Artigo original
Efetividade de vídeo
educativo no conhecimento de leigos em sala de espera sobre a reanimação
cardiopulmonar.
Dariane Veríssimo de Araújo1, João Victor Ferreira Sampaio2,
Ingrid Kelly Morais Oliveira3, José Amauri da Silva Júnior4,
Nelson Miguel Galindo Neto5, Lívia Moreira Barros6
1 Estudante de Enfermagem, Universidade Vale do Acaraú, Centro
de Ciências da Saúde, Sobral, CE, Brasil, ORCID: 0000-0001-5459-9678
2 Estudante de
Enfermagem, Universidade Vale do Acaraú, Centro de Ciências da Saúde, Sobral,
CE, Brasil, ORCID: 0000-0003-4224-7442
3 Estudante de
Enfermagem, Universidade Vale do Acaraú, Centro de Ciências da Saúde, Sobral,
CE, Brasil, ORCID: 0000-0003-1536-7289
4 Estudante de
Enfermagem, Universidade Vale do Acaraú, Centro de Ciências da Saúde, Sobral,
CE, Brasil, ORCID: 0000-0003-2765-3725
5 Doutor em Enfermagem, Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Pernambuco, Departamento de Enfermagem, Pesqueira, PE,
Brasil, ORCID: 0000-0002-7003–165X
6 Doutor em Enfermagem, Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Departamento de Enfermagem,
Redenção, CE, Brasil, ORCID: 0000-0002-0174-2255
Información del artículo
Recibido: 17-02-2021
Aceptado: 28-10-2021
DOI:
10.15517/enferm. actual costa rica (en
línea).v0i42.45868
Correspondencia
Dariane Veríssimo de Araújo
Universidade Vale do
Acaraú
dariane.verissimo@gmail.com
RESUMO
Objetivo: Avaliar
a efetividade de vídeo educativo no conhecimento de leigos em sala de espera de
uma unidade básica de saúde acerca da reanimação cardiopulmonar.
Metodologia: Estudo quase-experimental do
tipo antes e depois realizado no período de maio a novembro de 2019. A amostra
foi constituída por 66 pessoas que estavam em sala de espera, aguardando consulta
na Unidade Básica de saúde. Para avaliar o conhecimento, foi utilizado teste
teórico antes e após a intervenção educativa mediada pelo vídeo educativo
“Parada cardiorrespiratória: como agir para salvar”. Na análise, utilizou-se a
estatística descritiva e os testes de McNemar e Wilcoxon.
Resultados: No pré-teste, houve mediana de
acertos de 5 (Intervalo interquartílico=7), enquanto no pós-teste a mediana de
acertos foi de 8 (Intervalo interquartílico=7), p<0,001. Houve melhora no
conhecimento, principalmente nas questões sobre reconhecimento da PCR
(p<0,001), número
do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) (p<0,001), posição da
vítima (p<0,001) e nível de força nas compressões (p<0,001).
Conclusão: O vídeo educativo é efetivo
para a melhora no conhecimento de leigos sobre ressuscitação cardiopulmonar e
pode ser realizado na educação em saúde de pessoas em sala de espera.
Palavras chave: Conhecimento;
Educação-em-Saúde; Enfermagem; Filme-e-Vídeo-Educativo;
Reanimação-Cardiopulmonar.
RESUMEN
Eficacia del vídeo educativo
en los conocimientos sobre la reanimación cardiopulmonar en legos de la sala de
espera.
Objetivo: Evaluar la eficacia del vídeo educativo sobre los
conocimientos acerca de la reanimación cardiopulmonar de legos en la sala de
espera de Unidad Básica de Salud.
Metodología: Estudio cuasi-experimental del tipo pre y post test realizado
de mayo a noviembre de 2019. La muestra consistió en 66 personas que estaban en
la sala de espera, aguardando la consulta en la Unidad Básica de Salud.Para
evaluar los conocimientos, se utilizó uncuestionario antes y después de la
intervención educativa mediada por el vídeo educativo "Parada
cardiorrespiratoria: cómo actuar para salvar". En el análisis se
utilizaron estadísticas descriptivas y las pruebas de McNemar y Wilcoxon.
Resultados: En el pre-test hubo una mediana de respuestas
correctas de 5 (rango intercuartil = 7), mientras que en el post-test la
mediana de respuestas correctas fue de 8 (rango intercuartil = 7), p<0,001.
Hubo una mejora en los conocimientos, especialmente en las preguntas sobre el
reconocimiento de la parada cardiopulmonar (p<0,001), el número de Servicio
de atención móvil de emergencia (p<0,001), la posición de la víctima
(p<0,001) y el nivel de fuerza de compresión (p<0,001).
Conclusión: El vídeo educativo es eficaz
para mejorar los conocimientos de los legos en materia de reanimación
cardiopulmonar y puede utilizarse en la educación sanitaria de las personas en
la sala de espera.
Palabras claves: Conocimiento; Educación-en-Salud; Enfermería;
Película-y-Video-Educativos; Reanimación-Cardiopulmonar.
ABSTRACT
Effectiveness of an educational video on the knowledge of lay people in
the waiting room about cardiopulmonary resuscitation.
Aim: To evaluate the effectiveness of an educational video about
cardiopulmonary resuscitation on lay people in the waiting room of a basic
health unit.
Methods: This was a quasi-experimental study of the before-and-after type
conducted from May to November 2019. The sample consisted of 66 people who were
in the waiting room waiting for consultation in the Basic Health Unit. To
evaluate the knowledge, a theoretical test was used before and after the
educational intervention mediated by the educational video
"Cardiorespiratory arrest: how to act to save". Descriptive
statistics and the McNemar and Wilcoxon tests were
used in the analysis.
Results: In the pre-test, there was a median of correct answers of 5
(interquartile range = 7), while in the post-test, the median was 8
(interquartile range = 7), p<0.001.
There was an increase in knowledge, especially on the questions about CRA
recognition (p<0.001), Emergency
mobile care service (SAMU) number (p<0.001),
victim position (p<0.001), and
compression force level (p<0.001).
Conclusion: The educational video is effective in improving laypersons' knowledge
about cardiopulmonary resuscitation and can be used in the health education of
patients in the waiting room.
Keywords: Cardiopulmonary-Resuscitation; Health-Education; Knowledge;
Instructional-Film-and-Video; Nursing.
INTRODUÇÃO
A parada cardiorrespiratória
(PCR) é caracterizada pelo comprometimento da função cardíaca, que resulta na
abrupta interrupção do bombeamento sanguíneo1. É uma das maiores
causas de emergências, cuja má execução das manobras de assistência pode
acarretar lesão cerebral e morte2. Nos países desenvolvidos é uma
das principais causas de morte, em que cerca de 350.000 pessoas sofrem PCR a
cada ano na América do Norte, enquanto que, na Europa, os casos são entre
350.000 a 700.0003. Em países em desenvolvimento como o Brasil,
doenças cardiovasculares também representam a principal causa de morte e
estima-se que cerca de 200.000 PCR ocorrem anualmente4.
A Ressuscitação Cardiopulmonar
(RCP) representa um conjunto de manobras ou compressões que visam manter a
circulação e respiração artificial e restaurá-las ao normal, o mais precoce
possível, com intuito de reduzir a lesão cerebral. Se a RCP, for realizada
precocemente, a probabilidade de sobrevivência da pessoa aumenta
significativamente. Assim, a assistência à pessoa em PCR, no ambiente extrahospitalar, depende da rápida identificação e implementação
da RCP de forma correta5.
O Suporte Básico de Vida (SBV)
é um conjunto de técnicas e procedimentos, considerado o primeiro atendimento a
ser empregado em uma vítima que esteja correndo risco de vida, podendo ocorrer
em qualquer ambiente. Nesse sentido, as ações de SBV, que são o reconhecimento
imediato da PCR, acionar o serviço de emergência, início da RCP que inclui
compressões cardíacas e ventilação, e o uso do Dispositivo Externo Automático
(DEA), quando disponível, possuem grande relevância para a estabilização da
vítima6, principalmente quando são realizadas por espectadores, que
chegam à cena antes do serviço pré-hospitalar7.
Há, então, a necessidade de
capacitação da comunidade em relação a RCP, com o objetivo de melhorar o
déficit de conhecimento sobre o SBV, para contribuir com a maior probabilidade
de serem instituídos cuidados mais efetivos, em situações de emergência, como a
PCR8.
Porém, estudo revela que a
quantidade de pessoas com PCR que recebem RCP iniciada por leigos em todo o
mundo ainda é baixa7, o que alerta para a importância da
implementação de intervenções educativas direcionadas a esse público, pois,
treinamentos direcionados para leigos podem contribuir para aumento da taxa de
sobrevivência das vítimas9. Destaca-se que pessoas leigas são
aquelas que não possuem conhecimento aprofundado em determinado assunto. Ou
seja, neste estudo, leigos são aqueles que não sabem prestar cuidados adequados
em uma parada cardíaca.
Dessa forma, estratégias de
educação em saúde mediadas por tecnologias favorecem a apreensão de
conhecimentos de leigos em relação à RCP10. Dentre as tecnologias
educacionais disponíveis na literatura sobre a temática, existem filmes e
vídeos educativos, como o: “Parada cardiorrespiratória: como agir para salvar”,
que foi construído e validado em estudo anterior e contém informações sobre as
etapas que devem ser realizadas pelo leigo para prestar o socorro correto à
vítima de PCR11,12.
Apesar deste vídeo ter sido
desenvolvido para realizar a educação em saúde com pessoas com deficiência
auditiva, a utilização deste recurso com pessoas sem deficiência torna-se
relevante, visto que, o vídeo pode despertar um interesse maior por parte dos
participantes devido a forma interativa e instrutiva em que se apresenta. E
assim estimula a participação dos mesmos no estudo, além de ser uma forma
eficaz de realizar a educação em saúde pela demonstração das instruções que são
expostas.
Acredita-se que o uso de
filmes e vídeos educativos possibilita oportunidade de aprendizagem
autodirigido e de fácil compreensão, pois o educando tem o domínio sobre o
vídeo, pode rever quantas vezes desejar e ainda tem a possibilidade de
compartilhamento, o que ajuda na disseminação da informação e translação do
conhecimento10. Diante do exposto, julga-se necessário que estudos
sobre a utilização de vídeos educativos acerca da RCP sejam realizados, a fim
de colaborar com a Prática Baseada em Evidências dos profissionais de saúde e
da educação, envolvidos no processo de ensino-aprendizagem referente à temática
e com o empoderamento da população para o enfrentamento eficaz da situação.
Com isso, este estudo tem como
objetivo avaliar a efetividade de vídeo educativo no conhecimento de leigos em
sala de espera acerca da reanimação cardiopulmonar.
METODOLOGIA
Trata-se de estudo
quase-experimental, do tipo antes e depois, realizado no período de maio a
novembro de 2019, em sete Centros de Saúde da Família (CSF) do Município de
Sobral, localizado na região Norte do Estado do Ceará/Brasil. Optou-se por
realizar a pesquisa no CSF por este serviço de saúde representar a porta de
entrada preferencial do usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.
Assim, nestes locais, os usuários buscam atendimento para diversos agravos em
saúde bem como para ações de prevenção e promoção da saúde na atenção primária.
Também são encaminhados para outros serviços como emergências ou hospitais caso
necessitem.
Na sala de espera, o indivíduo
espera cerca de 30 a 60 minutos pela consulta ou outro procedimento em saúde e,
devido a esse tempo de espera, é um dos locais ideais para realização de
educação em saúde pelos profissionais. Assim, a população do estudo foi
representada pelas pessoas que estavam em sala de espera para consultas no CSF
da atenção primária.
Os critérios de inclusão foram: ter acima de
18 anos e ser alfabetizado. Foram excluídos os indivíduos que não tinham
disponibilidade de tempo para participar da intervenção educativa. Dessa forma,
66 indivíduos participaram da intervenção educativa com o vídeo.
O convite para participar do
estudo foi efetuado nos corredores da unidade de saúde com a explicação dos
objetivos da pesquisa e tempo necessário para a intervenção educativa (em
média, 20 minutos). Após o aceite, cada participante, individualmente, foi
encaminhado para sala privativa, para aplicação do termo de consentimento livre
e o instrumento de coleta de dados, além da implementação da estratégia
educativa.
Para coleta de dados, foi utilizado
instrumento estruturado dividido em duas partes: a primeira continha a caracterização
do participante (sexo, idade, situação conjugal, renda familiar, escolaridade,
ocupação, procedência). A segunda foi representada pelo teste de conhecimento
validado11, composto por 11 questões de múltipla escolha, cada uma
com cinco opções de resposta, das quais apenas uma era correta. Com enunciado
conciso, cada questão solicitava que a alternativa correta fosse assinalada,
acerca da competência/informação para agir durante a RCP.
Este questionário elenca o
reconhecimento da PCR, o perigo da parada cardíaca, qual a primeira ação a ser
realizada, o número do serviço de emergência, quando iniciar as compressões
torácicas, correto posicionamento da pessoa em PCR, local e posição para a
compressão do tórax, a força que deve ser aplicada, quando trocar com outra
pessoa para realizar compressão e o momento em que se de parar. O conteúdo foi
validado a partir de método científico, mediante avaliação de 22 profissionais
experientes em PCR e utilização do Índice de Validação de Conteúdo (IVC) e Teste
Binomial11.
Cabe destacar que o referido
instrumento foi inicialmente construído e validado quanto ao conteúdo por
especialistas em PCR e, posteriormente, foi gravado em Língua Brasileira de
Sinais (Libras). Entretanto, no presente estudo, houve a utilização da versão
inicial do instrumento, impressa em português, que antecedeu a sua gravação em
Libras. Tal versão foi compatível de ser utilizada no presente estudo por
consistir em instrumento construído com informações atualizadas, em
conformidade as recomendações da American Heart Association (AHA) vigentes no
período de coleta de dados.
Finalizado o preenchimento do
pré-teste teórico, foi iniciada a intervenção educativa mediada pelo vídeo
“Parada cardiorrespiratória: como agir para salvar”. O referido vídeo possui 7
minutos e 30 segundos de duração, apresenta as etapas que pessoas sem formação
na saúde (leigos) devem realizar para socorrer corretamente uma vítima
acometida por PCR, é apresentado em formato de animação 2D e possui narração em
áudio e em Libras, de forma que é compatível de ser utilizado para educação em
saúde de surdos e ouvintes12.Seu conteúdo foi validado por 22 enfermeiros
experts em PCR e, uma vez que a efetividade do vídeo já foi testada com pessoas
surdas, diante da necessidade de testagem científica da sua aplicação com
ouvintes, respalda-se sua utilização no presente estudo.
A exposição do vídeo foi
realizada por intermédio de Smartphone Samsung, que teve duração de sete
minutos e 30 segundos (tempo de duração do vídeo). Nesse momento, o pesquisador
permanecia ao lado do participante, sem interferir na exposição do vídeo. Vale
ressaltar que a exposição do vídeo ocorreu somente uma vez, não houve
repetições ou reapresentação de trechos do vídeo. Finalizada a intervenção
educativa, os participantes foram convidados a responder o pós-teste teórico,
constituído do mesmo instrumento do pré-teste.
Os dados coletados foram
digitados no Excel e analisados estatisticamente no software IBM SPSS Statistics versão 24 (Nova York, USA, 2016). As variáveis
categóricas foram apresentadas a partir de frequências absolutas e relativas e
as variáveis contínuas foram expressas com medianas e intervalo
interquartílico, conforme distribuição não normal, verificada a partir do teste
de Kolmogorov-Smirnoff. Foi utilizado o teste
não-paramétrico de McNemar, para comparar os acertos
e também o teste de Wilcoxon para parear as medianas de acertos, antes e após a
intervenção educativa. O nível de significância adotado foi de 5% e o intervalo
de confiança de 95%.
A pesquisa obedeceu aos
aspectos éticos estabelecidos pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de
Saúde do Brasil sobre pesquisa com seres humanos, sendo aprovado no Núcleo de
Estudos e Pesquisas em Saúde (NEPS) da Escola em Formação da Família Visconde de
Sabóia e também pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual
Vale do Acaraú sob CAAE 93941618.9.0000.5053 (nº doparecer2.806.661) em 2018.
RESULTADOS
Observou-se que, dos 66
participantes, a maioria era do sexo feminino com companheiros, mais de oito
anos de escolaridade e média de idade de 41,36 anos. A Tabela 1 apresenta o perfil
sociodemográfico encontrado.
A tabela 2 apresenta os
resultados da comparação de acertos de cada questão sobre ressuscitação
cardiopulmonar, antes e depois da intervenção educativa com o vídeo.
Observou-se que houve melhora no conhecimento, principalmente nas questões
sobre reconhecimento da PCR (p<0,001), número do Serviço de Atendimento
Móvel de Urgência (SAMU)que corresponde ao transporte do tipo ambulância
(p<0,001), posição da vítima (p=0,000) e nível de força nas compressões
(p<0,001). Ressalta-se que SAMU é o serviço público de assistência
brasileiro atua no atendimento pré-hospitalar móvel de urgências e emergências
(Tabela 2).
No pré-teste, houve mediana de
acertos de 5 (Intervalo interquartílico=7), enquanto no pós-teste a mediana de
acertos foi de 8 (Intervalo interquartílico=7). Assim, observou-se
significância no aumento da média de acertos teóricos (p<0,001).
DISCUSSÃO
A relevância de ensino sobre
RCP para leigos, para redução de mortalidade de sequelas, é corroborada por
estudo realizado na Turquia cujos resultados apontaram que apenas 3% das
pessoas com PCR fora do hospital tiveram estado neurológico favorável2,13.
Assim, destaca-se a necessidade de empoderamento e multiplicação da informação,
para que mais pessoas treinadas possam agir corretamente, caso deparem-se com
uma PCR fora do hospital.
Sobre os achados da
intervenção educativa, os resultados se mostraram significativos, no aumento do
conhecimento quanto à identificação de uma PCR. Estudos internacionais retratam
que a
Tabela 1
Perfil sociodemográfico de leigos na sala de espera de unidade básica de
saúde. Sobral, CE, Brasil, 2019.
n |
% |
|
Sexo |
|
|
Masculino |
17 |
25,8 |
Feminino |
49 |
74,2 |
Estado Civil |
|
|
Com companheiro |
39 |
59,1 |
Sem companheiro |
27 |
40,9 |
Escolaridade |
|
|
< 08 anos |
29 |
43,9 |
> 08 anos |
37 |
56,1 |
Ocupação |
|
|
Ativo |
33 |
50,0 |
Inativo |
33 |
50,0 |
Fonte: Dados da pesquisa, 2019
Tabela 2
Comparação dos acertos das questões sobre parada cardiorrespiratória
antes e depois da intervenção educativa mediada pelo vídeo. Sobral, CE,
Brasil, 2019.
Questões |
Pré-Teste n (%) |
Pós-Teste n (%) |
p-valor |
1. Reconhecimento da PCR |
22 (33,3) |
54 (81,8) |
0,000 |
2. Pessoas que podem realizar a RCP |
30 (45,5) |
50 (75,8) |
0,001 |
3. Necessidade de solicitar ajuda ao reconhecer RCP |
29 (43,9) |
42 (63,6) |
0,021 |
4. Número do SAMU |
45 (68,2) |
65 (98,5) |
0,000 |
5. Momento ideal para iniciar as compressões |
14 (21,2) |
26 (39,4) |
0,023 |
6. Posição da vítima |
36 (54,5) |
59 (89,4) |
0,000 |
7. Posicionamento das mãos e braços durante RCP |
38 (57,6) |
55 (83,3) |
0,001 |
8. Posicionamento correto perto da vítima |
30 (45,5) |
50 (75,8) |
0,001 |
9. Nível de força durante as compressões |
28 (42,4) |
55 (83,3) |
0,000 |
10. Momento de troca para que outra pessoa faça a compressão |
18 (27,3) |
51 (77,3) |
0,000 |
11. Quando parar de fazer compressões |
49 (74,2) |
48 (72,7) |
1,000 |
* Teste de McNemar.; Fonte: Dados da pesquisa, 2019
sobrevida é inversamente proporcional ao tempo entre a
PCR e o tempo de início da ressuscitação cardiopulmonar, na qual representa
elemento-chave da cadeia de sobrevivência5,14.
Leigos possuem dificuldade
para identificar uma PCR, de forma que é possível que ocorra errônea
compreensão dos achados e confusão com outros possíveis agravos, como asfixia e
síncope, o que resulta em atraso na realização da RCP8.
Estudo realizado em Omã
revelou que 60% dos participantes destacaram que não conseguiriam identificar a
existência de uma PCR e a necessidade de RCP em situações hipotéticas, e que
optariam por somente observar a pessoa até a chegada do socorro15.
Compreende-se, então, que há baixo conhecimento não somente em sua
identificação, como também em compreender sua gravidade.
Estudos realizados com leigos
apontam que grande maioria acredita não possuir capacidade em socorrer uma
vítima, por não possuir capacitação sobre primeiros socorros, além do medo de
tocar na vítima. Logo, o conhecimento ineficaz sobre a temática é o principal
motivo para a omissão de ajuda, o que aponta a necessidade de educação em saúde
para os leigos sobre PCR8,16.
Tanto no pré, como no pós-teste,
menos de 70% dos participantes afirmaram saber a importância de pedir ajuda ao
reconhecer uma PCR, apesar do aumento de acertos nessa questão após a
intervenção educativa. Segundo a Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e
Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia,
os leigos devem acionar o serviço de emergência pré-hospitalar, tão logo
identifique o agravo6. Tal acionamento deve ocorrer antes de iniciar
compressões, para não atrasar a chegada de profissionais e o auxílio
especializado nas manobras de ressuscitação17.Para tanto, é
necessário saber o número que deve ser acionado.
O conhecimento sobre o número do
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) também teve aumento
significativo após a visualização do vídeo. Em estudo realizadono
Estado de Minas Gerais, no Brasil, os profissionais do SAMU relataram que o
conhecimento deficiente da população é uma barreira para o atendimento de
qualidade18.Na Malásia, estudo também identificou que existe esse
déficit no conhecimento sobre o número correto para ligar em situações de
emergência para pedir ajuda16.Outro realizado na Noruega, com
abordagem de simulação realística a pessoa em PCR, constatou que 64% dos
participantes ligaria para o serviço de emergência19, o que
demonstra que ainda existe parcela da população, em todo o mundo, que não
possui conhecimento quanto ao número correto para acionar os serviços de
emergência.
Após a identificação e
acionamento do serviço de emergência, em uma PCR, o tratamento imediato
consiste em iniciar a RCP, o mais rápido possível. Porém, para iniciar as
manobras de ressuscitação, é necessário posicionar a vítima corretamente. Além
disso, é relevante saber o local correto no qual as compressões devem ser
aplicadas, para realizar compressões e o posicionamento das mãos sobre o tórax,
o que favorecerá o aumento da sobrevida e redução de complicações, como hipóxia
cerebral e isquemia20.
No Japão, apenas 40% das
pessoas leigas conseguiram posicionar as mãos corretamente para realizar as
compressões21. Compressões incorretas resultam em menor
profundidade, diminuição da eficácia e comprometimento da qualidade da RCP.
Assim, é crucial que leigos sejam capacitados para que as compressões sejam
realizadas no local correto6,21,22.
Outra questão que teve aumento
do conhecimento após a intervenção educativa foi relacionada ao posicionamento
correto próximo a vítima, que influencia na qualidade e eficácia das
compressões, pois a profundidade é determinada pelo peso da massa corporal do
socorrista, ao posicionar com os braços perpendiculares ao tórax23.
No tocante a força que deve
ser aplicada nas compressões, após a intervenção educativa, 83,3% acertaram
esse item, o que pode indicar uma atuação adequada do participante em uma
possível PCR. Estudo realizado na Noruega identificou que 69,9% de leigos
realizaram compressões contínuas com a força adequada, contribuindo para melhor
qualidade na RCP17. A força utilizada para realizar a compressão
cardíaca também está diretamente associada a eficácia da RCP, para possibilitar
perfusão sanguínea mínima, compatível com a vida. Diversos estudos já
evidenciam que a profundidade ideal de 4 cm a 5 cm, no entanto literaturas
atuais trazem que a eficácia são quando realizadas com o mínimo de 05 cm e no
máximo 06 cm20,22. Neste estudo, adotou-se, como referencial correto
para acerto da questão sobre a profundidade das compressões, o valor de 5 cm.
Outra questão que obteve
diferença estatisticamente significante, na comparação do pré e pós-teste, foi
sobre o momento de troca para que outra pessoa faça a compressão. A troca de
socorrista possibilita que as compressões sejam eficientes, uma vez que a realização
da RCP causa fadiga pode comprometer a qualidade do afundamento do tórax, e as
pausas de trocas não devem exceder a dez segundos6. No Japão, em uma
simulação de RCP sobre orientação telefônica, 52,2% dos participantes
interromperam as compressões após dois minutos21. Isso indica e
reforça que realizar compressões é um processo desgastante e exaustivo, o qual
necessita de revezamento entre socorristas, sejam eles leigos ou profissionais.
Por conseguinte, foi
identificado que não houve melhora do conhecimento em relação ao momento de
cessar as compressões torácicas. Saber o momento em que se deve parar é
indispensável, para evitar o desgaste dos socorristas e também para que as
compressões não sejam paradas precocemente. É recomendado que os leigos mantenham
as compressões até que a pessoa retorne à circulação espontânea ou após a
chegada de profissionais da saúde6,22.
Para isso, fazer intervenções educativas sobre RCP com
leigos é indispensável, para que possam contribuir de forma correta e eficiente
na situação de maior agravo a saúde, para tanto é necessário realização de
momentos educativos com o uso de ferramentas tecnológicas como vídeos, pois
estimula o interesse e aprendizagem de diferentes públicos e possibilita a
autoinstrução na ausência de profissionais de saúde.
Para o enfermeiro como
educador de leigos, promover momentos de educação em saúde de forma dinâmica e
interativa com uso de tecnologias educativas, como o vídeo “Parada
cardiorrespiratória: como agir para salvar”, contempla o acesso de informações
para diferentes níveis de escolaridade assim como também promove a inclusão do
público surdo, já que o vídeo traz a narração em libras12.
Como limitação do estudo,
tem-se o fato do pós-teste teórico ter sido aplicado imediatamente após a intervenção
educativa, devido ao perfil de participantes ser representado por pessoas em
sala de espera envolvendo aspectos subjetivos da saúde ou preocupação
adjacentes e a exposição ao vídeo apenas em um único momento. Além disso,
destaca-se a ausência de avaliação das habilidades práticas para a realização
adequada da RCP após a visualização do vídeo. Dessa forma, sugere-se novos
estudos com maior tempo de intervalo na aplicação do pós-teste bem como
avaliação dos conhecimentos práticos em relação à atuação em situação de
emergência durante uma parada cardiorrespiratória.
Com esse estudo, foi possível
verificar a efetividade do uso de vídeo educativo para orientação de pessoas
leigas sobre como agir durante uma parada cardiorrespiratória e como realizar a
RCP de forma correta. Assim, o estudo traz subsídios para reflexão sobre a
importância da implementação de intervenções educativas pela enfermagem
direcionadas a leigos, que favoreçam o aumento do conhecimento e empoderamento
acerca de temáticas importantes relacionadas à saúde pública, como a parada
cardiorrespiratória e ressuscitação cardiopulmonar tendo em vista que a
capacitação da população leiga poderá a vir a contribuir com a redução da
morbimortalidade de vítimas de PCR no ambiente extra-hospitalar.
CONCLUSÃO
Os achados deste estudo
permitem inferir que o vídeo educativo “Parada cardiorrespiratória: como agir
para salvar” é efetivo para melhora no conhecimento de leigos sobre
ressuscitação cardiopulmonar. A mediana de acertos passou de cinco para oito com
significância estatística neste resultado. Observou-se melhora do conhecimento
em relação ao reconhecimento da PCR, número correto do SAMU para chamar ajuda,
posição que a vítima deve ser coloca antes de iniciar a ressuscitação
cardiopulmonar e nível de força adequado a ser aplicado nas compressões.
Recomenda-se a realização de
outros estudos que avaliem não somente o conhecimento, mas também a prática de
leigos durante a RCP. Sugere-se ainda que novos estudos sejam realizados com
outras populações e em diferentes contextos regionais/culturais com intuito de
fortalecer os achados do presente estudo.
CONFLITOS DE INTERESSE
Os autores declaram não haver
nenhum conflito de interesse.
LINK PARA O VÍDEO
https://www.youtube.com/watch?v=V6_CnIn6TOo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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