DOI 10.15517/revenf.v0i40.41724
Atuação do
enfermeiro no contexto da acreditação hospitalar: uma revisão integrativa[1]
Nurse’s performance in the contexto of
hospitalar accreditation: na integrative review
El desempeño del enfermero en el contexto de acreditación
hospitalaria: una revisión integrativa
Simone Graziele Silva Cunha[2],
Karine Pereira Torres[3],
Mariely Helena Gomes de Morais[4],
Stefany dos Santos e Alves[5],
Andréia Guerra Siman[6],
Maria José Menezes Brito[7]
RESUMO
Objetivo: compreender a atuação do enfermeiro
no contexto da Acreditação Hospitalar. Metodo: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada de janeiro
a junho de 2019, nas bases Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências
da Saúde, Bases de Dados Específica da Enfermagem, Cumulative Index to Nursing and
Allied Health Literature (CINAHL) e Medical
Literature Analysis and Retrieval System Online. Foram selecionados artigos
originais, nos idiomas português, inglês e espanhol, que apresentassem relatos
ou experiências da atuação do enfermeiro em contextos de Acreditação Hospitalar
da Organização Nacional de Acreditação. Os artigos foram analisados por meio da
análise de conteúdo. Resultado: Como resultado encontraram-se 10 artigos
que respondiam ao objetivo do estudo e emergiram três categorias temáticas
referentes ao papel do enfermeiro: Assistencial, Administrativo e Educativo. Na
assistência, o enfermeiro exerce atividades de avaliação de resultados e ações,
emprego e elaboração de indicadores, aplicação de protocolos, controle de
medicamentos, produtos e equipamentos, articulação entre a equipe
multiprofissional e incorporação de medidas de segurança. No administrativo,
realização de planejamento, estabelecimento de metas, participação em
comissões, desenvolvimento de políticas de qualidade e reorganização do
trabalho. Como educador, o enfermeiro desenvolve ações de fortalecimento da
cultura de segurança e qualidade. Conclusão: que o enfermeiro possuía competências e habilidades
que auxiliavam no processo de Acreditação Hospitalar, importantes para o
credenciamento da instituição hospitalar.
Descritores: Acreditação
Hospitalar; Enfermagem; Gestão da
Qualidade.
ABSTRACT
Objective: Understand the role of nurses in the context of
Hospital Accreditation. Method: This was an integrative literature
review, carried out between January and June 2019, on the basis of Latin
American and Caribbean Literature in Health Sciences, Specific Nursing
Databases, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature and Medical
Literature Analysis and Retrieval System Online. Original articles were
selected, in Portuguese, English and Spanish, that presented reports or
experiences of the nurse's performance in contexts of Hospital Accreditation of
the National Accreditation Organization. The articles were analyzed through
content analysis. Results: As a result, 10 articles were found that
responded to the objective of the study and emerged three thematic categories
referring to the role of the nurse: Assistance, Administrative and Educational.
In care, nurses perform activities to evaluate results and actions, use and
develop indicators, apply protocols, control medications, products and
equipment, articulation between the multidisciplinary team and incorporation of
safety measures. In the administrative area, carrying out planning, setting
goals, participating in commissions, developing quality policies and
reorganizing work. As an educator, the nurse develops actions to strengthen the
culture of safety and quality. Conclusion: that was understood that the
nurse had skills and abilities that assisted in the Hospital Accreditation
process, which were important for the accreditation of the hospital institution.
Descriptors: Hospital Accreditation; Nursing; Quality
Management.
RESUMEN
Objetivo: comprender el papel del enfermero en el contexto de la acreditación
hospitalaria. Método: Se trata de una revisión integrativa de la
literatura, realizada entre enero y junio de 2019, sobre la base de la
literatura latinoamericana y caribeña en ciencias de la salud, bases de datos
de enfermería específicas, índice acumulativo de literatura de enfermería y
salud afín y sistema de análisis y recuperación de literatura médica en línea.
Se seleccionaron artículos originales, en portugués, inglés y español, que
presentaban informes o experiencias sobre el desempeño del enfermero en contextos de acreditación
hospitalaria de la Organización Nacional de Acreditación. Los artículos fueron
analizados mediante análisis de contenido. Resultados: Como resultado,
se encontraron 10 artículos que respondieron al objetivo del estudio y
emergieron tres categorías temáticas relacionadas con el rol del enfermero:
Asistencial, Administrativo y Educativo. En el asistencial, el enfermero
realiza actividades para evaluar resultados y acciones, usar y desarrollar
indicadores, aplicar protocolos, controlar medicamentos, productos y equipos,
articulación entre el equipo multidisciplinario e incorporación de medidas de
seguridad. En el área administrativa, realiza la planificación, establece
metas, participa en comisiones, desarrolla políticas de calidad y reorganiza el
trabajo. Como educador, el enfermero desarrolla acciones para fortalecer la
cultura de seguridad y calidad. Conclusión: el enfermero tenía habilidades
y destrezas que ayudan en el proceso de acreditación del hospital, que son
importantes para la acreditación de la institución hospitalaria.
Descriptores: Acreditación de
Hospitales; Enfermería; Gestión de Calidad.
INTRODUÇÃO
Hospitais
que visam certificar o serviço prestado ao paciente e garantir a qualidade do
cuidado têm buscado a Acreditação Hospitalar (AH)1. Esta
certificação pode ser adquirida por meio da Organização Nacional de Acreditação
(ONA) e por organizações internacionais como a Joint Comission Internacional
(JCI), a Canadian Councilon Health Services Accreditation, entre outras2.
A ONA é um
órgão de acreditação brasileira que se dá in loco, sendo classificada em: nível
1 ou denominado Acreditado (tem como princípio a segurança), nível 2 ou
Acreditado Pleno (visa além da segurança a organização) e o nível 3 ou
Acreditado com Excelência (tem como princípio segurança, organização, práticas
de gestão e qualidade)3.
O
credenciamento oportuniza implementar mudanças no trabalho que correspondam às
necessidades dos pacientes, bem como manter serviços de qualidade visando a um
melhor atendimento4. Em contrapartida, pode gerar estresse e
sobrecarga de trabalho aos colaboradores devido às exigências na melhoria do
desempenho da prática profissional5.
Sabe-se que
os colaboradores são essenciais para o êxito da certificação, e o enfermeiro se
destaca assumindo funções assistenciais e gerenciais no trabalho e na
liderança, proporciona apoio a equipe, presta assistência a pessoa desde sua
admissão até a alta hospitalar e direciona as ações de segurança do paciente6.
Um estudo de revisão anterior, deixou clara a
necessidade do enfermeiro desenvolver competências gerenciais capazes de
promover um elo entre os objetivos organizacionais e o da equipe. Ademais,
relata que o enfermeiro deverá aprimorar seus conhecimentos, habilidades,
tecnologias, liderança e comunicação para contribuir com o processo de AH7.
Assume-se
que o enfermeiro desempenha papel crucial na definição e implementação dos
processos de avaliação e monitoramento que impactam nos critérios da AH e,
consequentemente, qualidade do cuidado.
A questão de revisão do presente estudo foi “Qual o
papel do enfermeiro em hospitais para a obtenção da AH da ONA?” Este estudo justificou-se por permitir a
reflexão acerca das atribuições do enfermeiro na AH, explicitando sua
importância e valorização. Objetivou-se compreender a
atuação do enfermeiro no contexto da AH.
MÉTODO
A revisão integrativa da literatura
permitiu a síntese e análise de resultados de pesquisas já realizadas
anteriormente8 e no presente estudo possibilitou a investigação
sobre a atuação do enfermeiro no contexto da AH, com suas conclusões e lacunas
do conhecimento.
O estudo foi conduzido por meio da
realização das seguintes etapas: formulação do problema, busca na literatura,
organização e categorização, interpretação e apresentação dos resultados9.
A revisão foi realizada no período de
janeiro a junho de 2019, com base na metodologia Preferred Reporting Items for
Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), sendo norteada pela questão de
revisão: “Qual o papel do enfermeiro nos hospitais para
obter a AH da ONA?” Para a formulação da pergunta utilizou-se a mnemónica
PICO que é utilizada para construir questões de pesquisa e maximizar a
recuperação de evidências nas bases de dados.
O PICO representa um acrônimo para População,
Intervenção, Comparação ou Controle e Outcomes
(desfecho)10. Desse modo, a pergunta foi definida utilizando os
seguinte critérios: a população foi enfermeiro hospitalar, podendo ser estudo
que apresenta-se um único enfermeiro ou um grupo de enfermeiros; a intervenção
foi o papel do enfermeiro na AH; optou-se por não utilizar nenhuma comparação;
e por fim o desfecho esperado foi obtenção da AH da ONA.
Diante disso, os critérios de inclusão
foram: estudos que apresentassem relatos e/ou experiências da atuação do
enfermeiro que atuam em hospitais em locais onde tenham ocorrido AH da ONA.
Além disso, buscou-se por publicações nos idiomas inglês, espanhol e português,
completos e indexados nas bases eletrônicas. Foram
excluídos estudos que apresentaram experiência de outros profissionais de
saúde, que abordavam outro órgão acreditador e/ou que abordavam
concomitantemente a ONA e outro órgão acreditador.
Seguidamente
foram selecionadas as palavras-chave que permitiram realizar a pesquisa. Foi
consultado Descritores em Ciências da
Saúde (DECS) e selecionado: “Acreditação Hospitalar”, “Enfermagem” e “Gestão da
Qualidade”. Já no Medical Subject Headings (MeSH) foi selecionado: “Gestão da
Qualidade Total” e “Acreditação”.
O operador
booleano utilizado foi AND que permitiu realizar uma combinação restritiva.
Utilizou-se como estratégias de busca: "Acreditação Hospitalar" AND
"Enfermagem", "Acreditação Hospitalar" AND
"Enfermagem" AND "Gestão de qualidade" nas bases de dados Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Bases de Dados
Específicas da Enfermagem (BDENF) e Cumulative Index to Nursing and Allied
Health Literature (CINAHL).
Na base de
dados Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE)
utilizou-se as palavras controladas “Gestão da Qualidade Total” AND
“Acreditação” e palavras não controladas como: “Organização Nacional de
Acreditação” AND “Enfermagem”.
A análise dos artigos selecionados ocorreu
por meio da análise de conteúdo, organizada em três polos cronológicos:
pré-análise ou organização literal dos dados foi realizado a seleção dos
artigos conforme os critérios de inclusão, leitura flutuante e formulações
iniciais de possíveis interpretações finais; a exploração do material os
artigos passaram pelo processo de codificação em função dos critérios
estabelecidos; os artigos foram tratados de maneira a serem significativos e
interpretados11. Mediante a análise emergiram três categorias
temáticas referentes ao papel do enfermeiro: Assistencial, Administrativo e
Educador.
RESULTADOS
Na primeira estratégia de busca obteve-se
155 artigos: 28 LILACS, 35 BDENF e 92 CINAHL. Na segunda foram 32 artigos: 19
LILACS, 10 BDENF e 3 CINAHL. Já com as estratégias utilizada na base de dados
da MEDLINE foram encontrados 61 artigos utilizando as palavras controladas e 5
artigos com as palavras não controladas. Totalizaram-se 253 artigos.
Em seguida foi realizada uma triagem por
meio da leitura dos títulos e resumos, sendo retirados os artigos duplicados e
que não se enquadravam dentro dos critérios de inclusão, assim, foram
selecionados 48 artigos. Na sequência, os artigos foram lidos, na íntegra, e 10
respondiam à questão de revisão deste
estudo.
Para garantir o critério de elegibilidade
e credibilidade, a seleção dos artigos foi realizada por três pesquisadoras
independentes, concomitantemente, com os mesmos critérios em todas as bases de
dados. Em casos discordantes eram resolvidos por consenso ou por intermédio de
um quarto pesquisador.
Foram
incluídos 10 estudos, publicados no período entre 2006 a 2018, sendo seis
quantitativos e quatro qualitativos. A seguir são apresentados os artigos
selecionados, autores, título, ano, tipo de estudo e as três categorias
temáticas: Assistencial, Administrativo e Educador, que são relacionadas ao
papel do enfermeiro, conforme Tabela 1.
Tabela 1 – Síntese dos resultados dos estudos publicados entre
2006 a 2018, apresentados por autores, título, ano, tipo de estudo e categorias
temáticas.
Autores, títulos e ano |
Tipo de estudo |
Categorias temáticas |
|
1
|
Feldman LB,
Cunha ICKO. Identificação dos critérios de avaliação de resultados do serviço
de enfermagem nos programas de acreditação hospitalar. 200612 |
Estudo exploratório, descritivo e quantitativo. |
Assistencial: avaliar
resultados e ações assistenciais Administrativo: realizar planejamento e metas Educador: ensinar o autocuidado, treinamentos, promover a educação
continuada, discussão
de casos clínicos e desenvolvimento de pesquisa |
2 |
Manzo BF, Ribeiro HCTC,
Brito MJM, Alves M. A enfermagem no processo de acreditação hospitalar:
atuação e implicações no cotidiano de trabalho. 201213 |
Pesquisa qualitativa. |
Assistencial: emprego e elaborar indicadores Administrativo: participar de
comissões e reorganização do processo de trabalho Educador: desenvolvimento
de pesquisas e discussão de casos clínicos |
3 |
Feldman LB,
Cunha ICKO, D’Innocenzo M. Validação dos critérios de processo para avaliação
do serviço de enfermagem hospitalar. 201314 |
Estudo descritivo,
quantitativo. |
Assistencial: descrição e
aplicação dos protocolos, aplicação da Sistematização da Assistência de
Enfermagem (SAE) e controle dos medicamentos |
4 |
Maziero VG, Spiri WC.
Significado do processo de acreditação hospitalar para enfermeiros de um
hospital público estadual. 201315 |
Estudo descritivo e exploratório de abordagem
qualitativa. |
Assistencial: emprego e
elaboração de indicadores Administrativo: reorganização de processos de trabalho e fazer auditoria Educador: promover
educação continuada, discussões de casos clínicos e desenvolvimento de
pesquisa |
5 |
Siman AG, Brito
MJM, Carrasco MEL. Participação do enfermeiro gerente no processo de
acreditação hospitalar. 201416 |
Estudo
de caso qualitativo. |
Assistencial: articulação com a equipe
multiprofissional e avaliar resultados e ações assistenciais Administrativo: implantar,
manter e desenvolver políticas de qualidade |
6 |
Fernandes HML, Peniche ACG.
Percepção da equipe de enfermagem do Centro Cirúrgico acerca da Acreditação
Hospitalar em um Hospital Universitário. 20155 |
Estudo de abordagem
quantitativa, exploratório-descritivo. |
Assistencial: incorporação das medidas de segurança
nos procedimentos, prática baseada em evidências, controle de validade de
produtos, rigor nas manutenções preventivas e corretivas de equipamentos,
política de notificação de eventos adversos, emprego e elaboração de
indicadores, articulação com a equipe multiprofissional Administrativo: promover
gerenciamento de risco |
7 |
Domingues AL,
Martinez MR. Educação permanente e acreditação hospitalar: um estudo de caso
na visão da equipe de enfermagem. 201717 |
Estudo
de caso descritivo, de abordagem quantitativa. |
|
8 |
Oliveira JLC, Hayakawa LY,
Versa GLGS, Padilha EF, Marcon SS, Matsuda LM. Atuação do enfermeiro no
processo de acreditação: percepção da equipe multiprofissional hospitalar.
20172 |
Pesquisa descritiva,
exploratória e qualitativa. |
Assistencial: avaliar resultados e ações
assistenciais e incorporação das medidas de segurança nos procedimentos Administrativo: elaborar e
promover regras e normas da AH Educador: promover a
educação continuada e disseminar a cultura de qualidade |
9 |
Gabriel CS,
Bogarin DF, Mikael S, Cummings G, Bernardes A, Gutierrez L, Caldana G.
Perspectiva dos enfermeiros brasileiros sobre o impacto da acreditação
hospitalar. 201818 |
Estudo
quantitativo, descritivo e exploratório. |
Assistencial: avaliar resultados e ações
assistenciais Administrativo: realizar
planejamento e metas, implementar, manter e desenvolver políticas de
qualidade Educador: discussões de
casos clínicos e disseminar cultura de qualidade |
10 |
Braga AT, Pena MM, Pinhel
I. O que significa trabalhar em hospital acreditado? Percepção da equipe de enfermagem. 201819 |
Estudo quantitativo,
exploratório e descritivo. |
Assistencial: avaliar resultados e ações
assistenciais Administrativo: elaborar e
promover regras e normas da AH |
Fonte:
Elaborado pelos autores, 2020.
DISCUSSÃO
O
enfermeiro foi apontado como o ator principal na busca pela certificação,
possuindo atribuições importantes para a conquista do selo de qualidade,
atuando na assistência, administração e educação.
O papel
assistencial do enfermeiro na AH
Esta
categoria apontou que o enfermeiro exerce o papel assistencial que incluem
algumas atividades: avaliar resultados e ações assistenciais, empregar e
elaborar indicadores, descrever e seguir protocolos, aplicar a Sistematização
da Assistência de Enfermagem (SAE), controlar medicamentos e validade dos
produtos, realizar a manutenção preventiva e corretiva de equipamentos,
articular com a equipe multiprofissional e incorporar medidas de segurança nos
procedimentos adotando a política de notificação de eventos adversos e Práticas
Baseadas em Evidências (PBE).
Na
avaliação do serviço o enfermeiro utiliza indicadores para estabelecer medidas
apropriadas da eficácia e eficiência da assistência realizada15.
Essa avaliação proporciona a definição de estratégias que precisam ser
implementadas com vistas a tomada de decisões clínicas efetivas12,19.
Para a
tomada de decisões clínicas é importante que os enfermeiros avaliem, atuem e
reavaliem a prática da enfermagem utilizando a PBE, que pode ser estabelecida
por informações obtidas por meio de evidências empíricas, éticas, pessoais e
estéticas que o paciente apresenta. Essa prática irá assegurar cuidados de
saúde coordenados e promover melhores resultados. Acrescenta-se que a PBE pode
contribuir para o aumento da margem de lucro de uma organização e justificar
investimentos adicionais20.
É
imprescindível a aplicação da PBE, visando evitar negligências, pois de ações
inseguras nos processos assistências podem emergir riscos na administração de
medicamentos, dificuldades na comunicação entre a equipe interdisciplinar e deficiências na continuidade do atendimento21.
O emprego
da SAE também resulta em avanços nos processos assistências, propiciando a
obtenção de informações efetivas, definição das ações, gerando credibilidade e
autonomia ao enfermeiro, bem como o respeito às necessidades do paciente14.
Estudo
desenvolvido em hospitais na Coréia do Sul revelou que com a acreditação os
enfermeiros tomaram conhecimento sobre o conceito de segurança do paciente e
elaboraram diretrizes e protocolos com linguagem mais clara. Os autores expõem
que antes da acreditação havia ambiguidade e falta de clareza na descrição dos
procedimentos e nas responsabilidades dos enfermeiros quando ocorriam
incidentes. Após a AH esses profissionais sabem como notificar os eventos e
possuem indicadores específicos que os auxiliam na identificação das falhas22.
A equipe de
enfermagem percebe que a AH incorpora mudanças físicas e estruturais na
instituição, para assegurar procedimentos e práticas assistenciais. Assim, o
enfermeiro controla a manutenção preventiva e corretiva de equipamentos, bem
como identifica e supervisiona a validade dos produtos e assume o controle de
medicamentos da unidade em conjunto com farmacêutico5,14.
O
papel do enfermeiro em contextos de acreditação é feito com a finalidade de
proporcionar a padronização das técnicas e maior segurança da equipe nos
processos de trabalho5. Sabe-se que o enfermeiro é o profissional que
atua em vários níveis de assistência na instituição, realizando atendimento ao
paciente desde sua entrada até a alta hospitalar ou fim da vida, o que torna a
participação desse profissional essencial nas atividades relacionadas ao
processo de AH13. Entretanto, é importante ressaltar que toda a equipe
interdisciplinar deve estar engajada na AH e não somente o enfermeiro, visto
que o processo repercute em todos os profissionais. Assim para que a
certificação seja implementada e consolidada é preciso envolver todos os
colaboradores19,5.
O papel
administrativo do enfermeiro na AH
O
enfermeiro atua nos níveis estratégicos, intermediários e operacionais ultrapassando as funções assistências e
assumindo ações no âmbito administrativo. Dessa forma, o enfermeiro participa
da pré-visualização do processo, implementação, supervisão e multiplicação dos
princípios da AH. As ações administrativas realizadas pelos enfermeiros,
encontradas neste estudo, estão relacionadas à realização de planejamentos e
estabelecimento de metas; participação em comissões; reorganização de processos
de trabalho; realização de auditoria; implementação, manutenção e
desenvolvimento de políticas de qualidade; gerenciamento de risco; elaboração
de regras e normas da AH.
Para
realizar essas ações os enfermeiros assumem importante papel na liderança,
tendo como base a responsabilidade social, ética, o dinamismo e a visão
sistêmica e, ainda, conciliando os objetivos da instituição com os da equipe e
organizando o trabalho23.
O
enfermeiro é, responsável por elaborar, promover e acompanhar o cumprimento de
regras e normas que visam o alcance e manutenção na AH, bem como disseminar a
cultura de qualidade2. Para isso, desenvolve planos de qualidade,
baseados em dados provenientes da satisfação do paciente, participação do
pessoal e benefícios da acreditação, definindo as prioridades para melhorar a
qualidade da assistência18.
Estudo
realizado em Ruanda aponta que apesar da existência de padrões
pré-estabelecidos para a AH é importante que o hospital tenha flexibilidade
para criar suas próprias políticas, protocolos e normas e, dessa forma, atender
às suas necessidades reais, implementando políticas ideais para o seu contexto24.
Verifica-se
que a AH promove uma organização na instituição. Desse modo, os enfermeiros
utilizam impressos, registros, ferramentas de qualidade5, controle
de custos e perdas19,1 e realizam a auditoria interna15,
para estabelecer o gerenciamento de risco e instituir as necessidades da
instituição, padronização das técnicas e melhoria do funcionamento da
instituição25.
Ademais, os
profissionais participam de comissões e grupos interdisciplinares com vistas a
monitorar os riscos, eventos adversos, contingentes e sentinela, bem como para
tomar decisões assertivas em relação aos padrões da AH13.
A AH
oportuniza a mobilização de competências, críticas, melhor desempenho e valor
intelectual e profissional ao enfermeiro. No entanto, observou-se que é
necessário mais tempo para se dedicar as atividades de acreditação e o
profissional precisa ser reconhecido e valorizado para tais atividades13,15.
O papel
educador do enfermeiro na AH
Os
resultados deste estudo apontaram que o enfermeiro assume o papel de educador,
com ações direcionadas para ensinar o autocuidado ao paciente e à equipe
multiprofissional; oferecer treinamentos; promover a educação continuada;
disseminar a cultura da qualidade; discutir casos clínicos e desenvolver
pesquisas.
O profissional
se posiciona como guia na busca e no cumprimento das normas da qualidade, um
líder para mudar os processos internos e externos da instituição quando
necessário, e educador, que deve atuar com olhar crítico, aptidão para avaliar,
sendo capaz de intervir, promover e disseminar a cultura da qualidade entre a
equipe interdisciplinar e paciente15,2.
A principal
fonte de cuidado e contato contínuo com o paciente é a equipe de enfermagem a
qual tem função de oferecer uma assistência de qualidade, contínua e individualizada,
responsabilizando-se pelo conforto, acolhimento e bem estar do indivíduo,
família e comunidade. O enfermeiro orienta o paciente a respeito das normas
hospitalares, sobre seus direitos e deve fornecer informações completas,
verdadeiras e precisas sobre os procedimentos a serem realizados13.
Visando um
cuidado personalizado e, com vistas a proporcionar treinamentos que evitem
futuras falhas, as queixas dos pacientes são estudadas para identificar os
erros e padrões que devem ser implementados para evitar que os mesmos problemas
se repitam18. Os casos clínicos também são analisados, permitindo a
troca de experiências e enriquecendo a metodologia da assistência prestada12,25.
A AH favorece a troca de saberes
entre a equipe, uma vez que os
profissionais discutem questões relacionadas às
necessidades do atendimento, promovendo um ambiente organizado e capacitado
para atender ao paciente13,26. Sabe-se que o reflexo de uma boa implementação dos
padrões da AH é a satisfação do paciente, assim, nada adianta uma estrutura
física e mudanças de protocolos se o paciente não está satisfeito2.
O processo
de educação, orientação e cuidado ao paciente não é apenas da enfermagem, mas
também de uma equipe interdisciplinar, desse modo, faz-se necessário incluir as
demais categorias profissionais visando contemplar uma prática de cuidado
completo e com diferentes perspectivas18.
A educação
no trabalho é uma prática de transformação crítica e propositiva que visa
realizar mudanças no serviço e na atuação dos profissionais17, bem
como, refletir sobre o perfil profissional que se pretende alcançar15.
O credenciamento incentiva o treinamento dos profissionais de saúde visando
promover melhores práticas, como dito por um estudo realizado na Arábia
Saudita. Essa capacitação é capaz de acelerar uma mudança profissional e
cultural voltada para a qualidade das atividades4.
Um estudo
realizado com 1.312 enfermeiros em cinco hospitais no Irã aponta que a educação
e treinamento dos funcionários são fatores que impactam positivamente nos
resultados alcançados na acreditação e que é necessário que os gerentes apoiem,
incentivem e aloquem recursos para efetivar essas ações no serviço27.
Diversos são os fatores que influenciam na
conquista da AH, tais como, envolvimento da equipe, organização e estrutura dos
hospitais e formação profissional. Ademais, o enfermeiro enfrenta
algumas dificuldades como o não reconhecimento profissional, falta de tempo
para as questões da acreditação, desvalorização do serviço, extensa carga
horária e a maior cobrança por resultados positivos.
É preciso
ter um reconhecimento e melhorar a cooperação, bem como entender que a AH é um
processo continuo e as melhorias devem ser aplicadas rotineiramente22.
Percebeu-se
que apesar da representatividade do trabalho da enfermagem para a implementação
da AH, foram poucas as publicações que abordaram o tema, sendo essa uma
limitação do estudo.
CONCLUSÕES
Conforme o
estudo realizado observou-se que a AH não foi realizada de forma individual,
mas por meio de um trabalho interdisciplinar com engajamento de todos os
membros da equipe. Os enfermeiros foram elementos chave nesse processo devido
ao seu perfil profissional, as suas atribuições e seu papel assistencial,
político, administrativo e educador.
Em face ao credenciamento, os enfermeiros utilizaram suas habilidades de
liderança, capacidade de transmissão do conhecimento, facilidade para o
trabalho em equipe e comunicação interpessoal. Entendeu-se
que os enfermeiros adquirem maior autonomia e possuem competências e
habilidades que auxiliaram no processo de AH o que contribuiu na tomada de decisão e na efetividade
da implementação dos critérios da AH. Sugere-se a realização de novas pesquisas
avaliando as competências e habilidades desenvolvidas e adquiridas pelo
enfermeiro no processo de acreditação hospitalar.
Declaração de conflito de interesse
Os
autores declaram não haver conflito de interesse.
Agradecimentos
CAPES, CNPq, FAPEMIG, NUPAE.
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[1] Data de recebimento: 6 de maio del 2020 Data de aceitação: 10 de setembro de 2020
[2] Enfermeira. Universidade Federal de Minas Gerais. Brasil. E-mail: simonegscunha@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0445-4822
[3] Discente de Enfermagem. Universidade do Estado de Minas Gerais. Brasil. E-mail: karinetorres999@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6897-0447
[4] Discente de Enfermagem. Universidade do Estado de Minas Gerais. Brasil. E-mail: marielygmorais@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3151842x
[5] Discente de Enfermagem. Universidade do Estado de Minas Gerais. Brasil. E-mail: stefanyalves96@hotmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9284-4515
[6] Professora Adjunta. Universidade Federal de Viçosa. Brasil. E-mail: ago@ufv.br ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7990-9273
[7] Professora Associada. Universidade Federal de Minas Gerais. Brasil. E-mail: mariajosejobrito@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9183-1982