreditava que o volume de informação era a principal causa da ansiedade informacional.

 

Pode-se concluir que o excesso de informação afetou o comportamento informacional, causando efeitos característicos da ansiedade de informação nesses participantes. Contudo, percebeu-se também uma preocupação recorrente com a credibilidade, a confiabilidade e a veracidade da informação disponibilizada na internet.

 

Com isso, é possível considerar que o desconforto durante a busca foi um reflexo do desconhecimento desses participantes em relação às fontes de informação adequadas para cada área, particularmente as fontes de informação na internet. Se estes estudantes conhecessem as fontes adequadas para a busca, lidar com o volume de informação disponibilizada na internet talvez não houvesse ou seriam amenizados os problemas em relação a ansiedade informacional.

 

Uma maneira de lidar com esse problema identificado na pesquisa seria fazer com que os estudantes reconhecessem as fontes adequadas para realizar suas buscas e recorressem aos serviços da biblioteca, mais precisamente ao bibliotecário, que é o profissional que tem como competências compreender o processo de busca da informação e facilitar o reconhecimento e o acesso às fontes de informação mais adequadas para cada área, entendendo a necessidade individual de cada usuário.

 

Por fim, indica-se que estudos voltados ao comportamento informacional e os aspectos que influenciam a busca e uso da informação principalmente em relação às fontes de informação na internet tenham continuidade. Percebe-se ainda a importância do idioma tanto na busca por informações, quanto para a escolha do país onde será realizada a mobilidade acadêmica, dessa forma estudos que relacionem o domínio da língua falada com a busca por informações sejam indicados. Outro fator que justifica a continuidade desse estudo é o papel da biblioteca e do bibliotecário diante da globalização da informação e como esse profissional pretende capacitar os usuários da informação diante das ferramentas digitais existentes e pouco ou mal exploradas pela comunidade.

 

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[1] Dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES é um órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC) e desempenha papel fundamental na desempenha papel fundamental na expansão e consolidação da pós-graduação stricto sensu no Brasil) apontam que no período de 2017 a 2019 havia 19.512 bolsas de estudos ativas no Brasil e no exterior de programas de mobilidade internacional (Brasil, 2021).

[2] Informações fornecidas pelo site do Banco Santander. Disponível em: http://www.becas-santander.com/. Acesso em: 8 jun. 2017.