DOI 10.15517/revenf.v0i40.41929
Impactos emocionais e
fisiológicos do isolamento durante a pandemia de COVID-19[1]
Emotional
and physiological impacts of social isolation during the COVID-19 pandemic
Impactos
emocionales y fisiológicos del aislamiento social durante la pandemia de COVID-19
Daiane Silva
dos Santos[2], Pedro
Herculano Santos Silva[3], Úrsula
Pérsia Paulo dos Santos[4], Tatiana de
Souza[5], Marcela
Santos Ferreira[6], Júlio
César Santos Silva[7]
RESUMO
Objetivo: O objetivo
deste artigo foi avaliar
os impactos emocionais e fisiológicos do distanciamento social durante a
pandemia da COVID-19. Metodologia:
Participaram 238 indivíduos de ambos os sexos e de diferentes faixas
etárias que estavam em isolamento social durante a pandemia da COVID-19 e
utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário. Resultados:
Dos participantes 65,5% (n= 156) eram do sexo feminino e 33,3% (n= 80)
masculino. Nas emoções, 73,1% dos participantes concordaram que sentiam-se frequentemente desconfortáveis por causa do
isolamento, 66% ansiosos/agitados, 66,8% dos participante irritados/estressados
e 66.7% tristes/indispostos. Conclusão: Concluiu-se que os participantes
tenderam a apresentar alterações emocionais em suas rotinas, sendo nocivas à
sua saúde como um todo. Os aspectos emocionais e fisiológicos do distanciamento
social durante a pandemia da COVID-19 possuem potencial significativo para
impactar diretamente na saúde física e mental dos indivíduos.
Palavras-chave: Coronavírus; Isolamento-social; Saúde-pública.
ABSTRACT
Objective: The objective of this paper was to assess
the emotional and physiological impacts of social distancing during the
COVID-19 pandemic. Method:
About
238 individuals participated of both sexes and different age groups who were in
social isolation, during the COVID-19 pandemic and was used as a data
collection instrument with a questionnaire. Result: Of the participants, 65.5% (n = 156) were female and
33.3% (n = 80) male. In terms of emotions, 73.1% of participants agreed that
they often feet uncomfortable due to isolation; 66% anxious/agitated; 66.8% irritated/stressed
and 66.7% sad/unwell. Conclusion:
Concluded
that the participants tended to have emotional in their routines, wich are
harmful to their health as a whole. The emotional and physiological aspects of
social distancing during the COVID-19 pandemic have significant potential to
directly impact on individuals physical and mental health.
Keywords: Coronavirus; Social-isolation;
Public-health.
RESUMEN
Objetivo: El propósito de este artículo fue evaluar
los impactos emocionales y fisiológicos del distanciamiento social durante la
pandemia de La COVID-19. Método: Participaron 238 individuos de ambos
sexos y diferentes grupos de edad que se encontraban en aislamiento social
durante la pandemia de la COVID-19 y fue utilizado como instrumento de
recolección de datos un cuestionario. Resultados: De los participantes,
el 65.5% (n = 156) eran mujeres y el 33.3% (n = 80) hombres. En términos
emocionales, el 73.1% de los participantes estuvo de acuerdo en que a menudo se
sentían incómodos debido al aislamiento, 66% ansiosos/agitados; 66.8%
irritados/estresados y 66.7% tristes/mal. Conclusión: Se concluyó que
los participantes presentaron cambios emocionales en sus rutinas, que son
perjudiciales para su salud en general. Los aspectos emocionales y fisiológicos
del distanciamiento social durante la pandemia de La COVID-19 tienen un
potencial significativo para impactar diretamente en la salud física y mental
de las personas en distanciamiento social.
Palabras
claves: Coronavirus;
Aislamiento-social; Salud-pública.
INTRODUÇÃO
A síndrome respiratória aguda grave 2
(SARS-CoV-2), acarretada pelo novo coronavírus, que originou-se em Wuhan1,
China, no fim de 2019, e nomeada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como
COVID-19, é causadora da atual pandemia2 e teve seu primeiro caso
confirmado no Brasil no dia 26 de fevereiro de 2020. Em 07 de maio de 2020,
esta síndrome acometia cerca de 135.106 pessoas no Brasil, com o total de 9.146
óbitos, evoluindo rapidamente para 271.628 casos e 17.971 óbitos no dia 19 do
mesmo mês3, remetendo a repensar o contexto cotidiano brasileiro,
sobretudo, nos aspectos emocionais e fisiológicos. A pandemia da COVID-19 vem trazendo
inúmeros desafios para a contenção da proliferação do vírus e redução do número
de casos4.
Uma das condutas efetivas para reduzir o ritmo
de propagação do vírus na comunidade é o distanciamento social, higienização
das mãos e superfícies e uso de máscaras5. O isolamento já realizado
em diversos países ao redor do mundo, tem se mostrado como uma medida eficaz
para redução do quantitativo de casos1,2,4. O distanciamento social,
que tem como objetivo reduzir as interações entre as pessoas de uma comunidade
para diminuir a velocidade de transmissão do vírus3, ainda que feito
de forma temporária, pode contribuir para o desenvolvimento de condições que
interferem diretamente nas emoções de cada indivíduo como o surgimento de
incertezas, medo e ansiedade.
Nesta linha de raciocínio, entende-se que o
cuidado da saúde física e mental seja um fator preponderante neste momento de
pandemia e confinamento. Sendo assim, torna-se imperativo a discussão sobre os
impactos emocionais e fisiológicos do isolamento durante a pandemia de COVID-19
durante o período de distanciamento social, para beneficiar no delineamento de
estratégias que possam contribuir para a prevenção de riscos e agravos à saúde
da população.
Algumas consequências do distanciamento social
são depressão, ansiedade, desinteresse, perda de apetite, desregulações no
sono, retardo ou agitação, incapacidade de concentrar-se ou até mesmo
tentativas de suicídio6. Em casos
de depressão e ansiedade, estes sintomas podem ser intensificados, manifestando-se
em indivíduos relativamente saudáveis, e algumas das alterações são:
desinteresse para estudar, falta ou inexistência da realização de atividades
físicas, problemas quanto à alimentação, entre outros.
Diante do panorama de pandemia da COVID-19 e
consequente distanciamento social, emerge a necessidade da compreensão dos
possíveis riscos e agravos à saúde da população. Portanto, este estudo teve
como objetivo avaliar os impactos emocionais e fisiológicos do distanciamento
social durante a pandemia da COVID-19.
MATERIAIS E MÉTODO
Tratou-se
de uma pesquisa de levantamento de natureza aplicada, descritiva com
delineamento transversal e abordagem quantitativa. Os sujeitos da pesquisa
foram 238 indivíduos, de ambos os sexos, de diferentes faixas etárias, que estavam
submetidos ao distanciamento social, durante a pandemia da COVID-19,
recomendado pela OMS e autoridades de saúde locais3 e que aceitaram
participar da pesquisa e quanto a menores de idade tiveram o assentimento do
responsável legal. Os critérios de inclusão foram: estar cumprindo isolamento
social e possuir equipamento eletrônico digital com acesso à internet que
possibilitaria à resposta ao questionário enviado. Os critérios de exclusão
foram: não residir no Brasil e respostas duplicadas a partir do email do
participante. A amostra foi não probabilística utilizando.
A
técnica utilizada é conhecida como bola de neve (snowball). Trata-se de
processo de permanente coleta de informações, que procura tirar proveito das
redes sociais dos entrevistados identificados para fornecer ao pesquisador um
conjunto cada vez maior de contatos potenciais, podendo ser finalizado a partir
do critério de ponto de saturação7. A suspensão da inclusão de novos
participantes, neste estudo, aconteceu quando os pesquisadores ficaram 48 horas
sem receber novos questionários, mesmo encaminhando nas plataformas, ou quando
recebiam e tratava-se de indivíduos que já haviam preenchido o formulário.
Desta
forma, os participantes iniciais para esta amostra foram membros da comunidade
de um Centro Federal de Educação Tecnológica, localizado na região
Metropolitana do Rio de Janeiro, Brasil, configurando, uma amostra por
conveniência.
Para
a coleta de dados foi utilizado o questionário virtual elaborado através de um
serviço gratuito para criação formulários online Google®. O link para acesso ao questionário foi divulgado
através de um aplicativo multiplataforma de mensagens instantâneas e de uma
mídia e rede social virtual. A geração de dados ocorreu nos meses de março e
abril de 2020.
O
instrumento era composto por 17 perguntas fechadas e 3 abertas. As perguntas
iniciais versavam sobre variáveis sociodemográficas como idade, gênero, estado
civil, grau de formação e situação escolar (se estuda no momento ou não) e
quantidade de indivíduos que residiam com o participante. O questionário foi
submetido à um grupo composto por 10 de pesquisadores que avaliaram e validaram
o questionário, após esta etapa o questionário foi preenchido por 5 indivíduos
que compuseram o teste-piloto e não foram incluídos na amostra. Os participantes
foram questionados quanto aos fatores emocionais, sendo estabelecidas questões
com escala tipo Likert com os escores variando de: 1- Concordo plenamente;
2 - Concordo parcialmente; 3 – Neutro; 4 - Discordo parcialmente; 5 - Discordo
totalmente.
Por
se tratar de uma pesquisa virtual, foi criada uma seção inicial de
preenchimento obrigatório com orientações, o arquivo do termo de consentimento
livre e esclarecido (TCLE) e de assentimento para download e campo para
manifestação do seu aceite ou não em participar. Havendo ou não concordância em
participar da pesquisa, uma mensagem de agradecimento era feita ao
participante.
Os
dados gerados foram contabilizados para análise quantitativa, realizados com o
auxílio do software EPI INFO, apresentados em gráficos e/ou tabelas e
discutidos sobre a luz dos principais referenciais pertinentes ao assunto.
Este
estudo foi executado em paralelo com as atividades do Projeto de Iniciação
Científica(Estudos de prevenção de riscos e agravos saúde) e de Extensão
(Prevenção de riscos e agravos à saúde da população: contribuições para a
prática assistencial no nível Técnico em Enfermagem) do Centro Federal de
Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – (CEFET/RJ) Unidade
Descentralizada do município de Nova Iguaçu, estado do Rio de Janeiro, Brasil,
que contou com a participação de alunos do ensino médio profissionalizante de
enfermagem e do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Sistemas
Produtivos (PPDSP) e vinculado ao Grupo de pesquisas (Estudos de prevenção de riscos
e agravos à saúde) encontrando-se registrado no Diretório dos Grupos de
Pesquisa do Brasil (DGP) - CNPq/Lattes.
Considerações éticas
A
pesquisa central foi autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa CAAE:
53984716.0.0000.5254 Parecer: 1.615.195 e respeitou os princípios da autonomia,
não-maleficência, beneficência, justiça e equidade, conforme prevê a Resolução
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde do Brasil, que
dispõe sobre pesquisa envolvendo seres humanos8.
RESULTADOS
Entre os participantes do estudo, a faixa etária variou de 14 a 42
anos, com predominância na faixa etária de 15 a 20 anos com 164 (69%), o sexo
feminino representou maior quantitativo entre os participantes com 156 (65,5%),
em relação à escolaridade predominaram indivíduos com ensino médio incompleto
foi 77 (32,4%) e estado civil solteiros
foram 217 (91,2%) conforme os dados apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Caracterização sociodemográfica dos participantes em
distanciamento social durante a pandemia COVID-19, no município de Nova Iguaçu.
Rio de Janeiro, Brasil, 2020.
Caracterização dos participantes |
n / (%) |
1.
Idade dos
participantes: |
|
Menos de 15 anos |
6
/ 2,5 |
Entre 15 e 17 anos |
82 / 34,5 |
Entre 18 e 20 anos |
82
/ 34,5 |
Entre 21 e 25 anos |
37 / 15,5 |
Acima de 25 anos |
31
/ 13 |
Total |
238
/ 100 |
2.
Gênero |
|
Masculino |
80 / 33,7 |
Feminino |
156
/ 65,5 |
Prefiro não responder |
2 / 0,8 |
3.
Grau de escolaridade |
|
Ensino fundamental
incompleto |
7 / 2,9 |
Ensino fundamental
completo |
8
/ 3,4 |
Ensino médio
incompleto |
77 / 32,4 |
Ensino médio completo |
56
/ 23,5 |
Ensino superior
incompleto |
65 / 27,3 |
Ensino superior
completo |
25
/ 10,5 |
4.
Estado civil: |
|
Solteiro(a) |
217
/ 91,2 |
Casado(a) |
14 / 5,9 |
Divorciado(a) |
2
/ 0,8 |
Viúvo(a) |
2 / 0,8 |
Separado(a) |
3
/1,3 |
Fonte: Dados da pesquisa, 2020.
Durante o período de distanciamento social proposto pela OMS, uma
das recomendações das autoridades de saúde era para se evitar aglomerações.
Neste sentido, os participantes foram questionados quanto ao número de
moradores na mesma residência, entendendo que o distanciamento, pode diminuir a
propagação do vírus. Foi evidenciado que 20% (n= 48) participantes residiam com
05 ou mais pessoas, o que pode contribuir para um maior contato entre os
indivíduos da mesma família. A predominância foi de pessoas que habitavam
residências com 04 pessoas (34% - n= 81) participantes. Foi demonstrado que 79%
(n= 188) participantes estavam conseguindo manter o distanciamento social e
entre aqueles que não estavam conseguindo manter o distanciamento 38% (n= 19)
estavam saindo de casa por motivos não essenciais conforme descrito na Tabela
2.
Tabela 2. Dados
relacionados ao distanciamento social dos participantes durante a pandemia
COVID-19, no município de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil, 2020
Pessoas que moram na residência (incluir a si mesmo) |
n /
% |
01 pessoa |
5 / 2,1 |
02 pessoas |
34 / 14,3 |
03 pessoas |
70 / 30,4 |
04 pessoas |
81 / 34 |
05 pessoas |
31 / 13 |
06 pessoas |
11 / 4,6 |
07 pessoas |
02 / 0,8 |
08 pessoas |
01 / 0,4 |
09 pessoas |
03 /1,2 |
Você está conseguindo
manter distanciamento social? Se não, justifique. |
|
a.
Sim |
188 / 79 |
b.
Não |
50 / 21 |
c.
Se não, por quê? |
|
Apenas indo ao médico: |
1 / 2 |
Sair para compras e necessidades |
12 / 24 |
Indo ao trabalho |
18 / 36 |
Outros (motivos não essenciais) |
19 / 38 |
Fonte: Dados da pesquisa, 2020.
Uma questão destacada entre os participantes
foi com relação ao uso da internet antes e durante a recomendação do
distanciamento social. Foi relatado um aumento do tempo de uso da internet por
dia, estatisticamente significativo, em todas as faixas etárias e em ambos os
sexos. Foi observado que este aumento do tempo de uso de internet esteve
relacionado ao estudo regular ou complementar, informações sobre a pandemia no
Brasil e no mundo, bem como as medidas de prevenção e tratamento e atividades
de lazer, recreação e socialização, o que foi apresentado na Tabela 3.
Tempo |
Antes |
Durante |
p
valor |
Até
4 horas por dia |
61 (25,6%) |
13 (5,5%) |
0,007 |
De
4 a 6 horas por dia |
76
(31,9%) |
25
(10,5%) |
|
De
6 a 8 horas por dia |
56 (23,5%) |
36
(15,1%) |
|
De
8 a 10 horas por dia |
21
(8,8%) |
62
(26,1%) |
|
Acima
de 10 horas por dia |
23 (9,7%) |
102
(42,9%) |
|
Não
utiliza internet: |
1
(0,4%) |
|
Tabela 3 – Caracterização do uso de internet
dos participantes em distanciamento social durante a pandemia COVID-19, no
município de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil, 2020
Fonte: Dados da pesquisa, 2020.
No que tange as emoções, o questionamento inicial foi se o
participante sentiu-se desconfortável e/ou desanimado e, 73,1% (n= 174)
concordaram com a afirmação. Entre aqueles que concordaram totalmente com a
informação, 68,6% (n= 68) eram do sexo feminino e 31,4% (n= 31) masculino.
Entre os participantes que afirmaram concordar parcialmente com a informação,
66,7% (n= 50) eram respostas femininas e 33,4% (n= 25) eram respostas
masculinas. Na faixa etária entre 15 e 17 anos, 50% (n= 41) concordaram
totalmente com a afirmação, 28,04% (n= 23) concordaram parcialmente. Entre 18 a
20 anos, 41,5% (n= 34) afirmaram concordar totalmente e
32,9% (n= 27) concordaram parcialmente (Tabela 4).
Ainda
na análise das emoções 66,5% (n= 157) dos participantes concordaram que se
sentiram frequentemente ansiosos e agitados por estarem em distanciamento
social. Dos 94 participantes que disseram concordar totalmente com a afirmação
78,8% (n= 74) eram do sexo feminino e 21,2% (n= 20) do sexo masculino e dos 63
participantes que concordaram parcialmente com a afirmação 66,7% (n= 42) eram
respostas femininas e 21(33,3%) masculinas. Entre os que estavam na faixa etária de 15 a 17 anos, 36,6% (n= 30) concordaram
totalmente e 28,04% (n= 23) concordaram parcialmente e dos 18 a 20 anos, 47,6%
(n= 39) concordaram totalmente com a afirmação e 19,5% (n= 16) concordaram
parcialmente (Tabela 4).
Quando questionados se
sentiram-se estressados e/ou irritados 66,8% (n= 159) concordaram com a afirmação. Dentre os que
concordaram totalmente 75 (74,3%) eram respostas femininas e 26 (25,7%)
masculinas, 36 (35,6%) destes na faixa etária de 15 a 17 anos e 34 (33,6%) dos
18 aos 20 anos. Os participantes que disseram concordar parcialmente com a
afirmação, 69% (n= 40) eram respostas femininas e 18 (31%) masculinas (Tabela
4).
No questionamento de sentiu-se triste e/ou indisposto 67,7% (n=
161) dos participantes concordaram que se sentiram frequentemente tristes e
indispostos por estarem em distanciamento social. Dentre os 92 participantes
que disseram concordar totalmente com a afirmação, 71 (77,2%) eram do sexo
feminino e 21 (22,8%) masculino, e daqueles 69 participantes que disseram
concordar parcialmente com a afirmação, 48 (69,6%) eram do sexo feminino e
21(30,4%) masculinos (Tabela 4).
Tabela
4. Distribuição dos fatores emocionais demonstrados pelos
participantes em
distanciamento social durante a pandemia COVID-19, no município de Nova Iguaçu,
Rio de Janeiro, Brasil, 2020.
Fatores
emocionais |
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
Sinto-me frequentemente desanimado e/ou
desconfortável devido ao distanciamento |
99 41,6% |
75
31,5% |
35 14,7% |
23
9,7% |
6 2,5% |
Sinto-me frequentemente agitado e/ou ansioso por
estar em distanciamento |
94 39,5% |
63
26,5% |
35
14,7% |
26
10,9% |
20 8,4% |
Sinto-me frequentemente estressado e/ou irritado
por estar em distanciamento |
101 42,4% |
58
24,4% |
26 10,9% |
23
9,7% |
30 12,6% |
Sinto-me triste e/ou indisposto frequentemente por
estar em distanciamento |
92
38,7% |
69
29% |
37
15,5% |
19
8% |
21 8,8% |
Fonte: Dados da pesquisa, 2020.
Escore varia de 1 a 5, quanto mais alto o escore, maior a
concordância. 1- Concordo plenamente; 2 - Concordo parcialmente; 3 – Neutro; 4
- Discordo parcialmente; 5 - Discordo totalmente.
A Tabela 5 apresenta as variáveis ligadas aos fatores emocionais.
Na análise univariada ficou evidenciada consistência nos dados da amostra
através do t-test (Tabela 5).
Fatores emocionais |
95%
CI |
p
valor |
Sinto-me
frequentemente desanimado e/ou desconfortável devido ao isolamento social |
-0.03 – 95.23 |
0,003 |
Sinto-me
frequentemente agitado e/ou ansioso por estar em isolamento |
9.44
– 85.75 |
0,001 |
Sinto-me
frequentemente estressado e/ou irritado por estar em isolamento |
6.69 – 88.50 |
0,002 |
Sinto-me triste e/ou
indisposto frequentemente por estar em isolamento |
8.00
– 87.19 |
0,001 |
Tabela
5. Distribuição dos fatores emocionais demonstrados pelos
participantes em
distanciamento social durante a pandemia COVID-19, no município de Nova Iguaçu,
Rio de Janeiro, Brasil, 2020.
Fonte: Dados da pesquisa,
2020. CI = Intervalo de confiança; p valor –
t-test
Analisando o contexto cotidiano e os impactos fisiológicos nos
participantes foi evidenciado que em relação ao sono 47,5% (n= 113) não estavam
tendo uma rotina adequada de sono, dormindo menos ou mais que o recomendado, ou
ainda, não dormindo durante a noite. A alimentação também foi um fator
impactante e deve ser observada durante o distanciamento social, visto que 55%
(n= 131) dos participantes relataram não estar alimentando-se de forma satisfatória,
ou seja, estavam sofrendo de falta de apetite ou alimentando-se excessivamente.
Destaca-se ainda, que 79,8% (n= 190) dos participantes não estavam efetuando
atividades físicas regularmente, destes 54,6% (n= 130) não estavam efetuando
nenhuma atividade.
Tabela
6. Distribuição dos fatores
fisiológicos demonstrados pelos participantes em distanciamento social durante a
pandemia COVID-19, no município de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil, 2020.
|
n |
(%) |
|
Sono |
Menos de 6 horas |
42 |
17,6 |
6 a 8 horas |
125 |
52,5 |
|
Mais de 12 horas |
27 |
11,4 |
|
Não consigo dormir a
noite |
44 |
18,5 |
|
|
238 |
100 |
|
|
|
|
|
Alimentação |
Alimentando
de forma satisfatória |
107 |
45 |
Alimentando
de forma insatisfatória |
33 |
13,8 |
|
Alimentando
excessivamente |
82 |
34,5 |
|
Não
está tendo apetite |
16 |
6,7 |
|
|
238 |
100 |
|
|
|
|
|
Prática de atividade física |
Sim |
48 |
20,2 |
Não
|
130 |
54,6 |
|
Às
vezes (menos de 30 min/semana) |
60 |
25,2 |
|
|
238 |
100 |
Fonte:
Dados da pesquisa, 2020.
DISCUSSÃO
O
distanciamento social é visto como uma das estratégias para o enfrentamento da
pandemia COVID-19, contudo, este contém, de maneira intrínseca, um confinamento
que pode ser responsável por desenvolver fatores que, direta ou indiretamente,
podem acarretar consequências psicológicas danosas ao indivíduo durante e após
todos os períodos. Entende-se que o distanciamento social, é um meio
fundamental de prevenção para redução da contaminação do coronavírus
(COVID-19), mitigando um possível colapso do sistema de saúde9,10,
considerando que mais de um terço da população mundial está em distanciamento
social11.
Todavia,
o que instigou desenvolver essa discussão, foi a associação do contato com
outras pessoas durante o distanciamento social, sobretudo, pessoas do mesmo
domicílio, no entendimento de que um número maior de pessoas na mesma
residência, pode se configurar como um fator de convívio social, entretanto,
com um maior risco para a contaminação. Todavia, estudos descrevem que a quantidade de
pessoas por domicílio, é uma variável muito importante em tempos de
distanciamento social, considerando ainda a qualidade das habitações, no
entendimento de que o Brasil é um país muito diverso com condições de
habitabilidade bastante desiguais, logo, o conforto e a estrutura que esse
espaço tem pode fazer muita diferença nas condições desse isolamento12.
Neste
estudo o questionamento sobre a manutenção do distanciamento social esteve
relacionada ao motivo de não mantê-lo, demonstrando
que, parcela significativa dos que não mantinham o distanciamento, o fizeram
por motivos não essenciais, o que poderia contribuir para o contato com o
vírus. Entretanto, estudo acerca do distanciamento social demonstraram que a grande adesão ao
distanciamento por parte dos inquiridos pode ter alguma relação com o medo de
se infectar, e sofrer prejuízos para saúde e financeiros, ainda maiores12.
No
decorrer do período de distanciamento social, a preocupação quanto à duração do
mesmo, medos relacionados à infecção, frustração ou tédio por conta da
diminuição do contato social, falta de suprimentos e de informação quanto ao
andamento da pandemia, além de futuros problemas financeiros são fatores de
estresse que têm grande influência no humor dos indivíduos. Esses fatores,
isolados ou conjuntamente, podem ser geradores de estresse entre os indivíduos.
Como
consequência desse processo de distanciamento social, o estresse tende a
aumentar na população, pois apesar de um tempo relativamente curto já ser capaz
de causar impactos à saúde mental, evidências mostram que os impactos
psicológicos negativos são maiores se as autoridades determinarem um período
previsto mais curto de distanciamento e depois aumentarem esse período12.
Vale
ressaltar que a utilização de internet aumentou drasticamente após a
instauração do distanciamento social, tendo em vista que, segundo o
levantamento deste estudo, o percentual de indivíduos que utilizaram internet
por períodos entre 8 a 10 horas por dia e superior a 10 horas por dia aumentou
de 8,8% para 26,1% e, 9,7% para 42,9%, deste modo, tendo uma porcentagem de
aumento de 195% e 342% respectivamente. As opções que apresentaram diminuição
no uso de internet tiveram seu percentual diminuído, como a opção até 4 horas
por dia que teve seu porcentual reduzido de 25,6% para 5,5%. Tal aumento do
tempo de uso de internet tem forte associação com o distanciamento social,
sobretudo pela afirmativa de que a internet permite a rapidez para estabelecer
contatos sociais e as ferramentas disponibilizadas favorecem a possibilidade de
romper barreiras como o distanciamento geográfico e agilizar o excesso de
compromissos13.
As
estratégias mais utilizadas para manter o contato social no distanciamento
segundo o levantamento foram telefone celular, computador e redes sociais.
Ademais, relacionado aos meios utilizados para informarem-se a respeito da
COVID-19, houve predominância para internet e televisão. Estudos demonstraram
que a informação é fundamental para a população, pois a divulgação, desde
maneiras de manter a higiene até a necessidade do distanciamento, ajuda na prevenção,
o que reduz a vulnerabilidade11. Foi ratificada a afirmativa feita
por jovens de que a internet ocupa muito seu tempo13.
Uma das influências do
estresse na vida das pessoas referiu-se às alterações no sono12. Uma
diminuição no quantitativo das horas de sono, de maneira a fugir do estimado e
recomendado (8 horas), de forma contínua pode ocasionar danos psicológicos. Em
meio à pandemia, os níveis gerais de estresse e ansiedade aumentaram e
consequentemente o sono dos indivíduos foi prejudicado.
O
estresse é ratificado pelos dados obtidos no levantamento consoantes com outra
pesquisa na qual 73% dos participantes concordaram que se sentiam estressados12,
valor próximo do obtido nesta pesquisa 66,8%, ou seja, um percentual significativo dos participantes.
Este mesmo estudo apontou o estresse como uma das principais consequências do distanciamento social12.
Pesquisa
realizada com metodologia semelhante apontou resultados similares quanto às
alterações na rotina do sono dos indivíduos, onde 56% dos participantes daquela
pesquisa não estavam tendo uma rotina de sono satisfatória12,
enquanto neste estudo foram relatadas alterações na rotina de sono em 47,5% (n=
113) dos participantes. Ainda naquela pesquisa foi constatado que 26% dos
entrevistados estavam dormindo mais que o habitual e 31% estavam dormindo menos
horas que o habitual, o que se aproxima bastante dos resultados obtidos nesta
pesquisa, o que mostrou que os participantes estavam dormindo mais do que o
habitual 11,4 % (n= 27) e 36,1% (n= 86) estavam dormindo menos do que o
habitual.
Diversas
circunstâncias estressogênicas podem agir direta ou indiretamente na saúde
física e mental. Sabe-se que o distanciamento social é uma característica evidenciada
em pessoas acometidas pela depressão14. Paralelamente a esse estudo,
emergiu uma questão, evidenciada em diversos países que estão vivenciando o distanciamento social, que é a violência doméstica.
Embora não seja o foco deste estudo, esse questionamento pode contribuir para
investigações futuras, visto que, poderiam estar presentes entre os
participantes como visto na China, onde os registros policiais de
violência doméstica triplicaram durante a pandemia, na Itália, na França e na
Espanha onde também foi observado aumento na ocorrência de casos após a
implementação da quarentena domiciliar obrigatória15.
Outro aspecto de destaque na atual conjuntura
cotidiana e de saúde, é a depressão, vista como uma preocupação pelas
autoridades de saúde pública, principalmente, pelos efeitos deletérios que
podem ser acrescentados à saúde e à qualidade de vida14. A alteração
do sono pode ter sido desencadeada pelo estresse que predispõe e contribui para
o seu desenvolvimento.
A
privação do sono e suas alterações, quando persistentes, ocasionam danos no
Sistema Nervoso e podem gerar fadiga, diminuição do nível de alerta e da
velocidade do pensamento, irritabilidade, dificuldades nos relacionamentos
familiares, restrição da participação em atividades sociais, dificuldade de
percepção, concentração e memória, sonolência durante o trabalho cefaléias
matinais, transtornos comportamentais e psiquiátricos e tendência à depressão16,17.
Outra variável
importante relacionada à saúde e ao bem estar das
pessoas é a prática de atividades físicas. Com o contexto do distanciamento social, realizar
exercícios físicos tornou-se um desafio12. Compreendendo a necessidade de
expressar como os fatores fisiológicos interferem no organismo dos indivíduos
que se encontram em distanciamento social devido à pandemia COVID-19,
evidencia-se a necessidade de fazer uma correlação entre o consumo alimentar e
a prática de atividade física durante esse período, visto que é descrito que a relação do
excesso de peso com a prática insuficiente de atividade física também parece
afetar a qualidade do sono18.
Reconhece-se que o consumo alimentar
e a prática de atividade física são considerados fatores que impulsionaram ou
dificultaram a adequação de estilos de vida saudáveis. Investigações em
estudantes demonstraram que o aumento do número de refeições por dia observando
a quantidade e qualidade da montagem dos pratos, o número de horas em frente à
televisão e o baixo nível de atividade física poderiam ter efeito promovedor de
sobrepeso e obesidade19,20.
Nesta
linha de raciocínio foi evidenciado que neste estudo 54,6% dos participantes
não estavam efetuando qualquer tipo de atividade física, o que pode ser mais um
dos fatores para o aumento de estresse, ansiedade e desânimo durante esse
período. É comprovado que a prática de atividades físicas regularmente traz
inúmeros benefícios à saúde do ser humano e ainda contribui para a redução dos
níveis de estresse, ansiedade, depressão, aumento do humor, do bem estar e da disposição física e mental20-22.
CONCLUSÃO
Sendo
assim, entendeu-se que os resultados obtidos demonstraram que os aspectos
emocionais e fisiológicos do distanciamento social durante a pandemia da COVID-19 possuem potencial significativo para
impactar diretamente na saúde física e mental dos indivíduos. Neste sentido,
acredita-se que é necessário a implementação de ações de orientação e
intervenção precoce dos possíveis riscos e agravos para saúde dos indivíduos,
respeitando-se as imposições de distanciamento social e as peculiaridades
inerentes ao período vivenciado.
A contribuição principal para a prática e
implicação deste estudo, foi a demonstração dos fatores de risco para a saúde
da população. Esta pesquisa
possuiu limitações por tratar-se de estudo de corte transversal, no qual não é
possível estabelecer relação de causa e efeito, entretanto, o estudo apresentou
razões para investigações futuras na população em distanciamento social, a fim de melhor compreender a
relação entre aspectos emocionais e psicológicos dos indivíduos.
Conflito de Interesses: Os autores declaram não haver conflito de
interesses.
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[1] Data de recebimento: 21 de maio de 2020 Data de
aceitação: 09 de outubro de 2020
[2] Enfermera. Centro Federal de
Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ. Bolsista de Iniciação
Científica. Brasil. Email: daianesilva0701@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-
0002-5603-2461.
[3] Enfermero. Centro Federal de
Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ. Bolsista de Extensão.
Brasil. Email: Email: pedrohercculano@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-
0001-9951-6194.
[4] Enfermera. Centro Federal de
Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ. Mestranda Programa de
Desenvolvimento regional e sistemas produtivos. Brasil. Email: ursula.santos@cefet-rj.br. ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-6065-1663.
[5] Enfermera. Centro Federal de
Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ. Mestranda Programa de
Desenvolvimento regional e sistemas produtivos. Brasil. Email: pandoramc@yahoo.com.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1850-6080.
[6] Enfermera. Centro Federal de
Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ. Professora. Rio de
Janeiro. Brasil. Email: marcela.ferreira@cefet-rj.br. ORCID:
https://orcid.org/0000-0001- 7831-1245.
[7] Enfermero. Centro Federal de
Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ. Professor. Programa de
Desenvolvimento regional e sistemas produtivos Rio de Janeiro. Brasil. Email: julio.silva@cefet-rj.br.
ORCID:http://orcid.org/0000-0001-7223-3717.