Artico
Original
Obesidade e sobrepeso em trabalhadores feirantes e seus fatores
associados.
Marcela Andrade Rios1, Tânia
Teixeira de Figueredo2, Polyana Leal da
Silva3, Edsônia dos Santos Barbosa Ribeiro4,
Glasiele Santos de Oliveira5, Rebeca de Jesus Silva6
1 Enfermeira, Doutora em Ciências da Saúde,, Universidade do Estado da
Bahia, Departamento de Educação,
Guanambi, Bahia, Brasil,
ORCID: 0000-0001-7180-2009
2 Graduanda em Enfermagem, Universidade do
Estado da Bahia, Departamento de Educação,
Guanambi, Bahia, Brasil,
ORCID: 0000-0003-3721-6959
3 Enfermeira, Mestre em Ciências
da Saúde, Secretaria Municipal de Saúde,
Baixa Grande, Bahia, Brasil
Brasil, ORCID: 0000-0002-1787-4535
4 Graduanda em Enfermagem, Universidade do Estado da Bahia,
Departamento de Educação, Guanambi,
Bahia, Brasil, ORCID: 0000-0001-9756-423X
5 Enfermeira, Secretaria
Municipal de Saúde, Departamento de Vigilância à Saúde, Itapetinga, Bahia, Brasil, ORCID: 0000-0001-7894-7884
6 Graduanda em Enfermagem, Universidade do
Estado da Bahia, Departamento de Educação,
Guanambi, Bahia, Brasi, ORCID: 0000-0002-2703-5575
Información del artículo
Recibido: 20-10-2020
Aceptado: 08-10-2021
DOI:
10.15517/enferm.
actual costa rica (en línea).v0i42.44298
Correspondencia
Marcela Andrade Rios
Universidade do
Estado da Bahia
marcelariosenf@gmail.com
RESUMO
Objetivo: Estimar a prevalência de sobrepeso e obesidade em
trabalhadores feirantes de Guanambi e verificar sua associação com
características sociodemográficas e laborais.
Metodologia: Estudo censitário e transversal, desenvolvido com
dados obtidos da baseline de pesquisa maior denominada “Acidentes de trabalho
em feirantes e as condições laborais e de saúde: estudo prospectivo”. A coleta
de dados ocorreu entres os meses de janeiro a março de 2018, por meio da
aplicação de formulários e verificação de dados antropométricos de peso e
estatura. A análise foi realizada com auxílio do software IBM SPSS, descritiva,
com cálculos de frequências relativas e absolutas, teste do Qui-quadrado do
Person, utilizando valor de p ≤ 0,05 como significância estatística.
Resultados: Observou-se que 33,3% apresentaram sobrepeso e 28,6
% obesidade, resultando em 66,5 % trabalhadores com excesso de peso. Dos quais,
71,5 % era de prevalência do sexo feminino, entre a faixa etária de 41 a 59
77,5%, com escolaridade até o ensino fundamental 73,3 % e 65,0% dos
trabalhadores que relataram perfil de vida negativo. Em relação ao tipo de
mercadoria comercializada, o maior percentual foi em produtos in natura
65,8%. Quanto à comorbidades, Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial,
apresentaram respectivamente, 65,4% e 61,4% excesso de peso.
Conclusão: Foram encontrados fatores modificáveis e não modificáveis nos
trabalhadores com maiores frequências de obesidade e sobrepeso. Aponta-se a
importância de ações de promoção à saúde junto a tais trabalhadores visando
minimizar potenciais riscos à saúde.
Palavras chave: Obesidade; Saúde-do-trabalhador, Sobrepeso.
RESUMEN
Obesidad y sobrepeso en
trabajadores del mercado y sus factores asociados.
Objetivo:
Estimar la prevalencia de sobrepeso y obesidad en trabajadores del mercado de
Guanambi y verificar su asociación con características sociodemográficas y
laborales.
Método:
Censo y estudio transversal, desarrollado con datos de la línea base de otra
investigación más amplia, denominada "Accidentes de trabajo en vendedores
ambulantes y condiciones de salud y trabajo: estudio prospectivo". La
recolección de datos se realizó entre los meses de enero a marzo de 2018,
mediante la aplicación de formularios y verificación de datos antropométricos
de peso y talla. El análisis se realizó con la ayuda del software IBM SPSS, descriptivo,
con cálculos de frecuencias relativas y absolutas, prueba de Chi-cuadrado de
Person, utilizando p ≤ 0.05 como significancia estadística.
Resultados:
Se observó que el 33.3 % tenían sobrepeso y el 28.6 % (122) obesidad,
por lo cual 66.5 % trabajadores tenían sobrepeso. De esta cantidad de
trabajadores, 71.5 % (173) eran mujeres, 77.5 % estaban en el grupo
de edad 41-59, 73.3 % tenían escolaridad hasta primaria y 65.0 % de
trabajadores que reportaron un perfil de vida negativo. En cuanto al tipo de
mercadería vendida, el mayor porcentaje fue en productos in natura 65.8 %.
En cuanto a las comorbilidades, 65.4 % tenía diabetes mellitus e
hipertensión arterial y el 61.4 % tenía sobrepeso.
Conclusión:
Se encontraron factores modificables y no modificables en trabajadores con
mayor frecuencia de obesidad y sobrepeso. Se destaca la importancia de las
acciones de promoción de la salud con esta población, con el objetivo de
minimizar los posibles riesgos para la salud.
Palabras clave:
Obesidad; Salud-Laboral; Sobrepeso.
ABSTRACT
Obesity and overweight in
market workers and their associated factors.
Objective: To estimate the prevalence
of overweight and obesity in market workers in Guanambi
and to verify its association with sociodemographic and labor characteristics. Method:
The study was carried out through a census and cross-sectional study
developed with data obtained from a larger research baseline called "Work
accidents at street vendors and health and work conditions: prospective
study". The data collection took place between January and March 2018
through the application of forms and the verification of anthropometric data of
weight and height. The analysis was carried out with the aid of the IBM SPSS
software, descriptive, with calculations of relative and absolute frequencies,
and Person's Chi-square test using p ≤ 0.05 as statistical significance.
Results: It was observed that 33.3% of the population
was overweight and 28.6% (122) presented obesity, resulting in 66.5% overweight
workers. Of which, 71.5% (173) were female, between the 41-59 age group, 77.5%,
with schooling up to elementary school 73.3% and 65.0% of workers who reported
a life profile negative. Regarding the type of merchandise sold, the highest
percentage was in products in nature 65.8%. As for comorbidities, Diabetes
Mellitus and Hypertension, 65.4% and 61.4% were overweight, respectively.
Conclusion: Modifiable and
non-modifiable factors were found in workers with higher frequencies of obesity
and overweight. The importance of health promotion actions with such workers is
pointed out, aiming to minimize potential health risks.
Keywords: Obesity;
Occupational-Health, Overweight.
INTRODUÇÃO
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a obesidade como um agravo
de cunho multifatorial consequente de um balanço energético positivo que
propicia o acumulo de gordura¹. A caracterização de sobrepeso e obesidade está
associada a fatores constituintes do modo de vida da população e a causas não
individuais, tais como, aspectos socioeconômicos e ambientais¹.
No que concerne ao ganho excessivo de peso, no âmbito mundial, existe
uma estimativa da existência de 627 milhões de adultos obesos em todo o planeta¹.
Já no Brasil, o percentual de adultos obesos corresponde a 19,8% da população
total do país e, 55,7% representa aqueles em sobrepeso¹.
Ao tratar da temática obesidade e sobrepeso, tem-se que o acúmulo de
tecido adiposo é uma das consequências do excesso de peso, o qual desempenha
diversas atividades no organismo, provocando um agravamento nas funções do
tecido, os chamados distúrbios cardiovasculares e metabólicos. Porém, essa
adiposidade ocasiona outras alterações fisiológicas, alterações menstruais,
alguns tipos de câncer, distúrbios do sono e humor e chega até mesmo atingir
outros sistemas, como, nervoso e imunológico2.
A obesidade é considerada como uma epidemia mundial, cada vez mais
crescente, com estimativas elevadas para os próximos anos pela OMS e
responsável pela redução da qualidade de vida, aumento de comorbidades e da
mortalidade, diminuição da capacidade funcional e autoestima pessoal³. Na área
do trabalho não é diferente, os números crescem consecutivamente, com grande
prevalência nas diferentes esferas que compõem este campo amplamente vasto4.
É evidenciada pela literatura
que os índices de trabalhadores em excesso de peso são considerados altos, pois
o mercado de trabalho propicia esta condição, os quais possuem características
desfavoráveis aos trabalhadores4. A exposição a pressões, tanto
psicológicas, como de ordem física, provocadas pelas condições de trabalho,
podem deixar o trabalhador vulnerável a hábitos alimentares modernos, rápidos e
nada saudáveis, e com escassez ou não priorização de tempo para realização de
atividades físicas. Assim, este mercado ocupacional deixa os trabalhadores mais
vulneráveis a fatores de risco que levam a não priorização de um estilo de vida
saudável, levando a um ganho de peso5.
O comércio informal é sentenciado por condições de trabalho muitas
vezes insalubres. Tal setor compreende atividades laborais, onde não há
cobertura pela segurança social por não possuírem contrato formal trabalhista.
Além disso, são carentes de benefícios trabalhistas, e trabalham por conta
própria em sua maioria ou não possuem contrato formal6.
Neste setor, sem formalidades, prevalecem as questões voltadas para os
aspectos de saúde e ocupacionaisno qual, a assistência médica é deficitária ou
inexistente, muitas das relações de trabalho são marcadas pelo autoritarismo e
exploração, longas jornadas de trabalho, a falta de segurança e principalmente
a não garantia dos direitos sociais básicos, sem contar com as baixas
remunerações6. Porém, para aqueles sem emprego formal, o mercado
informal tornou-se sua principal fonte de renda e sobrevivência, pois é
considerado um campo vasto e amplo, com espaço para todos6.
No mercado informal existem diversas modalidades de inserção, os
trabalhadores feirantes compõem essa esfera. Estes indivíduos constituem-se nas
feiras livres, que tiverem origem no século IX na Europa com o intuito de
suprir as necessidades básicas da população. O que consistia-se em legado
familiar, passou a constituir uma atividade de fonte de renda e subsidio ao
desemprego. Porém, assim como as demais modalidades do comercio informal,
apresenta condições inadequadas, como, extensas jornadas de trabalho, estrutura
física inadequada, estilos de vida e hábitos alimentares modificados7.
Com isso, o presente estudo tem o objetivo de estimar a prevalência de
sobrepeso e obesidade em trabalhadores feirantes de Guanambi e verificar sua
associação com características sociodemográficas e laborais.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo censitário e transversal. Foi desenvolvido com dados
obtidos do projeto maior: “Acidentes de trabalho em feirantes e as condições
laborais e de saúde: estudo prospectivo”, compreendendo os dados
sociodemográficos, laborais e antropométricos de trabalhadores do Mercado
Municipal de Guanambi-BA, localizada na região sudoeste da Bahia.
A população estudada foi constituída por todos os trabalhadores que
desenvolviam atividades comerciais no mercado municipal de Guanambi, os quais
atendessem aos seguintes critérios de inclusão, a saber: trabalhadores camelôs
e feirantes, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 16 anos, que não
possuíam registro em carteira de trabalho que é um direito reconhecido pela
CLT, o qual foi recepcionado pelo artigo 7º, inciso I, da Constituição Federal
de 1988, que trata o reconhecimento da relação de emprego como direito
fundamental do trabalhador, para tal atividade, exercendo suas atividades em
local especificado pela administração do mercado. Vale salientar que, por não
haver o quantitativo do número de trabalhadores informais do mercado municipal,
no final do ano de 2017, foi realizado um levantamento in loco, totalizando 453
trabalhadores feirantes. Destes, na etapa de coleta de dados foi possível
encontrar apenas 426 participantes. Dos 426 trabalhadores em atividade no
mercado municipal de Guanambi, destes, 397 foram elegíveis para efeitos deste
estudo. A perda de 29 (6,8%) ocorreu devido a não realização ou recusa em
realizar as medidas antropométricas de peso e estatura.
Anteriormente à coleta de dados no mês de janeiro de 2018, a equipe,
composta por 12 discentes de enfermagem e 3 enfermeiros supervisores foram
treinados e calibrados, bem como, foi realizado um estudo piloto com vistas a
garantir a qualidade do estudo.
A coleta de dados foi realizada entre os meses de janeiro a março de
2018, por meio da aplicação de formulários e verificação de dados
antropométricos de peso e estatura. Para aplicação dos formulários foram
utilizados dispositivos (tablets) com formulários eletrônicos no aplicativo
Open Data Kit (ODK).
Para verificação de dados de
antropometria seguiu-se as recomendações do manual de orientações para coleta e
análise de dados antropométricos em serviços de saúde do Ministério da Saúde
(2011). Para aferição da estatura foi utilizado um estadiômetro compacto
afixado em uma parede (Caumaq LTDA, Cachoeira do Sul, Brasil). Por outro lado,
para aferição da massa corporal foi utilizada uma balança digital (Plenna®, São
Paulo, Brasil). As medições foram realizadas com os participantes descalços,
usando roupas leves e sem acessórios que pudessem interferir nos valores
aferidos.
As variáveis independentes foram características sociodemográficas
(sexo, faixa etária, escolaridade, raça/cor, estilo de vida, atividade física),
aspectos ocupacionais (jornada de trabalho, tipo de mercadoria, percepção de
saúde) e aspectos de saúde (alterações na glicemia, hipertensão arterial,
diabetes mellitus e procura do serviço de saúde). As variáveis dependentes
foram obesidade e sobrepeso, obtidas pelo IMC (índice de massa corpórea) de
acordo com o cálculo (peso/altura²), utilizando os pontos de corte: “abaixo do
peso” < 18,5 kg/m², “normal” ≥ 18,5 kg/m² e ≤ 24,9 kg/m², “sobrepeso” ≥ 25,0
kg/m² e < 30 kg/m² e “obesidade” ≥ 307, onde as duas últimas foram
classificadas como excesso de peso.
O estilo de vida foi avaliado por meio do perfil de estilo de vida,
instrumento elaborado8 e validado9, consistindo em um
modelo de avaliação que inclui cinco fatores ou componentes associados ao hábito
de vida de pessoas ou determinados grupos de pessoas: prática de atividade
física, nutrição, comportamento preventivo, relacionamentos e controle de
estresse8. Foi realizada a análise global do estilo de vida. Já a
atividade física foi avaliada apenas com o questionamento se o trabalhador
realizava qualquer tipo de atividade física, excetuando atividades domésticas e
de trabalho de maneira frequente.
A avaliação dos parâmetros glicêmicos foi através da coleta de sangue
dos participantes em jejum por no mínimo de 12 horas e encaminhadas ao
laboratório para análise. Os valores de referência para classificação das
alterações glicêmicas foram: não (até 126mg/dl), sim (mais de 126 mg/dl)10.
A análise dos dados foi realizada com auxílio do software IBM SPSS,
versão 22.0. A estatística descritiva foi através das frequências relativas e
absolutas. Para verificar os fatores associados às alterações no peso foi realizado
o teste do Qui-quadrado de Pearson, com adoção do valor de α ≤ 0,05.
O estudo foi aprovado pelo comitê de Ética em pesquisa da UNEB pelo
parecer de número 2.373.330 de 2017. Todos os participantes assinaram os termos
de consentimentos. Para os participantes com idade menor que 18 anos, foi
solicitado que assinassem o termo de assentimento e seu responsável termo de
consentimento, como prevê a resolução do Conselho Nacional de Saúde.
RESULTADOS
Dos 397 trabalhadores
estudados, 142 (33,3%) apresentaram sobrepeso, e 122 (28,6%) obesidade,
resultando em 264 feirantes com excesso de peso (66,5%) verificadas por meio do
índice de massa corpórea.
Na tabela 1 é possível visualizar as características sociodemográficas
dos trabalhadores feirantes do mercado municipal de Guanambi, relacionadas ao
desfecho excesso de peso.
Concernente ao sexo e faixa etária observou-se que existe associação
com o desfecho de obesidade de forma significativa, sendo mais prevalente entre
as mulheres. Quanto à faixa etária, também foi verificada diferença
significativa, onde a faixa etária de 41 a 59 obteve os maiores índices de
excesso de peso, seguida de trabalhadores com 60 anos ou mais. Chama atenção
que indivíduos entre 15 a 40 anos apresentam percentuais de sobrepeso e
obesidade expressivos, representando 53,2%.
Em relação à escolaridade dos feirantes, majoritariamente os que foram
classificados como excesso de peso possuem até o ensino fundamental e, quanto à
raça/cor, a maior parte foi em pessoas negras. Porém a diferença apontada entre
as duas etnias estudadas é pequena, já que indivíduos autorreferidos como não negros
foi de 62,3%.
No perfil do estilo de vida, ou seja indivíduos com maus hábitos de
saúde, 65,0% dos trabalhadores que foram classificados com perfil negativo
apresentam excesso de peso, ressalta-se que aqueles com estilo de vida positivo
77,1% foram considerados como peso inadequado.
É possível notar quanto a realização ou não de atividade física entre
os feirantes, que os percentuais de excesso de peso não divergem de forma expresiva
(Tabela 1).
A tabela 2 refere-se aos aspectos ocupacionais, evidenciando as
diferenças significativas apenas nas variáveis “Jornada de trabalho” e
“Percepção de saúde”. É possível perceber também quanto à jornada de trabalho
que trabalhadores com carga de trabalho igual ou superior a 44 horas
apresentaram 69,1% de excesso de peso. Sobre a percepção de saúde, esta
variável mostrou-se associada ao desfecho, onde os feirantes com percepção de
“regular/ruim” representaram 74,8% de obesidade e sobrepeso.
Concernente ao tipo de mercadoria nota-se significância do p-valor
apresentado, onde a maior prevalência encontrada foi entre trabalhadores que
comercializam produtos do ramo de açougue, com 68,4%, seguido daqueles que
vendem alimentos in natura 65,8% (Tabela 2).
Por meio da tabela 3 é possível visualizar os aspectos de saúde, sendo
os fatores associados ao excesso de peso: alterações glicêmicas e relato de
hipertensão arterial sistémica (Tabela 3).
DISCUSSÃO
O presente estudo constatou um alto percentual de
excesso de peso em trabalhadores feirantes do mercado municipal de Guanambi. A obesidade e o sobrepeso são fatores de risco para
doenças
Tabela 1
Características sociodemográficas e de estilo de vida
associados ao excesso de peso em trabalhadores feirantes do Mercado Municipal
de Guanambi, Bahia, Brasil, 2019.
EXCESSO DE
PESO |
Valor de p |
|||||||
SIM |
NÃO |
|||||||
n |
% |
n |
% |
|||||
|
|
|
|
0,009 |
||||
Masculino |
91 |
58,7 |
64 |
41,3 |
||||
Feminino |
173 |
71,5 |
59 |
68,5 |
||||
Faixa etária (em anos) |
<0,001 |
|||||||
15 a 40 |
67 |
53,2 |
59 |
46,8 |
||||
41 a 59 |
148 |
77,5 |
43 |
22,5 |
||||
60 ou mais |
49 |
61,3 |
31 |
38,8 |
||||
Escolaridade |
|
|
|
|
0,314 |
|||
Até fundamental |
192 |
73,3 |
70 |
26,7 |
||||
Médio ou acima |
72 |
53,3 |
63 |
46,7 |
|
|||
Raça/cor |
|
|
|
|
|
|||
Negros |
178 |
68,7 |
81 |
31,3 |
0,198 |
|||
Não negros |
86 |
62,3 |
52 |
37,7 |
|
|||
Perfil do Estilo de vida |
0,098 |
|||||||
Negativo |
227 |
65,0 |
122 |
35,0 |
||||
Positivo |
37 |
77,1 |
11 |
22,9 |
||||
Atividade Física Sim |
95 |
66,0 |
49 |
34,0 |
0,867 |
|||
Não |
169 |
66,8 |
84 |
33,2 |
||||
TOTAL |
264 |
66,5 |
133 |
33,5 |
|
|||
crônicas, em
especial, o diabetes mellitus e a hipertensão arterial. Além dos efeitos a saúde,
ainda afeta as condições socioeconômicas, não apenas em países emergentes, mas
como em países desenvolvidos, sendo uma questão de saúde pública11.
Tabela 2
Aspectos ocupacionais associados ao excesso de peso em
trabalhadores feirantes do Mercado Municipal de Guanambi, Bahia, Brasil, 2019.
VARIÁVEIS |
EXCESSO DE PESO |
Valor de p |
||||
SIM |
NÃO |
|||||
N |
% |
N |
% |
|||
Jornada de Trabalho |
0,008 |
|||||
Até 44 horas |
134 |
64,1 |
75 |
35,9 |
||
44 horas ou mais |
130 |
69,1 |
58 |
30,9 |
||
Percepção de Saúde |
|
|
|
|
<0,001 |
|
Regular/Ruim |
160 |
74,8 |
54 |
25,2 |
||
Bom/Muito Bom |
104 |
56,8 |
79 |
43,2 |
||
Tipos de Mercadoria
comercializada |
0,298 |
|||||
Alimentos In
Natura |
75 |
65,8 |
39 |
34,2 |
||
Alimentos feitos |
95 |
76 |
30 |
24 |
||
Carnes/Frangos/Peixes |
52 |
68,4 |
24 |
31,6 |
||
Artesanatos |
4 |
50 |
4 |
50 |
||
Outros |
38 |
51,4 |
36 |
48,6 |
||
TOTAL |
264 |
66,5 |
133 |
33,5 |
|
|
Identificado
como sendo a maior prevalência em indivíduos do sexo feminino, contrapondo-se a
outros achados, os quais apresentaram maior incidência no sexo masculino ou não
possuíam diferença estatística significativa entre as categorias.
Conforme a literatura, o curso do amadurecimento humano possui poder de
influência no ganho de peso, decorrente de uma queda na produção hormonal e
consequentemente a redução no gasto metabólico, processo este que em mulheres
acima dos 40 anos pode estar relacionado ao climatério, fase que ocorre muitas
mudanças hormonais11.
De acordo com o Ministério da Saúde do Brasil, nos últimos anos, os
índices de obesidade e sobrepeso cresceram significativamente em adolescentes e
Tabela 3
Aspectos de saúde associados ao excesso de peso em
trabalhadores feirantes do Mercado Municipal de Guanambi, Bahia, Brasil, 2019.
VARIÁVEIS |
EXCESSO DE PESO |
Valor de p |
|||
SIM |
NÃO |
||||
N |
% |
N |
% |
||
Alterações Glicêmicas |
|
|
|
|
0,009 |
Sim |
229 |
64,5 |
126 |
35,5 |
|
Não |
32 |
84,2 |
6 |
15,8 |
|
Relato de HAS* |
|
|
<0,001 |
||
Sim |
188 |
61,4 |
118 |
38,6 |
|
Não |
76 |
83,5 |
15 |
16,5 |
|
Relato de DM** |
|
|
|
|
0,103 |
Sim |
240 |
65,4 |
127 |
34,6 |
|
Não |
24 |
80,0 |
6 |
20 |
|
Relato de procura por Serviço de Saúde nas últimas semanas |
|||||
Sim |
223 |
64,8 |
121 |
35,2 |
0,072 |
Não |
41 |
77,4 |
12 |
22,6 |
|
TOTAL |
264 |
66,5 |
133 |
33,5 |
|
*Hipertensão Arterial Sistêmica
**Diabetes Mellitus
adultos
jovens, entretanto, a média nacional prevalece em indivíduos com 60 anos ou
mais12. Em contrapartida aos valores obtidos, a maior incidência
foram em pessoas na faixa etária de 41 a 59 anos.
No estudo observado a idade de maior prevalência é em indivíduos com 60
anos ou mais, todavia, nota-se um acréscimo em adultos jovens variando até os
45 anos. Porém, é importante ressaltar a relação existente, pois com o avançar
da idade ocorre o aumento da prevalência de sobrepeso, consequentemente, a
obesidade13.
Com relação aos anos de estudo não foi observada diferenças
estatísticas significativas entre os trabalhadores com excesso de peso e
aqueles que não apresentaram tal evento. Tal fato também ocorreu para a
variável a raça/cor.
Estudo aponta que o excesso de peso tem-se tornado fator limitante em
diversos tipos de trabalhos, pois segundo estes, essa população tem uma redução
na habilidade produtiva e consequentemente um menor rendimento. Alguns fatores
podem ser considerados como influenciadores para este processo, tais como, o
perfil do estilo de vida e a não prática da atividade física14,15,
entretanto, não foi encontrada diferença estatística no presente estudo.
No que se refere a jornada de trabalho, a maior prevalência de excesso
de peso foi na classe trabalhadora com carga horária mais intensa. Infere-se
que, isto, ocorre como consequência de uma demanda exacerbada do potencial
físico para uma boa produtividade. Causando além do cansaço físico, esgotamento
mental, estresse, diminuição da prática da atividade física e lazer pessoal
intervindo assim no modo de vida, e tornando indivíduos sedentários. O qual,
que pode influenciar no processo de excesso de peso16.
Quanto à percepção de saúde compreende-se associação com a qualidade de
vida na qual, o poder aquisitivo possui interferência no quesito de compra de
bens e produtos de melhor qualidade para consumo próprio, permitindo assim
maior acesso a atividade física e o lazer colaborando para a manutenção do peso
ideal. O sedentarismo e os maus hábitos alimentares são fatores que influenciam para o ganho de peso. Segundo
a literatura quanto maior a qualidade de vida e estilo saudável, melhor é a
percepção de saúde, e como consequente menores índices de obesidade e sobrepeso17.
A respeito da variável “Tipo de mercadoria”, sendo esta diretamente
conexa ao excesso de peso neste estudo, os maiores índices foram em
trabalhadores que comercializam alimentos.
Deduz-se, que estes resultados são consequências da grande exposição aos
alimentos comercializados, proveniente da possibilidade de consumo excessivo,
principalmente aqueles produtos com maior teor de gordura e proteínas, como é
caso das carnes/frangos/peixes. Entretanto os produtos “in natura” também
correspondem a um alto quantitativo, porém dentre as pesquisas realizadas não
foi encontrado nenhum estudo que corroborasse com esse achado, já que os mesmos
apresentaram resultados muitos inferiores ou o uso dos produtos “in natura”
para o equilíbrio nutricional e consequentemente a redução de peso18.
O comércio informal é marcado pelo sua heterogeneidade, não apenas em
diferenças de rendimentos mensais, mas também na grande diversidade de
mercadorias que são comercializadas. Muitas das quais são iguais, e são
trabalhadas e vendidas de formas distintas, exibindo assim o vasto campo
informal que varia de um local para outro19.
Conforme estudo20 a obesidade é fator de risco para o
aparecimento de muitas doenças, e as alterações na glicemia podem ser
indicativas de diabetes mellitus. Neste estudo, existe uma ligação direta entre
alterações na glicemia e o ganho de peso, em que, mais da metade dos indivíduos
que apresentaram alterações tinha obesidade ou sobrepeso. Essa condição pode
ser implicada pelo perfil do estilo de vida, no qual o trabalhador adquire
hábitos alimentares ruins, associado ao sedentarismo. Outro ponto importante é
questão do estresse no ambiente de trabalhado o que propicia, de acordo com a
literatura, tanto o excesso de peso como alterações na glicemia20.
Sabe-se que, hábitos alimentares saudáveis aliados à prática de
atividade física possibilita a manutenção adequada do corpo, evitando
aparecimento de doenças. O sobrepeso e obesidade têm como uma de suas causas o
perfil de estilo de vida negativo, o qual estas prática positivas são
abandonadas. Associados todos estes fatores, o risco para o desenvolvimento de
doenças cardiovasculares cresce, e com isso o surgimento de doenças crônicas.
Nesta pesquisa, bem como em outros estudos, a hipertensão a qual é considerada
como uma doença crônica, ou seja, doença que não tem cura apenas tratamento de
controle, é diretamente influenciada pelo aumento do IMC que é provocado pelas
condições abordadas21.
No que tange a diabetes mellitus, entende-se que a obesidade e o
sobrepeso é fator de risco para esta comorbidades. Porém, o presente estudo não
apresentou diferença estatística significativa entre os indivíduos que
relataram possuir diabetes e manifestou obesidade. Porém, é de fundamental
importância relacionar essas duas categorias, pois o IMC não atende as divisões
de corpo, apesar de identificar e compreender o excesso de peso22,23.
Quanto ao quesito da procura do serviço de saúde apenas uma pequena
quantidade que relatou que procura o serviço está em peso ideal, enquanto a
maioria está com excesso de peso. Em virtude disso, existem políticas públicas
que avaliam e consideram hábitos saudáveis, tais como, a prática de atividade
física, alimentação balanceada e saudável como essenciais, para construção de
um perfil de estilo de vida positivo, e combate à obesidade24.
Ao considerar a temática do excesso de peso nessa população trabalhadora,
a inserção das ações da enfermagem é de fundamental importância, uma vez que,
este evento se torna agravante para diversas situações de saúde, como
acometimento de doenças crônicas. Ademais, a avaliação das condições de saúde,
inclusive do excesso de peso, representa um fenômeno importante no domínio da
enfermagem, tendo em vista que o excesso de peso é um diagnóstico de
enfermagem, segundo a Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem.
O enfermeiro, ao realizar a consulta de enfermagem, monitora dados
antropométricos e pode solicitar exames complementares para avaliar os casos de
riscos e, quando necessário, encaminhar a um profissional especializado. Tal
profissional de saúde, juntamente com equipe interdisciplinar e com o trabalhador
deve identificar, quais os fatores que contribuíram, contribuem ou contribuirão
para o quadro de excesso de peso, sob a perspectiva de comportamento alimentar,
social e, de modo conjunto, devem buscar estratégias de superação destes
fatores, minimizando os riscos de morbidades associadas.
É importante ressaltar que o presente estudo apresenta algumas
limitações tais como o desenho transversal, possibilitando somente uma visão
instantânea das características estudadas. A perda de dados de alguns trabalhadores
que não compareceram para coleta dos dados antropométricos. Entretanto, o
estudo apresenta resultados relevantes, especialmente para nortear ações
promocionais à saúde do trabalhador informal feirante.
E, nesse sentido, estes dados trazidos pelo estudo, concernentes a esta
parcela populacional tangenciada pelas estatísticas oficiais podem balizar as
ações da enfermagem, especialmente inserida nas ações de vigilância em saúde do
trabalhador e da atenção primária à saúde, assim como, a saúde do trabalhador
apresenta-se como um campo em crescimento para a atuação deste profissional,
nos campos práticos e de pesquisa, indispensável para a saúde pública.
CONCLUSÃO
Em suma a obesidade e o sobrepeso acomete recorrentemente a nível
mundial, sendo considerada como uma epidemia. No setor do comércio estudado, os
resultados não foram diferentes, apresentando alta frequência do evento, o que
podem agravar o quadro devido às condições laborais apresentadas, como jornada
de trabalho.
Características modificáveis como o estilo de vida e não procura pelos
serviços de saúde, requerem ações de educação em saúde junto a população
trabalhadora, demonstrando possíveis consequências da obesidade e sobrepeso a
curto, médio e longo prazo na vida do indivíduo. Tais ações precisam ser
realizadas o mais próximo possível de tais trabalhadores, demostrando a
importância da busca pelos serviços de saúde e, dessa forma, visando que os
mesmos possam estabelecer vínculos com a estratégia de saúde da família aos
quais possam estar vinculados. Ademais,
por possuírem diagnósticos médicos para doenças crônicas como hipertensão
arterial e diabetes mellitus, a busca pelos serviços de saúde de maneira
frequente se faz necessário.
Outros fatores são considerados não modificáveis como o sexo e a idade
do trabalhador, portanto, as ações nos aspectos modificáveis são de suma
importância, visando a promoção da saúde e prevenção de doenças e outros
agravos e eventos.
CONFLITO
DE INTERESSE
Os autores declaram não possuir conflito de
interesse de qualquer natureza relacionado ao artigo.
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