DOI
10.15517/revenf.v0i40.42910
Perfil
de pacientes de uma unidade de terapia intensiva de adultos de um município
paraibano[1]
Profile of patients in an
adult intensive care unit in a paraibano municipality
Perfil
de pacientes en una unidad de atención intensiva para adultos en un municipio
paraibano
Maria
Larissa Miranda de Castro[2],
Francisca das Chagas Alves de Almeida[3],
Ericka Holmes Amorim[4],
Ana Izabel Lopes Cunha de Carvalho[5],
Caroline Cardoso da Costa[6],
Ronny Anderson de Oliveira Cruz[7]
RESUMO
Objetivo: investigar o
perfil dos pacientes internados em uma unidade de terapia intensiva de um
hospital da Paraíba, Brasil. Método: estudo retrospectivo, documental,
com abordagem quantitativa, realizado na Unidade de Terapia Intensiva de um
hospital geral. A estatística descritiva foi utilizada para determinar a
frequência e o teste do qui-quadrado para comparação. Resultados: De uma
amostra de 461 pacientes, houve maior frequência na faixa etária entre 71 e 80
anos, 50,8% mulheres, 43,4% procedentes de emergência e diagnósticos
relacionados a doenças cardiovasculares com 28%. Quanto à evolução, 45,3%
tiveram alta hospitalar, 52% faleceram, 2% foram transferidos e 0,7%
permaneceram na Unidade. Destes, 71,1% não apresentaram lesões por pressão na
internação. Conclusão: A maioria dos pacientes internados em Unidade de
Terapia Intensiva são idosos, com comorbidades, com equivalência de gênero.
Ressalta-se que as informações adquiridas no estudo podem contribuir para a
educação assistencial, financeira e permanente no planejamento do serviço.
Palavras chave: Enfermagem;
Cuidados-críticos; Indicadores-de-morbimortalidade, Perfil-de-saúde
ABSTRACT
Objective: to investigate the profile of patients admitted to an
intensive care unit of a hospital in Paraíba in Brazil. Method: This is
a retrospective documentary study, with a quantitative approach, carried out in
the Intensive Care Unit of a general hospital. Descriptive statistics were used
to determine the frequency and the chi-square test for comparison. Results:
From a sample of 461 patients, there was a higher frequency in the age group
between 71 and 80 years, 50.8% women, 43.4% coming from emergency and diagnoses
related to cardiovascular diseases with 28%. Regarding their evolution, 45.3%
were discharged, 52% died, 2% were transferred and 0.7% remained in the Unit.
Of these, 71.1% did not present pressure injuries when admitted. Conclusion:
Most of the patients admitted to the Intensive Care Unit are elderly, with
comorbidities, with gender equivalence. It is noteworthy that the information
acquired in the study can contribute to assistance, financial and permanent
education in service planning.
Keywords: Nursing; Critical-Care;
Morbidity-and-mortality-indicators; Health-profile.
RESUMEN
Objetivo: investigar el
perfil de los pacientes ingresados en una unidad de cuidados intensivos de un
hospital en Paraíba en Brasil. Método: Este es un estudio documental,
retrospectivo, con un enfoque cuantitativo, realizado en la Unidad de Cuidados
Intensivos de un hospital general. Se utilizaron estadísticas descriptivas para
determinar la frecuencia y la prueba de chi-cuadrado para la comparación. Resultados:
De una muestra de 461 pacientes, hubo una mayor frecuencia en el grupo de edad
entre 71 y 80 años, 50.8% mujeres, 43.4% provenientes de urgencia y
diagnósticos relacionados con enfermedades cardiovasculares con 28%. En cuanto
a su evolución, el 45,3% fueron dados de alta, el 52% falleció, el 2% fueron
transferidos y el 0,7% permaneció en la Unidad. De estos, el 71.1% no presentó
lesiones por presión cuando ingresó. Conclusión: La mayoría de los
pacientes ingresados en la Unidad de Cuidados Intensivos son ancianos, con
comorbilidades, con equivalencia de género. Es de destacar que la información
adquirida en el estudio puede contribuir a la asistencia, educación financiera
y permanente en la planificación del servicio.
Palabras clave: Enfermería;
Cuidado-crítico; Indicadores-de-morbilidad-y-mortalidad; Perfil-de-salud.
INTRODUÇÃO
Durante a Guerra da Criméia, em meados de 1850,
Florence Nightingale no seu processo empírico do cuidar, começou a separar os
doentes mais graves. Este acontecimento foi primordial para o surgimento das
primeiras Unidades de Terapia Intensiva (UTI), que aconteceu nos primórdios do
Século XX, chegando ao Brasil por volta da década de 70, onde foram
implementadas, primeiramente, no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, composto
por apenas 10 leitos. Apresentam-se como unidades hospitalares com objetivo de
atender pacientes em condições críticas e que necessitam de assistência médica
e de enfermagem de maneira contínua e especializada1.
Os pacientes que necessitam de internação nessa
unidade apresentam dentre outras causas as doenças infecciosas, a angina
instável, o infarto agudo do miocárdio, a insuficiência respiratória aguda, o
edema agudo de pulmão e outras comorbidades onde cada perfil é direcionado ao
tipo de UTI onde deve receber o cuidado, uma vez que têm se tornado cada vez
mais específicas, tais como as UTIs Cardiológicas, de Queimados, Doentes
Crônicos, Pós-operatórios e oncológicas2.
Nas
UTIs é necessário suporte tecnológico avançado para as intervenções de difícil
execução em enfermarias comuns, como monitores cardíacos, ventiladores
mecânicos e utilização de drogas vasopressoras.
O atendimento fica aos cuidados de equipe permanente de médicos e da
enfermagem, além de outros profissionais da saúde. A equipe deve ter preparo
para o atendimento, além de conhecimentos teóricos para formular intervenções
terapêuticas, com métodos multidisciplinares para o manejo de pacientes
admitidos na unidade3.
O
enfermeiro deve estar atento a uma grande variedade de dados, incluindo sinais
vitais, equilíbrio hídrico, necessidade quanto ao uso de drogas vasopressoras,
administração precisa de antibioticoterapia prescrita, coleta adequada e
acompanhamento de materiais biológicos para exames laboratoriais e avaliação
acurada do nível de consciência. Somando-se a isso, é necessário apoio aos
familiares. Desse modo, o enfermeiro deve lidar, de forma integrada, com
inúmeros fatores determinantes do prognóstico do paciente crítico3.
A
compreensão de particularidades proporciona aos profissionais da área de saúde,
o planejamento do cuidado independentemente do agravo à saúde que motivou a
internação. Assim, conhecer a faixa etária, o sexo e os agravos mais frequentes
das pessoas que são internadas em uma dada UTI possibilitará à equipe
preparar-se para atender pessoas com características específicas2.
A
qualidade na assistência e a segurança do paciente vêm sendo discutidas nos
últimos anos com a intencionalidade de reduzir riscos e danos e a otimizar a
adoção de boas práticas a fim de propiciar a efetividade dos cuidados de
enfermagem e o seu gerenciamento de forma mais segura. Neste contexto, os
indicadores em saúde têm sido frequentemente utilizados como meio de avaliar a
qualidade da assistência e como exemplo pode-se citar a Lesão por Pressão (LPP)
que é considerada um dos indicadores negativos de qualidade assistencial dos
serviços de saúde e de enfermagem4.
Ao
refletir acerca da qualidade dos serviços de saúde tem-se observado a
preocupação das gerências e dos profissionais, devido ao aumento da demanda de
custos crescentes e recursos cada vez mais escassos, associado às inovações
tecnológicas. Mediante esse aspecto, tem sido necessário a adoção de processos
de trabalho que permitam reduzir custos, manter a excelência nas ações,
aumentar a produtividade e garantir a segurança e satisfação do cliente5.
A
partir de um estudo norte americano foi constatado que 14% da verba destinada
aos serviços de saúde foi destinada a utilização nas UTIs, salientando-se que
entre os serviços, os de enfermagem foram aqueles que contemplaram o maior
percentual orçamentário e quantitativo na maioria das instituições, portanto,
tem-se a necessidade de um adequado dimensionamento de pessoal que leve em
conta as demandas de cuidados dos pacientes5.
A
construção do perfil dos pacientes internados nas UTIs é de grande importância,
pois através das informações sociodemográficas e epidemiológica dos pacientes,
é possível traçar estratégias para melhorar a assistência e principalmente a
prevenção de complicações. Aspectos como os tipos de agravo mais frequentes,
taxa de mortalidade, tempo de internação, além de outros possibilitam a
preparação da equipe para atender cada paciente de acordo com suas
características específicas6.
Destarte,
o modelo de organização em saúde passou a ter como principal referência as
Redes de Atenção à Saúde (RAS), modelo utilizado em países em processo de
transição demográfica e epidemiológica onde predominam condições e agravos
crônicos na perspectiva de superar a fragmentação dos sistemas de saúde.
Estudos epidemiológicos e retrospectivos contribuem com a reorganização de
sistemas para dar respostas à tríplice carga de doenças - infectocontagiosas,
crônicas e causas externas - e a obtenção de melhores resultados econômicos,
epidemiológicos e de integralidade do cuidado em saúde7.
Norteou-se
a partir da questão: qual o perfil de pacientes internados em uma unidade de
terapia intensiva de um hospital no estado da Paraíba? Tem como hipótese que há
uma relação estatisticamente significativa entre as variáveis procedência
quando associada ao desfecho óbito. Assim, este estudo apresentou como objetivo
investigar o perfil de pacientes internados em uma unidade de terapia intensiva
de um hospital paraibano.
Trata-se
de um estudo documental, retrospectivo, descritivo e com abordagem
quantitativa. A pesquisa documental refere-se à análise de documentos que não
sofreram tratamento analítico, ou seja, que não foram analisados ou
sistematizados, o qual seleciona, trata e interpreta informações, visando
compreender a interação com sua fonte, assim os dados coletados tornam-se mais
significativos. O estudo descritivo pressupõe um conhecimento anterior sobre o
fenômeno estudado, apoiando-se em uma ou mais hipóteses que guiam a pesquisa em
direções específicas8,9.
tipo
de pesquisa é capaz de identificar as realidades, seu sistema de relações, sua
estrutura dinâmica e também pode determinar a força de associação ou correlação
entre variáveis, a generalização e objetivação dos resultados através de uma
mostra que faz inferência a uma população10.
O
presente estudo foi realizado em um hospital geral,
localizado na região metropolitana da grande João Pessoa – PB/Brasil. Esse possui 110
leitos, dos quais oito são destinados à UTI. Os atendimentos são realizados
para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), convênios e particulares. Além
disso, recebe professores e estudantes de cursos de graduação em Enfermagem,
Medicina, Fisioterapia, Fonoaudiologia e residência para realização de práticas
acadêmicas.
O
período de coleta ocorreu entre julho e setembro de 2019. A unidade apresentou
uma média de 450 internações/ano nos últimos 5 anos. Neste estudo a população
foi composta por todos os pacientes da UTI e a amostra composta pelos 461
pacientes internados no período entre 01 de junho de 2018 a 31 de julho de
2019, onde os dados foram coletados a partir do livro de registro de pacientes
no local e anotados em um formulário. Foram analisadas informações referentes à idade,
sexo, procedência, diagnóstico, alta, óbito, transferência e presença de LPP no
momento da admissão.
No que se refere à
presença do registro de LPP durante a admissão, salienta-se que a instituição
hospitalar encontra-se em processo de adesão a protocolos sobre a segurança do
paciente e adota o surgimento ou o agravamento de lesões existentes, como
indicador da qualidade da assistência.
Após
a coleta os dados foram transportados para uma planilha construída no Programa Microsoft
Office Excel 2016 e por conseguinte realizada uma revisão por dois
pesquisadores a fim de observar lacunas ou inconsistências antes da realização
do processamento. Em seguida os dados foram processados através da utilização
do programa Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS) versão 20.0. A análise estatística descritiva foi
realizada através da distribuição de frequências e porcentagem simples, já a
estatística inferencial por meio do teste qui-quadrado com a finalidade de
avaliar a associação entre variáveis.
A
estatística descritiva é um conjunto de técnicas que uma ciência utiliza, que
se pode aplicar a um conjunto de dados para ordená-los, classificá-los e
diferenciá-los. Dessa forma pode-se descrever os fenômenos como também deduzir
leis que servem para generalizar tais modalidades de manifestações e que
permitem realizar predições e nesse sentido confere ao pesquisador uma melhor
compreensão do comportamento dos dados por meio de tabelas, gráficos e
medidas-resumo, identificando tendências, variabilidade e valores atípicos11,12.
Considerações Éticas
Conforme preconiza a Resolução n° 466/1213 foi
aprovado pelo CEP do Centro Universitário de João Pessoa sob número do parecer
3.351.232 e CAAE 13158819.0.0000.5176 conforme as diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos e solicitado dispensa do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) já que a coleta foi feita a
partir do livro de registros de paciente.
Quanto à faixa
etária, ocorreu um predomínio entre as idades de 61 a 90 anos, com um
quantitativo maior entre 71 a 80 anos com 105 (24,3%), em seguida os pacientes
entre 61 e 70 anos com 97 (21,2%), conforme a Tabela 1.
Tabela 1. Distribuição da faixa etária relacionada
às internações. João Pessoa, PB, Brasil, 2019.
Faixa etária |
n |
% |
18 a
28 anos |
17 |
3,8% |
29 a 39 anos |
10 |
2,3% |
40 a
50 anos |
47 |
10,3% |
51 a 60 anos |
49 |
10,6% |
61 a
70 anos |
97 |
21,2% |
71 a 80 anos |
115 |
24,3% |
81 a
90 anos |
96 |
20,9% |
91 a 100 anos |
30 |
6,6% |
Total |
461 |
100% |
Fonte: Dados da pesquisa.
Sexo |
n |
% |
Feminino |
234 |
50,8% |
Masculino |
227 |
49,2% |
Procedência |
||
Urgência |
203 |
44% |
Clínica Médica |
143 |
31% |
Unidades de Pronto Atendimento |
69 |
15,1% |
Bloco Cirúrgico |
22 |
4,8% |
Hospitais |
13 |
2,8% |
Apartamento |
04 |
0,9% |
Maternidade |
03 |
0,6% |
Serviço de Atendimento
Móvel de Urgência |
02 |
0,4% |
Casa |
02 |
0,4% |
Total |
461 |
100% |
Ao analisar a Tabela 2, houve um
predomínio do sexo feminino com 234 mulheres (50,8%). Já no tocante a
procedência, a maioria dos pacientes foram provenientes da urgência com 200 (43,4%), em seguida os da
clínica médica com 141 (30,6%), Unidades de Pronto Atendimento (UPAS) 69 (15%),
bloco cirúrgico 22 (4,8%) e de outros hospitais apenas 13 (2,8%).
Tabela 2. Distribuição dos valores relacionados a sexo e
procedência. João Pessoa, PB, Brasil, 2019.
Fonte: Dados da
pesquisa.
Das 461 admissões,
em poucas situações foi observada a presença de apenas um único diagnóstico, o
que pode inferir na gravidade dos casos bem como a necessidade de formação
acerca dos diagnósticos de síndrome como a da fragilidade, metabólica e de
imobilidade. Os diagnósticos foram organizados a partir do agravo provocado em
cada sistema a fim de facilitar o entendimento conforme a Tabela 3.
Tabela 3. Principais
diagnósticos relacionados a cada sistema. João Pessoa, PB, Brasil, 2019.
Principais Diagnósticos |
n |
% |
Doenças do sistema
cardiovascular |
132 |
28,0% |
Doenças do sistema respiratório |
116 |
24,7% |
Sepse |
58 |
12,7% |
Doenças do sistema gastrointestinal |
36 |
8,0% |
Outros |
28 |
6,5% |
Doenças do sistema nervoso |
25 |
5,5% |
Doenças endócrinas,
nutricionais e metabólicas |
18 |
4,0% |
Doenças do sistema geniturinário
|
17 |
3,6% |
Neoplasias |
11 |
2,5% |
Lesões, traumas, envenenamento e outras consequências de causas
externas |
07 |
1,5% |
Doenças do sistema
osteomuscular |
07 |
1,5% |
Doenças infectocontagiosas |
04 |
1,0% |
Transtornos mentais e
comportamentais |
02 |
0,5% |
Total |
461 |
100% |
Fonte: Dados
da pesquisa.
Foi observado uma
prevalência das doenças cardiovasculares comprometendo um total de 132
pacientes (28,0%), onde os principais agravos foram o acidente vascular
encefálico (AVE) e insuficiência cardíaca congestiva (ICC), em seguida estão as
doenças do sistema respiratório com ênfase para a insuficiência respiratória
aguda (IRPA) e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) que atingiu 116
pacientes (24,7%).
A sepse também
apresentou resultado significativo presente em 58 (12,7%) seguindo das doenças
do sistema gastrointestinal que comprometeu 36 (8,0%). Dentre os demais
diagnósticos, os que apresentaram menores escores foram relacionados a
transtornos mentais e comportamentais em apenas 2 pacientes (0,5%). No tocante
aos diagnósticos nomeados como outros retratam a lacuna presente no livro de
registros por motivo da falta de anotação ou de diagnóstico não definido pelo
profissional médico no memento da admissão.
Já no que se refere
ao desfecho após internação, 209 (45,3%) dos pacientes tiveram alta, 240 (52,0%)
evoluíram para o óbito, 9 (2,0%) foram transferidos e 3 (0,7%) permaneciam
internados na UTI.
Em relação à
presença de lesão por pressão, foi identificada a ausência de lesão por pressão
em 328 (71,1%) pacientes, em contrapartida 108 (23,4%) já apresentavam lesão
sobretudo na região sacral conforme a Tabela 4.
Tabela 4. Distribuição dos
valores relacionados à presença de lesão por pressão. João Pessoa, PB, Brasil,
2019.
Presença de Lesão Por Pressão |
N |
% |
Sem Lesão |
328 |
71,1% |
Sacral |
108 |
23,4% |
Sacral /calcâneo |
08 |
1,7% |
Calcâneo |
05 |
1,1% |
Trocânter |
04 |
1,0% |
Trocânter / sacral |
03 |
0,7% |
Sacral / mão |
01 |
0,2% |
Sacral / trocânter / maléolo / calcâneo |
01 |
0,2% |
Orelha / sacral/
calcâneo |
01 |
0,2% |
Glúteo |
01 |
0,2% |
Trocanter / Calcâneo /
Sacral III |
01 |
0,2% |
Total |
461 |
100% |
Fonte: Dados
da pesquisa.
De acordo com o teste Qui-Quadrado houve
relação estatisticamente significativa quando se avaliou procedência versus
óbito com valor igual a 0,033.
DISCUSSÃO
A qualidade do serviço de uma UTI sofre influência direta sobre o
conhecimento do perfil de sua clientela, já que a análise proporcionará um
direcionamento aos gestores e profissionais acerca de decisões a serem tomadas
como a aquisição de tecnologias, treinamento dos recursos humanos, a
reavaliação dos processos de atenção permitindo a adaptação estrutural da
unidade às características demográficas e de morbidade da população que ela
recebe14.
Quanto à análise da
faixa etária observou-se que a maioria se encontrava entre 71 e 80 anos
resultado encontrado em outro estudo realizado em uma UTI no estado da Paraíba,
no qual a maior porcentagem foi de pacientes com idade superior a 70 anos
(32%), seguido dos internamentos na faixa etária entre 61 a 70 anos (21%).
Em
outro estudo retrospectivo realizado na UTI de um hospital do Himalaia na Índia
em 2016 revelou resultados semelhantes em que 990 pacientes (42,8%) tinham
entre 46 e 70 anos de idade e 246 pacientes apresentavam mais de 71 anos de
idade15.
Os resultados
também são confirmados a partir de outros estudos brasileiros, que destacam que
cerca de 60% dos leitos de UTI são ocupados por pacientes acima de 65 anos.
Essa situação tem refletido no aumento da demanda por assistência à saúde e
consequentemente do custo financeiro do setor saúde, principalmente em relação
à medicina intensiva, devido ao fato de as diárias de internação em UTI em
pacientes acima de 75 anos tem custo 7 vezes superiores às de pacientes com
idades inferiores a 65 anos14,16.
Do total da
população estudada, os resultados relacionados ao sexo apresentaram o
predomínio do sexo feminino apresentando uma porcentagem de 50,8%, no entanto,
observou-se que houve uma proporção quase igual entre os sexos. De fato, a
maioria dos estudos sinaliza a predominância do sexo masculino, dado confirmado
por uma pesquisa onde foi observado que 61,6% dos pacientes pertenciam ao sexo
masculino. Infere-se que esta realidade encontra-se relacionada à falta de
prevenção e cuidados pela saúde por parte de alguns homens. Na maioria dos
casos quando eles aderem a iniciativas que visem a prevenção de doenças a
gravidade já encontra-se estabelecida6.
No que se refere à
procedência, a prevalência foi de pacientes provenientes da urgência seguidos
da clínica médica e sequência das UPAs. Sabe-se que pacientes da urgência podem
apresentar risco iminente de morte, onde torna-se necessário atendimento
imediato e que seja resolutivo, podendo apresentar a ocorrência de um dano à
saúde do indivíduo, com ou sem risco potencial de morte, em vista disso, caso
ocorra um agravamento no estado de saúde do indivíduo, torna-se imprescindível
cuidados intensivos, sendo essencial o encaminhamento para a UTI17.
Em relação aos
diagnósticos durante a admissão o presente estudo revelou que a principal causa
esteve relacionada aos agravos do sistema cardiovascular em que 129 pacientes
apresentaram essa patologia com 28% dos casos, no qual AVE e ICC foram as
principais. Isso é evidenciado em um estudo, o qual confirma que as doenças do
aparelho circulatório são as que apresentaram o maior número de internações,
bem como estudo realizado em UTI geral de São Paulo, as doenças
cardiovasculares foram as responsáveis por 58% das internações6.
Em um estudo
realizado na UTI de Valença/RJ, a prevalência de problemas cardiovasculares
encontra-se entre os pacientes na faixa etária de 71 a 80 anos. Uma pesquisa
realizada em São Paulo, mostra que as modificações ocorridas no aparelho
circulatório são responsáveis por mais da metade de internações. Estudos do Rio
de Janeiro, Fortaleza, São Paulo e Maringá relatam a disfunção cardiovascular
como sendo uma das frequentes causas de internações nas UTIs. O AVE é
identificado como um impasse de saúde pública mundial, sendo a causa mais
frequente de incapacidade em idosos18.
As doenças
respiratórias relacionadas ao presente estudo tiverem como resultado as
seguintes prevalências: as IRPA, as pneumonias, sepse do foco respiratório e
DPOC. O presente estudo corrobora com pesquisas publicadas, no qual em relação
ao desfecho dos diagnósticos, foram observados como mais prevalentes a asma,
rinite, lesão pulmonar aguda, pneumonia e bronquite, cada paciente apresentava
dois ou mais diagnósticos relacionados a doenças pulmonares19.
As doenças
respiratórias agudas são responsáveis por grande parte das internações nos
países, sendo a maioria das infecções (80%) de etiologia viral, as internações
podem variar conforme a região do país, sendo necessário monitorar e conhecer o
perfil epidemiológico, para que desse modo seja possível definir prioridades na
distribuição de recursos financeiros e humanos20.
A sepse apresentou
12,7% os casos, alguns estudos publicados evidenciaram as infecções nas UTIs ao
estado de saúde do paciente e aos procedimentos invasivos realizados, no qual
os pacientes passam por pelo menos um tipo procedimento como ventilação
mecânica, traqueostomia ou acesso venoso central. Um relatório do Instituto
Latino Americano relacionado ao número de pacientes que apresentaram sepse ou
choque séptico coletados em 134 centros brasileiros no período de 2005 e 2016
revelaram que 52.045 pacientes foram admitidos em UTI apresentando uma das
condições21.
As doenças
infecciosas tornaram-se um grande problema da saúde pública, o qual apresentam
etiologia multifatorial, relacionando-se a condição ambiental. Em pesquisa
realizada na UTI de um hospital público do Paraná foi identificado que 49,8% de
554 pacientes desenvolveram sepse comunitária, 58% eram de origem clínica, 29%
traumática e 13% cirúrgica, sendo que as principais prevalências de infecção
foram pulmonares, seguida de traumática, abdominal e urinária. Já no que se
refere ao desfecho clínico de óbitos, este foi de 97% para síndrome da resposta
inflamatória sistêmica (SIRS), 85,2% para choque séptico e 32,9% para sepse. Os
dados se justificam pelo fato de a maior parte da população estudada ter sido
composta por idosos, e devido à idade avançada os idosos adoecem facilmente,
apresentando maiores complicações ao desenvolver doenças, além de serem
submetidos constantemente a procedimentos invasivos, os idosos apresentam um
risco maior de infecção respiratória. A mortalidade relacionada com a idade é
ocasionada pelo fato de a recuperação ser mais lenta22.
As doenças do
sistema do gastrointestinal também apresentaram resultados significantes com 36
(8%) dos casos, esses dados corroboram com uma pesquisa realizada no estado de
São Paulo, onde 66% pacientes apresentaram algum tipo de complicação, sendo a
diarreia a mais frequente com uma porcentagem de 57% dos pacientes23.
Em relação aos
resultados sobre alta, óbito ou transferências, foi verificado que 240 (52%)
evoluíram para o óbito. 209 (45,3%) tiveram alta, 9 (2%) foram transferidos e 3
(0,7%) permaneciam na UTI. Já em estudos recentes foi identificado um índice de
mortalidade menor que 50%, como foi o caso do realizado em uma UTI adulto de um
hospital regional paraibano dos (38%) de óbitos 21 eram homens e 17 mulheres,
outra pesquisa integrada por 189 pacientes mostrou que a mortalidade na UTI foi
de 38,6%14.
No presente estudo
foi identificado a presença de LPP em 28,9% dos pacientes no momento em que
foram admitidos. Observa-se que a incidência de LPP em pacientes críticos são
10,0% a 62,5%, já em estudos internacionais a incidência está entre 3,2 e
39,0%. Assim, torna-se um indicador de alerta quando o paciente hospitaliza-se
com a presença deste agravo. Cerca de 23,4% dos pacientes apresentavam lesão na
região sacral, em consonância com os resultados apresentados em pesquisa
realizada em uma UTI de São Paulo, onde o local mais predominante foi a região
sacral, essa informação é justificada pela permanência do paciente em decúbito
dorsal por períodos prolongados e pelo uso de dispositivos que dificultam ou
impossibilitam a mudança de decúbito24.
No que se refere ao teste Qui-Quadrado
houve significância estatística quando associou-se as variáveis procedência versus
óbito com resultado igual a 0,033 ressaltando que a maior parte dos pacientes
precederam da Urgência. Ao analisar a associação entre procedência e óbito é
possível compreender a partir de estudos realizados a partir de dados dos
Sistemas de Informações Hospitalares (SIH) que as elevadas admissões em UTI são
procedentes do setor da urgência25.
Em relação às
variáveis idade e óbito, um estudo realizado em uma UTI na cidade de Natal no
Rio Grande do Norte conclui que os pacientes idosos internados que necessitam
de cuidados intensivos, por motivos fisiológicos, estão mais susceptíveis a
adquirir comorbidades sendo este, um fator complicador no que se refere a
sobrevida, além do entendimento da relação proporcional de que quanto maior a
idade maior o risco do desfecho óbito25,26.
Assim, o estudo vislumbra contribuir para ações que contemplem tanto a
área da gestão e gerenciamento do serviço no que se refere às demandas de
atendimento, bem como ao relacionar questões acerca da educação permanente em
saúde reiterando o compromisso com a capacitação para o melhor atendimento e
qualificação do cuidado prestado em UTI. Cabe salientar a necessidade de novos
estudos principalmente após a realização de intervenções e a testagem de outras
variáveis com a finalidade de melhorias no serviço, qualificação e segurança na
assistência.
O estudo dos dados
epidemiológicos e sociodemográficos dos pacientes, é essencial e necessário no
setor da UTI, uma vez que através das informações coletadas é possível traçar
estratégias para melhorar a assistência e principalmente a prevenir complicações
e agravos.
De acordo com os
resultados obtidos nessa pesquisa, concluiu-se que a maioria dos pacientes
internados na UTI são pacientes idosos, que apresentam comorbidades, com
proporção de equivalência referente ao sexo, diferindo-se de outros estudos no
qual a maioria apresenta predomínio do sexo masculino. A maior parte procedeu
da urgência e com doenças cardiovasculares. Em relação ao desfecho após
internação menos da metade dos pacientes tiveram alta, a maioria evolui para o
óbito, uma parcela significativa já apresentava LPP. A hipótese foi confirmada
já que houve relação estatisticamente significativa entre as variáveis
procedência com relação ao desfecho óbito.
Quanto às limitações deste estudo foram
observadas algumas lacunas no livro de registro de ocorrência dentro do setor,
no entanto a busca no serviço de arquivo e no sistema hospitalar possibilitaram
mitigar a fragilidade encontrada. Neste prisma, espera-se que as informações
adquiridas nessa pesquisa possam contribuir no tocante ao planejamento
assistencial, financeiro e de educação permanente, além de reiterar a
necessidade do registro adequado das anotações de enfermagem.
Conflito de interesse
Os autores afirmam não haver conflitos de
interesses.
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[1] Data de recepção: 14 de julho de 2020 Data de aceitação: 21 de outubro de 2020
[2] Enfermeira. Egressa do Centro Universitário de João Pessoa. João
Pessoa, PB, Brasil. Email: larissa_castro.1@hotmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1914-6101
[3] Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem. Docente do Centro
Universitário de João Pessoa. João Pessoa, PB, Brasil. Email: falves.almeida@hotmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7519-1292
[4] Enfermeira. Doutoranda em Modelos de Decisão e Saúde. Docente do
Centro Universitário de João Pessoa. João Pessoa, PB, Brasil. Email: ericka.amorim@unipe.edu.br ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2763-3652
[5] Fisioterapeuta. Mestre em Fisioterapia pela Universidade Cidade
de São Paulo – UNICID. Tutora do núcleo de fisioterapia no programa de
residência multiprofissional em saúde hospitalar do Hospital Universitário
Lauro Wanderley. João Pessoa, PB, Brasil. Email: anaizabelcunha@hotmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3304-9137
[6] Médica. Residente em Clínica Médica pelo Centro Universitário de
João Pessoa – UNIPÊ. João pessoa, PB, Brasil. Email: carolineccardoso@hotmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5796-2230
[7] Enfermeiro. Mestre em Enfermagem. Docente do Centro Universitário
de João Pessoa. João Pessoa, PB, Brasil. Email: ronnyufpb@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6443-7779