Artigo
original
Efeitos simbólicos da implantação da casa de saúde indígena: um estudo
histórico.
Raphael Florindo Amorim1, Paulo Sérgio da Silva2, Jacquelaine
Alves Machado3, Fernanda Zambonin4, Amanda Ramos de Brito5,
Maria Bárbara de Magalhães
Bethonico6.
1Enfermeiro, Mestre em Enfermagem,
Universidade Federal de Roraima, Curso de Bacharelado em Enfermagem, Boa Vista, Brasil,
ORCID: 0000-0002-7491-4257.
2Enfermeiro, Doutor em
Ciências, Universidade
Federal de Roraima, Curso de Bacharelado em Enfermagem, Boa Vista, Brasil, ORCID:
0000-0003-2746-2531.
3Administradora, Doutora em
Ciências, Universidade
Estadual de Roraima, Curso de Bacharelado em Administração, Boa Vista, Brasil, ORCID: 0000-0002-5523-6876
4Enfermeira, Fundação Oswaldo Cruz, Programa de
Epidemiologia em Saúde
Pública, Boa Vista, Brasil, ORCID: 0000-0002-0870-3590
5Enfermeira, Universidade Federal de Roraima,
Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Saúde, Boa
Vista, Brasil, ORCID: 0000-0002-9117-6110
6Historiadora, Doutora em
Geografia, Universidade
Federal de Roraima, Instituto Insikiran de formação superior indígena, Boa Vista, Brasil, ORCID: 0000-0002-0144-0716
Información del artículo
Recibido: 07-03-2021
Aceptado: 06-10-2021
DOI:
10.15517/enferm. actual costa rica (en
línea).v0i42.46119
Correspondencia
Paulo Sérgio da Silva
Universidade
Federal de Roraima
pssilva2008@gmail.com
RESUMO
Objetivo: Descrever os efeitos simbólicos da implantação da
Casa de Saúde Indígena no campo da saúde no período de 1973 a 1983 em Boa
Vista, Roraima, Brasil.
Metodologia: Trata-se de um estudo histórico com abordagem da
micro história orientado por análises documentais e a teorização dos resultados
balizada nos conceitos do sociólogo Pierre Bourdieu.
Resultados: Ao todo o corpus documental foi representado por
quatro registros imagéticos. As imagens foram analisadas com o intuito de
produção de reflexões que versam sobre os efeitos simbólicos de implantação da
Casa de Saúde Indígena.
Conclusão: A Casa de Saúde Indígena de Boa Vista-RR emerge como pano de fundo no
cenário desenvolvimentista da época, como (e representou) moeda de troca
simbólica entre os governantes e os indígenas que sofriam com a entrada de
doenças em suas comunidades pela ação direta do processo migratório devido ao
garimpo em suas terras.
Palavras chave: Acesso-Universal-aos-Serviços-de-Saúde;
Saúde-de-Populações-Indígenas; Sistema-Único-de-Saúde.
RESUMEN
Efectos simbólicos de la implantación del hogar de
salud indígena: un estudio histórico.
Objetivo: Describir los efectos simbólicos de la implantación
de hogar de salud indígena en el campo de la salud en el período de 1973 a 1983
en Boa Vista, Roraima, Brasil.
Metodología: Se trata de un estudio histórico con un enfoque de
microhistoria, guiado por el análisis documental. La teorización de los
resultados fue guiada por los conceptos del sociólogo Pierre Bourdieu.
Resultados: En total, el corpus documental estuvo representado
por cuatro registros de imágenes. Las imágenes fueron analizadas con el fin de
producir reflexiones sobre los efectos simbólicos de la implantación del hogar
de salud indígena.
Conclusión: El hogar de salud indígena en Boa Vista-RR surge
como telón de fondo en este escenario de desarrollo, asimismo como una moneda
simbólica (y representada) de intercambio entre gobernadores y pueblos
indígenas, que sufrieron con el ingreso de enfermedades en sus comunidades a
través de acción directa del proceso migratorio, debido a la minería en sus
tierras.
Palabras claves: Acceso-Universal-a-los-Servicios-de-Salud;
Salud-de-Poblaciones-Indígenas; Sistema-Único-de-Salud.
ABSTRACT
Symbolic effects of the
implantation of the indigenous health home: a historical study.
Aim: To describe the symbolic effects of the
implementation of the indigenous health home in the field of health in the
period from 1973 to 1983 in Boa Vista, Roraima, Brazil.
Methods: This was a historical study with a microhistory
approach guided by a documentary analysis; the theorization of the results was
guided by the concepts of the sociologist Pierre Bourdieu.
Results: The documentary corpus was represented by four
imagery records. The images were analyzed in order to produce reflections on
the symbolic effects of the implantation of the indigenous health home.
Conclusion: The indigenous health home in Boa Vista-RR emerges
as a backdrop in this developmental scenario; it represents a symbolic currency
of exchange between the government and the indigenous people who suffered from
the entry of diseases in their communities through the direct action of the
migratory process and the mining in their lands.
Keywords: Universal-Access-to-Health-Care-Services;
Health-of-Indigenous-People; Unified-Health-System.
INTRODUÇÃO
De saída, é fundamental localizar que nos últimos anos a posição das
minorias perante o Estado se transformou significativamente. Decretos
internacionais, bem como a legislação nacional, reconheceram a natureza
multiétnica do Estado e a necessidade de assegurar os direitos e o respeito dos
diferentes grupos étnicos. No Brasil, essas mudanças legais vieram acompanhadas
pelo surgimento de organizações indígenas como força importante dentro da arena
política. Maior visibilidade da etnia resultou nas mudanças na política e na
organização dos serviços de saúde indígenas1.
Baseado nisso, destaca-se que no território brasileiro a assistência de
saúde para indígenas é de responsabilidade da Secretaria Especial de Saúde
Indígena (SESAI) que tem sua gestão descentralizada e de responsabilidade dos
Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI)2. Percebidos como espaços
territoriais e etnoculturais, um DSEI reflete a cultura dos povos indígenas
inseridos nos seus limites espaciais, priorizando a dimensão simbólica e
subjetiva, com valorização de um ou mais grupos que nele habitam. Porém, muitas
questões relacionadas à saúde extrapolam os limites territoriais e exigem do
poder público um espaço para atendimento dos povos indígenas.
Um desses espaços é a Casa de Saúde Indígena (CASAI), responsável pelo
apoio, acolhimento e assistência de indígenas para atendimentos complementares
e especializados2. Uma CASAI é diferenciada de outras unidades de
atendimento à saúde por ser destinada, também, aos acompanhantes dos indígenas
em situação de doença, por considerar a cultura e forma de tratamento em
comunidades indígenas, onde a família é um componente relacionado à cura.
No extremo norte do Brasil, o estado de Roraima passou a partir de 2017
a contar com duas CASAIs: A CASAI de Boa Vista-RR fundada em 1976 subordinada
ao DSEI-Yanomami e Ye’kuana, responsável à época em prestar assistência,
também, aos pacientes indígenas do DSEI-Leste de Roraima que em 2017 passa a
ter sua própria CASAI.
A CASAI de Boa Vista foi pioneira no país. Em 1976, a partir de uma
ação do governo do então Território Federal de Roraima em conjunto com
funcionários da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), a assistência à saúde de
indígenas passou a funcionar em local específico na capital de Roraima. Menos
de uma década após, em 1982, é inaugurada a CASAI na capital, com uma
arquitetura de módulos circulares, em alusão a uma maloca (local comunitário
destinado a reuniões e atividades da comunidade indígena). Uma construção
central, também circular, agrupava a parte administrativa, além de ambulatório,
enfermarias, consultórios médico e odontológico, farmácia, salas para reuniões,
radiofonia e cozinha3.
O espaço que corresponde hoje ao estado de Roraima abriga várias etnias
indígenas (Macuxi, Wapichana, Ye’kuana, Yanomami, Wai-Wai, Taurepang, Patamona,
Ingaricó e Sapará) e a estrutura da CASAI precisava contemplar essa
diversidade. Por isso, ao redor da construção central, encontravam-se
aproximadamente quinze malocas comunitárias para abrigar as variadas etnias
indígenas; além de três módulos adjacentes. Os serviços de saúde eram ofertados
mediante duas Equipes Volantes de Saúde (EVS). O estabelecimento também recebeu
apoio da Universidade Federal de Santa Maria, por meio do Projeto Rondon, com
estagiários da área da saúde, equipes de enfermagem, fisioterapia e odontologia4.
Outro ponto que merece destaque foi a utilização da CASAI na formação
dos indígenas em atendentes de enfermagem que, durante a estadia no serviço de
saúde, eram orientados e treinados para atuar em situações de urgência nas
aldeias3. Atualmente a CASAI possui 4.820m² de área construída, sendo
considerado um dos maiores estabelecimentos de saúde indígena do território3.
No plano macropolítico, especificamente com as orientações postas na
Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI) de 2002, o
modelo de Atenção à Saúde do Indígena está pautado no interesse coletivo,
visando o diagnóstico e tratamento das doenças e, também, a prevenção de
agravos e a promoção da saúde5.
Estas normatizações estão em conformidade com a Lei Arouca nº 9.836 de
1999 que institui o subsistema de saúde e dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde e a organização dos serviços de saúde
correspondentes às populações indígenas no Brasil, objetivando atender os
princípios do Sistema Único de Saúde (SUS): universalidade, integralidade e a
equidade6,7.
Ao longo da história de constituição da CASAI foi possível observar uma
preocupação em aproximar o atendimento em saúde necessário com a cultura desses
povos, não apenas no que se refere a forma de abordagem, a presença da família,
mas, também, na forma das construções destinadas a internação dos pacientes e
acompanhantes, com locais para redes, possibilidade de produção de alimentos
conforme a cultura de cada povo.
As localizações históricas preliminares deste estudo sinalizam
reflexões sobre os efeitos simbólicos da implantação da CASAI. Um objeto
investigativo que requer um compromisso ético e existencial sustentado por
discursos teóricos da sociologia em saúde. Dessa forma, a opção em estudar a
implantação da CASAI no estado de Roraima - Brasil, invariavelmente coloca
pesquisadores e leitores em campos de conhecimentos firmados à luz da história.
A análise de imagens e notícias publicadas em jornais locais no período
de 1973 a 1983, reconhecidas aqui como documentos históricos, tem como base o
pensamento de Pierre Bourdieu8 sobre comportamentos, estilos de vida
que são heranças familiares e expressam o social e a cultura de um grupo que é
internalizado no indivíduo e, no caso aqui estudado, refletido em imagens
registradas por câmeras fotográficas.
O recorte temporal foi definido a partir da percepção de mudanças e
adaptações de estruturas físicas e equipes de atendimento destinadas ao
tratamento dos indígenas em situação de doenças na cidade de Boa Vista -
Roraima - Brasil, sendo a CASAI o ponto de ligação. Diante do exposto, o
objetivo do estudo foi descrever os efeitos simbólicos da implantação da Casa
de Saúde Indígena no campo da saúde no período de 1973 e 1983.
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa documental histórica9 com abordagem
da micro-história balizada pelos conceitos do sociólogo Pierre Bourdieu8.
Os dados da pesquisa foram produzidos por meio de fontes documentais contendo
imagens (Fac-símile) publicadas em matéria do Jornal Boa Vista do estado de
Roraima no período de 1975 a 1983.
A produção dos dados ocorreu nos arquivos da Imprensa Oficial do Estado
de Roraima, quando se optou na busca de imagens presentes nas notícias no
Jornal Boa Vista. Trata-se do primeiro e único jornal que circulou de maneira
contínua durante o regime da ditadura militar.
As buscas das imagens presentes nas notícias foram selecionadas
mediante aplicação dos seguintes critérios de seleção, a saber: I.
Circunstâncias para a criação da CASAI; II. Visitas com diálogo entre governo e
população indígena; e III. Documentos que evidenciassem a articulação do
governo com as ações e profissionais de saúde.
Mediante aplicação dos critérios
de seleção as matérias jornalísticas contendo imagens foram organizadas no
sentido temporal. Estas tiveram por finalidade agrupar os materiais fornecidos
pelas fontes imagéticas documentadas no sentido de circunstanciar a construção
da narrativa histórica10.
As imagens foram submetidas às regras das críticas de autenticidade,
credibilidade interna e externa, quando foi aplicada a técnica de triangulação
para análise dos achados. Especificamente, os procedimentos de análise foram
três. O primeiro foi a aplicação da matriz de análise nas imagens, o segundo
envolveu o teor do texto jornalístico, e o terceiro a aproximação com os
conceitos de base de Pierre Bourdieu. Após aplicação da matriz, os dados da
imagem, texto e contexto foram organizados de forma narrativa e reflexiva.
Esta investigação utilizou matérias jornalísticas e cumpriu os
requisitos ético-legais dispostos na Lei nº.9.610 de 1998 que versa sobre
direitos autorais11. Cabe sublinhar, que a resolução nº 466 de 2012
do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde - Brasil, não se aplica
nesse estudo, por se tratar de uma investigação com fontes jornalísticas e não
envolver, diretamente, seres humanos.
RESULTADO
Ao todo o corpus documental foi representado por quatro registros
imagéticos presentes em matérias jornalísticas publicadas pelo Jornal Boa
Vista. As imagens publicadas pelo Jornal Boa Vista no período pesquisado são
cópias editoradas - fac-símiles termo do latim, que significa “faz igual” –; ou
seja, cópia igual ao documento impresso, sendo obtidas por meios de
fotomecânica, eletrônico e/ou eletrostático12. Todos estes achados podem
ser evidenciados no Quadro 1.
DISCUSSÃO
A linguagem bourdieusiana contribuiu para a compreensão das práticas da
saúde em seus diversos contextos culturais, sobretudo no que diz respeito a
saúde das populações indígenas, os conceitos de base, como campo, habitus,
capital cultural e poder simbólico são utilizados para retratar de que modos as
relações de poder se manifestaram entre os dominantes representados pelos
agentes ocupantes de cargos e funções na esfera governamental, e pelos dominados,
representados pelas populações indígenas que no período em tela, habitavam a
região Norte do Brasil, onde se concentrava o objeto de interesse dos
governantes13.
Nesse prisma, diga-se que o habitus restringe e possibilita a ação
social. Ele possui uma capacidade geradora que permite a improvisação e a
inovação dentro dos limites das heranças que a produziram. Tende, portanto, a
gerar práticas consistentes com o estado anterior do campo em que os atores
operam e que podem não ser fácil ou rapidamente adaptáveis as novas
circunstâncias14.
Posto isso, os planos de desenvolvimento econômico para o país, em
especial da região Norte, foram gerados mediante o Programa de Integração
Nacional (PIN) I e II, que estruturou por meio das rodovias o acesso entre os
estados brasileiros, trazendo não só o progresso econômico como também
problemas ambientais advindos dessas estratégias geopolíticas para o
crescimento e povoamento das regiões fronteiriças do Brasil15.
A pretensão do governo à época foi de estabelecer assentamentos ao
longo das rodovias, fixando famílias que pudessem desenvolver a agricultura e a
pecuária. O incentivo governamental também foi
Quadro
1
Fac-símiles do Jornal Boa Vista que versam sobre a implantação da Casa
de Saúde Indígena de Boa Vista – Roraima no campo da saúde nas décadas de 1973
a 1983.
Fac-símile |
Data |
Página |
Título |
Número 01 |
23/02/1975 |
02 |
Secretaria de Saúde e de Obras
aceleram a construção da enfermaria do Índio. |
Número 02 |
20/04/1975 |
05 |
Governo aprimora a assistência ao
índio. |
Número 03 |
30/10/1981 |
17 |
O Macuxi - A integração do Índio na
sociedade (1ª parte). |
Número 04 |
08/04/1983 |
08 |
A assistência e apoio ao indígena. |
Fonte:
Acervo da imprensa oficial do estado de Roraima,
Boa Vista-RR.
pautado na
motivação de atrair investidores nacionais e internacionais para as localidades
com intuito de desenvolvimento industrial, tendo como atrativo principal a
redução das taxas tributárias15.
Estes empreendimentos mobilizados pelo governo da época fazem perceber
o interesse em oferecer à região Norte que se pretendia dominar uma postura
desenvolvimentista, e porque não dizer, a intenção de incutir uma nova conduta,
uma nova identidade que passaria a concorrer com a cultura já estabelecida.
Isso evidencia a manifestação de poder dos agentes dominantes pela força
simbólica retratada nas alianças citadas, por meio de estratégias de
“dissimulação ou embuste”, que pareciam querer afastar os indivíduos localizados
na dita rota de desenvolvimento, de sua identidade legítima, impondo novo
habitus, o que serviria aos interesses dos tomadores de decisão na época16.
Desta maneira os órgãos indigenistas ao invés de proteger, como previa
a política indígena da época, apresentavam-se apassivados frente ao governo
dominador. Efeito simbólico que assevera o poder dos dominantes a partir do
capital econômico, que na maioria das situações, legitima a sua dominação.
Logo, as entidades que deveriam representar os interesses dos indígenas, ficam
subjugadas ao controle dos dominantes16.
Os impactos causados no meio ambiente e nas culturas indígenas,
provenientes do processo de desenvolvimento no país, logo repercutiu no cenário
internacional como denúncia, o que levou o regime militar a aprovar o Estatuto
do Índio no ano de 1973 a partir da Lei n.6.00117, de teor
assimilacionista e tutelar, como forma de dar satisfação aos credores
internacionais18. Diga-se, que a partir de então, as lideranças
indígenas começaram a questionar os políticos e indigenistas, e a se
organizarem em movimentos de resistência e luta, para garantia dos direitos
previstos na Constituição Federal de 198819.
As inúmeras alterações no habitus dos indígenas e consequentemente, no
campo social em que se inserem, provocadas pelas ações políticas conduzem a um
comportamento de não concordância e a formação de alianças simbólicas20.
Alianças representadas pela
participação de entidades, setores públicos e da iniciativa privada e
simpatizantes das causas indigenistas. Emerge o que pode ser chamado de uma
revolução que se opunha ao massacre de caráter étnico e cultural imposto aos
indígenas.
À luz do constructo teórico e sociológico bourdieusiano, tais
imposições tendem a ocorrer com maior intensidade, dentro das estruturas
sociais em que há dúvidas acerca de sua ordem e do espaço que ocupam. Embora
entre os indígenas a estrutura hierárquica seja clara e definida, compondo
veementemente o seu habitus, havia uma situação de poder invisível, que
interferia neste contexto e demandou a necessidade de movimentos contundentes15,20.
Desta maneira, os habitus dos agentes indígenas, sujeitos ativos,
reagiram às investidas políticas de dominação de seu povo. Reações
caracterizadas pela elaboração de estratégias no espaço social e
interrelacional onde o poder circula, retomando sua condição de indivíduos
potencialmente portadores de autonomia, liberdade e racionalidade21.
Esta organização dos indígenas está estruturada no habitus, ou seja, na
capacidade dos sujeitos de agir em um determinado campo, por meio de um senso
prático, no qual consiste em um sistema adquirido de preferências, de
princípios de visão e de divisão, e que se afirma por meio de estruturas
cognitivas duradouras, com a utilização de esquemas de ação que orientam a
percepção da circunstância e a resposta apropriada8.
Segundo o mesmo autor, a medida em que o agente indígena interpreta as
imposições do campo, passa a desenvolver estratégias de enfrentamento,
calculadas de modo “inconsciente” – revelando as alterações em seu modus
operandi a partir do que decodifica do campo22.
Dessa forma, emerge como efeito simbólico a resistência dos povos
indígenas, considerada um obstáculo aos planos do governo na época. Isso porque
a ocupação dos espaços habitados pelos povos indígenas era parte dos planos
ambiciosos dos governantes, na intenção de desenvolver as regiões periféricas e
vulneráveis do país mediante as rodovias, facilitando assim o acesso entre os
estados brasileiros23.
Este espaço pode ser compreendido como um campo de forças e de luta,
que obrigou os indígenas a enfrentarem os governantes. Estas formulações
descritivas autorizam o reconhecimento que o estudo histórico, representado
pela própria materialidade da história, só se revela quando os agentes
envolvidos se revoltam, resistem e agem coletivamente24.
É preciso considerar que com o processo de ocupação dos territórios
indígenas, muitas doenças começaram a emergir, como as infecções respiratórias
e gastrointestinais agudas, malária, sarampo, tuberculose, infecções
sexualmente transmissíveis (IST), anemia e desnutrição, ocasionadas pelo
contato entre os indígenas com os não-indígenas no período de desenvolvimento
econômico do país, em especial nas décadas de 1970 e 198025,26.
Nesse contexto surge a necessidade de atendimento dessa população que
passa a viver um novo contexto de situação de doença, onde a medicina
tradicional não conseguia promover a cura. Assim, para atender as demandas de
saúde, foi publicada pelo Jornal Boa Vista (p.02, ano II, 59.ª ed.23 fev. 1975)
matéria que publicizava a criação da Enfermaria do Índio anexa ao Hospital
Coronel Mota, localizada na região central da cidade de Boa Vista-RR, sendo o
primeiro espaço específico para um atendimento diferenciado27.
A década de 1970 iniciou o movimento indígena organizado no Território
Federal de Roraima, voltado para o reconhecimento dos direitos, principalmente
os espaços tradicionalmente ocupados, com reflexos em outras áreas, como o
atendimento à saúde. Um olhar diferenciado e de reconhecimento de direitos
passa a fazer parte das ações estatais, mesmo que incipiente, e ocorre a
transferência da unidade de atendimento em saúde para um espaço diferenciado –
a CASAI28.
É possível inferir que tal situação ocorreu devido ao caos da saúde dos
indígenas no Território Federal de Roraima devido a ocupação e exploração dos
territórios, em vários cenários de abusos e demonstração de poder dos políticos
em relação ao assoberbado plano de desenvolvimento da região Norte do Brasil.,
O primeiro espaço para atendimento específico para os indígenas foi a primeira
CASAI construída em Roraima em 1976, para atender as elevadas demandas de saúde
referenciadas de área indígena pela FUNAI e Missões religiosas que atuavam com
está população.
O Jornal Boa Vista deu visibilidade em dois momentos distintos sobre a
primeira enfermaria do Índio no estado de Roraima (Fac-símile número 1). O
primeiro quando relata sobre o olhar governamental: “Está sendo construída a
Enfermaria do Índio. Preocupação marcante de ajuda e assistência ao brasileiro
indígena, precursor dos legados Amazônicos”27. A preocupação
referida no texto remete a intenção do governo em minimizar os agravos
cometidos à saúde das populações ameríndias devido ao desenvolvimento econômico
da época, tal como o processo migratório para estabelecimento de assentamentos
e de agrovilas ao longo da rodovia BR-174 que estava em construção, além do
garimpo. Tais medidas progressistas oportunizaram a entrada de doenças e que
agora precisam ser controladas, sendo a enfermaria do índio um espaço para o
tratamento.
O fac-símile número 01 em tons de cinza, de formato retangular, traçado
em plano geral e disposição horizontal, traz a informação da construção de
alvenaria em andamento, no qual se observa à frente da obra aglomerados de
material de construção.
A obra em tela representa espaços para disposição de janelas, portas e
local para instalação de ar-condicionado. A imagem retratada e o teor da
matéria que a acompanha traduz em efeitos simbólicos, a “preocupação” dos
dominantes em justificar para a sociedade que as consequências de suas
estratégias políticas e econômicas eram amenizadas pela assistência em saúde
prestada ao indígena. (Fac-símile 1)
As obras de construção da Enfermaria do Índio, intenta causar este efeito
simbólico. Na linguagem bourdieusiana o poder político, e a forma como podem se
transformar em verdades, em função do poder simbólico são representados pelas
ações e pelas intenções que estão por trás delas: “Em política, dizer é fazer,
quer dizer, fazer crer que se pode fazer, o que se diz...”15. No
segundo momento, o Jornal Boa Vista publicou a matéria jornalística sobre a
Semana do Dia do Índio em 197527 realizada em Brasília-DF. Nela
constam os serviços de saúde prestados na recém-inaugurada enfermaria do índio
em Boa Vista - RR pelo Ministro Paulo de Almeida Machado o que reforça a ação
dos agentes federais sobre a questão da saúde indígena.
No fac-símile número 02 em tons de cinza, tipo de fotografia
instantânea e formato quadrangular, layout fotográfico de plano conjunto, em
vertical. O ambiente da enfermaria é composto por um quarto com uma janela
aberta, nela uma criança sentada segurando as pernas ao lado da cortina,
Fac-símile
1
Secretaria
de Saúde e de Obras aceleram a construção da enfermaria do Índio, Boa Vista,
Roraima, Brasil, 1975.
Fonte:
Arquivos da Imprensa Oficial do estado de Roraima. Jornal Boa Vista,
23/02/1975, p.0227.
Fac-símile
02
Governo
aprimora a assistência ao índio. Boa Vista – Roraima, 2021.
Fonte:
Arquivos da Imprensa Oficial do estado de Roraima. Jornal Boa Vista,
20/04/1975, p.0522.
demonstrando
uma forma diferenciada de apropriação do espaço que deve ser compreendida de
acordo com a realidade cultural da etnia indígena em questão.
É possível observar ainda uma cama com travesseiro e um paciente sobre ela
coberto por um lençol até a região cervical, e que o paciente está com os
membros superiores descobertos e com uma punção venosa no braço esquerdo
fletido próximo a face. Ao lado direito da imagem, observa-se uma mulher em pé
ao lado da cama entre o equipo pendurado no suporte conectado a bolsa de
medicação, a mesma possui cabelos curtos, está de óculos, portando relógio no
braço esquerdo, com vestimenta clara, uma camisa de manga curta e saia. Embora
não haja elementos para o aprofundamento no debate sobre gênero, é importante
considerar a possibilidade de diferenciação dos atributos e papeis
do feminino
e masculino nas situações de enfermidade.
No que diz respeito à ambientação para a
prestação dos cuidados aos pacientes indígenas é importante ofertar um espaço
que atenda ou esteja próximo aos seus costumes e cultura, facilitando assim o
processo de reabilitação da saúde do mesmo; o fac-símile número 02 é
acompanhado do texto jornalístico que retrata o habitus do acompanhante
indígena: “Casos interessantes ocorrem na ambientação hospitalar, como é o caso
de um índio Yanomami, que preferiu a janela da enfermaria como lugar de repouso
ao leito ou a rede [...]”29.
Por mais que se tenha pensado de maneira
integral na assistência à saúde dos indígenas, com a construção de um espaço de
cuidar específico para os serviços e tratamentos, o ambiente não atendeu ao
modo de vida do indígena. Isso porque o ambiente da enfermaria não faz parte do
cotidiano existencial em sua comunidade, por melhores que fossem as intenções
dos profissionais da saúde em seus atendimentos, o conforto do paciente foi
colocado em risco, por não fazer parte dos seus hábitos e costumes.
A título de exemplificação destes campos de
controle presentes em Boudieu22,24, verifica-se que: deitar em uma
cama, ou ter que acompanhar o outro sentado em uma cadeira ao lado da cama não
representa os hábitos circulantes em territórios indígenas substituídos por
redes de dormir. Eram inevitáveis as severas mudanças assinaladas no corpo
biológico do indígena, devido às situações completamente adversas à sua
realidade e seus costumes, e isto fica claro na imagem que apresenta o indígena
enfermo e na postura corporal da criança indígena que se posiciona na janela.
Esta força simbólica, refletida na imagem
demonstra a estrutura e todo o aparato destinado à assistência em saúde, que
insistia em modificar o modus operandi do indígena. Este poder é capaz de
operar transformações duradouras nos corpos, muitas vezes permanentes e involuntariamente,
esses mesmos corpos sujeitos a este cenário de dominação, passam a integrar-se
ao jogo social e pode-se perceber neste particular, um dos objetivos dos
dominados sendo atingido de modo eficiente, ainda que a eficácia esteja longe
de se concretizar30.
É possível inferir que essas estratégias dos
dominantes fazem parte do exercício da violência simbólica no qual Bourdieu31
destaca que, pelo efeito de lugar, agentes são incluídos ou excluídos,
aproximados ou distanciados, já que o “espaço é um dos lugares onde o poder se
afirma e se exerce sob a forma mais sutil, da violência simbólica”, cujo
imperativo é a força da influência que opera mudanças sem que necessariamente
os agentes percebam ou consintam.
Embora haja a narrativa oficial do governo
federal a respeito da política indigenista e, consequentemente, da
implementação da CASAI, é importante destacar que tal processo resulta do
trabalho social de um conjunto de agentes especializados na administração
pública e na área de saúde.
Observar este processo a partir da FUNAI
remete a considerações sobre improvisações para receber os indígenas em
tratamento em Boa Vista. Nesse contexto, a FUNAI, mediante os esforços
empreendidos pela servidora Arlete Coelho de Araújo, buscava encontrar um
espaço, que pudesse construir um abrigo afastado da Capital, próximo a um
igarapé, a fim de garantir aos indígenas condições análogas à sua vida na
floresta, durante o período que permanecessem em tratamento na Capital de
Roraima4.
Quanto às observações sobre os efeitos
simbólicos da implantação da CASAI em Roraima, é preciso colocar em relevo
histórico, Anísio Fernandes, que possuía origem indígena (Etnia Macuxi) e
ganhou destaque em setores vinculados a cultura e comunicação, na cidade de Boa
Vista. Ele era artista plástico e foi
membro do Conselho Estadual de Cultura, chefe da divisão de publicação e artes
gráficas da imprensa oficial de Roraima e um defensor da visibilidade indígena
no estado.
Dentre suas ações pode-se observar que, na
qualidade de conselheiro, ele foi relator e defensor do projeto de gravação do
CD Orgulho Macuxi, e foi o precursor das histórias em quadrinhos em Roraima. Cabe sublinhar, que em 22 de maio de 1981,
criou o primeiro personagem indígena no Jornal de Boa Vista: tratava-se da
personagem denominada “O Macuxi”32. Além de fazer alusão à própria
etnia, o artista, demonstrava como era a vida cotidiana dos indígenas
roraimenses, e valorizava a cultura regional por meio das histórias, lendas e
costumes das comunidades indígenas.
Embora esse agente tenha falecido em 25 de
junho de 2014 é possível ter ideia de sua versão a respeito da integração
indígena na “sociedade nacional” por meio da publicação da página “O Macuxi”32,
publicada no Jornal de Boa Vista em 30 de outubro de 1981. Nesse documento, a
CASAI é citada em uma historieta em 12 quadrinhos, intitulado: A integração do
Índio na sociedade (1ª parte), permitindo transmitir a maneira de ver do
cartunista por meio da charge o contato introdutório de um indígena à cultura
dos não-índios no interior de Roraima, como demonstrado dos quadrinhos 4 e 5 do
Fac-símile número 03.
O relato descreve um indígena chamado
Elesbão, que teve seu primeiro contato com os não-índios na vila do Bonfim,
local onde iniciou seus estudos. Doente, em 1978, Elesbão chegava a Boa Vista,
sendo internado na CASAI (Quadrinhos 04 e 05), local no qual recebeu tratamento
em saúde, e com o tempo fez amizades com os funcionários. Após restabelecimento
de sua saúde, passou a residir no local, e dia-a-dia passou a ajudar aprendendo
a cuidar de outros internos. A notícia é reveladora, pois afirma que Elesbão
fez curso de Datilografia e atendente de Enfermagem (Figura 3 / Fac símile 3).
É possível pensar que as ações das
funcionárias da FUNAI, na busca de melhores condições de atendimento ao
indígena, e do artista Anísio Fernandes, o trabalho de fornecimento de
visibilidade da cultura indígena não pode ser dissociados do fato de o governo
do Território Federal de Roraima, em 1982 ter cedido uma área para a construção
do projeto idealizado pelo Engenheiro Civil da FUNAI Heráclites Macedo,
atendendo assim as necessidades dos usuários indígenas, sendo observados os
seus costumes e hábitos. Modelo este que mais tarde foi executado na capital do
estado do Amazonas, CASAI-Manaus4.
O jornal Boa Vista, em 1983, deu visibilidade
à assistência e apoio à saúde dos indígenas, com a publicação de matéria no
suplemento especial de 08 de abril, página 08 no qual chama atenção o
fac-símile número 4 que traz a imagem da indígena com o filho(a) no colo.
Fac-símile 3
O Macuxi - A
integração do Índio na sociedade (1ª parte). Boa Vista – Roraima, 2021.
4 |
5 |
Fonte: Acervo da imprensa oficial do estado de Roraima. Jornal Boa Vista, 30/10/1981, p.17.
Fac-símile 04
A assistência e apoio ao indígena. Boa Vista –
Roraima, 2021.
Legenda: A comunidade indígena, recebendo o tratamento adequado.
Fonte: Acervo da imprensa oficial do estado de Roraima. Jornal Boa Vista, Suplemento especial, 08/04/1983, p.0833.
A notícia sintetiza as benfeitorias realizadas no governo Ottomar
Pinto, sendo uma delas a inauguração da CASAI em 1982 em Boa Vista33.
Infere-se que a CASAI simbolizaria o retorno dos agentes governamentais à
sociedade e à população indígena.
Após a observação da matéria e do suplemento, fica evidente o trabalho
dos assessores de comunicação do governo, e também que o próprio periódico pode
ser compreendido como estratégia governamental, pois de acordo com Bourdieu22,31 esta é uma estratégia de modelagem do campo,
cujos objetivos invisíveis, são justamente marcar posição hierárquica e ao
mesmo tempo, transparecer atenção e cuidado, no qual diversos agentes se posicionam em torno da construção de uma
percepção de mundo direcionada aos povos indígenas.
Embora o jornal tenha fornecido espaço para a defesa indígena feita por
Anísio Fernandes, o mesmo veículo também é caracterizado por ser tendencioso e
de caráter governamental34. Nesta corrente a fotografia age como um
produto social e um recurso por meio do qual é possível compreender uma série
de atores, redes, subjetividades e sentidos35.
No que tange a fotografia que mostra “A comunidade indígena recebendo
tratamento adequado”, traz consigo um conjunto de representações sociais na
mediação da relação entre “sociedade nacional” e “indígena”. Demonstra os grupos indígenas por meio da
imagem de uma mulher segurando uma criança, agentes sociais que carregam todo
um imaginário de fragilidade na sociedade dos “brancos”.
Nesse sentido, a fotografia aguça o imaginário, provocando o fascínio
pelo que é “incomum”, e na matéria em apreço, evidencia a já dita fragilidade
reforçando o papel do Estado como agente acolhedor e protetor36.
Frente ao exposto, o estado por meio da assessoria de comunicação transmite a
imagem de um órgão forte que dá “assistência e apoio” ao indígena, deixando
clara a forma de relação que é estabelecida com eles, e determinando
visualmente a condição de “apoiado” e “frágil”.
A referida imagem reflete a força desses efeitos, por transmitir uma
espécie de alento à sociedade e aos índios que mesmo dominados pela força
invisível do poder das ações empreendidas pelo Estado, são “acalentados” por um
suposto cuidado que provém daqueles que detém o poder legitimado pelos cargos
políticos que ocupam11.
As narrativas históricas produzidas a partir das imagens presentes em
notícias contribuem para a prática dos trabalhadores da saúde implicados na
atenção à saúde indígena. Neste ponto, a CASAI é concebida como serviço de
saúde, e, ao mesmo tempo um campo de forças, geradoras de práticas capazes de
atender às especificidades singulares e coletivas das populações indígenas no
estado de Roraima.
Além disso, espera-se que este estudo motive a reflexão no campo
político para idealização e implementação de práticas de saúde inovadoras no
atendimento da realidade social do indígena. Por fim, acredita-se que sua
narrativa aproximada aos pensamentos de Bourdieu promova profícuos diálogos
científicos no âmbito da sociologia e história social dos povos indígenas.
CONCLUSÃO
As narrativas sobre os efeitos simbólicos da implantação da CASAI de
Boa Vista - Roraima no campo da saúde no período de 1973 a 1983 emergem como
pano de fundo no cenário desenvolvimentista da época, como moeda de troca entre
os governantes e os indígenas que sofriam com a entrada de doenças em suas
comunidades pela ação direta do processo migratório devido ao garimpo em seus
territórios.
A entrada de outros atores sociais, representados por organizações não
governamentais e universidades, permitiu que o cenário fosse mudado
estrategicamente em favor dos povos indígenas, que passaram a jogar com maior
autonomia, o que garantiu no final da década de 1980 mediante a Constituição
Federal (1988) seus direitos sobre os territórios, seus costumes, língua, e
ainda, saúde e educação, embora persistam nos dias atuais desafios no que tange
a produção do cuidado na saúde do indígena, sobretudo o alinhamento
antropológico e o respeito às suas crenças, costumes e tradições.
CONFLITOS
DE INTERESSE
Os autores do manuscrito declaram que não há conflito de interesse de
tipo pessoal, econômico, interinstitucional, nem de outra natureza.
AGRADECIMENTO
In memoriam ao Professor Raphael Florindo Amorim grande
idealizador deste estudo.
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