Revista de Filología y Lingüística de la Universidad de Costa Rica

Vol. 50, No. 1, enero 2024-junio 2024

Plural de modéstia em sujeito oculto: marca de constituição atenuada da proeminência autoral

Lingüística

Plural de modéstia em sujeito oculto: marca de constituição atenuada da proeminência autoral

Plural of modesty in Hidden Subject: A Marker of Attenuated Constitution of Authorial Prominence

Renan Paulo Bini
Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Paraná, Brasil
Aparecida Feola Sella
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Paraná, Brasil

Plural de modéstia em sujeito oculto: marca de constituição atenuada da proeminência autoral

Revista de Filología y Lingüística de la Universidad de Costa Rica, vol. 50, núm. 1, e57628, 2024

Universidad de Costa Rica

Recepción: 29 Junio 2023

Aprobación: 30 Agosto 2023

Resumo: Apresenta-se, neste artigo, pesquisa sobre como marcas linguísticas do plural de modéstia são mobilizadas, em recortes de 18 textos, publicados em revistas de cultura e literatura, no Brasil e em Portugal, de modo a atenuar a presença autoral. Para as análises, adotou-se, principalmente, a perspectiva qualitativa, embasada teoricamente em estudos de diferentes vertentes da Linguística e da Pragmática, e que também proporcionou a análise estatística descritiva. As análises evidenciam que, em todas as ocorrências do corpus, tanto no português brasileiro quanto no português europeu, o plural de modéstia está associado à supressão do pronome pessoal do caso reto “nós”, combinação que amplia o sentido de mitigação, relacionada a quatro usos: a) credibilidade ancorada à ilusão de neutralidade e convenção das esferas acadêmica e jornalística; b) estruturação do discurso; c) polidez e suavização de conteúdos impositivos; e d) preservação da face diante de um tema polêmico.

Palavras-chave: plural de modéstia, sujeito oculto, presença autoral, mitigação da imagem, embreagem actancial.

Abstract: This article presents research on how linguistic markers of the plural of modesty are used in 18 text excerpts published in culture and literature magazines in Brazil and Portugal to attenuate authorial presence. The analysis adopted a mainly qualitative perspective, theoretically based on studies from different branches of Linguistics and Pragmatics, and also provided descriptive statistical analysis. The analysis shows that in all occurrences in the corpus, both in Brazilian Portuguese and European Portuguese, the Pluralis modestiae is associated with the suppression of the first-person pronoun “nós” (we), a combination that amplifies the sense of mitigation, related to four uses: a) credibility anchored to the illusion of neutrality and convention of academic and journalistic spheres; b) discourse structuring; c) politeness and softening of imperative content; and d) preservation of face in the face of a controversial topic.

Keywords: plural of modesty, hidden subject, authorial presence, image mitigation, actantial clutch.

1. Considerações iniciais

Conforme Fiorin (1995), o sistema linguístico da Língua Portuguesa (LP) estabelece uma clara distinção entre as três pessoas gramaticais dentro da categoria de pessoa. Apesar disso, é comum o uso de uma pessoa com valor de outra, o que o pesquisador classifica como embreagem actancial, ou seja, a neutralização da categoria de pessoa. O autor classificou 20 possibilidades[1] de embreagem actancial no português, sendo o plural de modéstia uma dessas possibilidades: Primeira Pessoa do Plural (PPP) pela Primeira Pessoa do Singular (PPS).

Neste artigo, que se constitui como um recorte de uma pesquisa de Doutorado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) (Bini, 2023), apresentamos discussões sobre uma marca linguística específica utilizada para atenuar a presença autoral:[2] o plural de modéstia, que se refere unicamente ao produtor, embora na marca da PPP. Os 18 textos selecionados para o corpus deste estudo foram publicados em seis dossiês de 2018,[3] sendo três sobre personalidades da cultura e da literatura portuguesa, na Nova Águia,[4] Português Europeu (PE); e três sobre personalidades da cultura e da literatura brasileira, na Cult,[5] Português Brasileiro (PB). De acordo com Melo e Assis (2016), o dossiê é um tipo de texto jornalístico interpretativo que é publicado principalmente em periódicos especializados, que possuem uma audiência específica e segmentada. Os dossiês têm um grande número de páginas, o que possibilita uma ampla discussão sobre um tema relevante.

Após a escolha dos dossiês, para delimitação do corpus, propomos um estudo que contempla as marcas linguísticas que materializam a PPP: o pronome pessoal “nós”, os verbos flexionados, os pronomes oblíquos “nos” (átono), “nós” e “conosco” (tônicos) e os possessivos “nosso(s)” e “nossa(s)”.[6] A seguir, com base em estudos da Linguística Enunciativa e da Pragmática, realizou-se a classificação das ocorrências, separando-se, para a análise, apenas as marcas linguísticas de plural de modéstia.

Neste texto, apresentamos discussões a partir de recortes textuais representativos, orientadas por uma perspectiva descritivo-interpretativa e sustentadas em revisão bibliográfica. Além disso, também são apresentadas análises estatísticas descritivas, cuja finalidade é ilustrar a recorrência de determinados fenômenos nos recortes selecionados, e que representam considerável incidência no corpus da pesquisa de doutorado de Bini (2023).

Para o cumprimento deste propósito, na Seção 2 Discussões teóricas sobre as marcas linguísticas de constituição atenuada da presença autoral na primeira pessoa do plural, refletimos sobre perspectivas teóricas que fundamentam este artigo. As análises são apresentadas na Seção 3 O plural de modéstia e a proeminência autoral, que é seguida das considerações finais e das referências deste artigo.

2. Discussões teóricas sobre as marcas linguísticas de constituição atenuada da presença autoral na primeira pessoa do plural

Favela e Bazzanella (2009, p. 14), em uma investigação sobre a intensidade, um fenômeno que as autoras definem como a “modificação da força ilocucionária de um ato linguístico” e que consiste nas maneiras pelas quais os falantes demonstram sua atitude em relação à proposição linguística, demonstraram que as variações na atitude dos falantes em relação ao conteúdo proposicional vão desde a atenuação/mitigação até a intensificação e ênfase. De acordo com as autoras, diversas estratégias linguísticas podem ser mobilizadas de modo a imprimir intensidade e atenuação, como usos específicos das pessoas do discurso.

A atenuação/mitigação, segundo Fraser (1980), Holmes (1984) e Sbisà (2001), na perspectiva da Pragmática, é definida não como um tipo particular de ato de fala, mas a modificação de um ato de fala: a redução de certos efeitos indesejados que um ato de fala tem sobre o ouvinte por meio de diferentes técnicas de distanciamento e de isenção de responsabilidade. A título de exemplificação, Fraser (1980) aborda a demissão de um funcionário em uma empresa. Ao noticiar, ao funcionário, a força pretendida (ilocucionária) é a de terminar o emprego (demissão) do ouvinte. O falante, ciente de que o efeito (perlocucionário) da tristeza é um resultado provável, pode escolher estratégias linguísticas que atenuem o efeito indesejável antecipadamente.[7] Essa tentativa de reduzir a hostilidade da força das ações é a mitigação.

Quanto a utilização das pessoas do discurso, seja por meio dos pronomes pessoais ou por meio da flexão verbal, pode ser compreendida como uma estratégia argumentativa. Travaglia (2015), após analisar corpus do NURC (Projeto Norma Urbana Culta),[8] constatou que “em busca de objetividade por razões argumentativas, observa-se uma tendência para usar pessoas que deem a impressão de máxima objetividade, afastando a imagem do produtor do texto do enunciador”. Travaglia (2015, p. 321) observou maior uso da terceira pessoa (TP) em textos em que o produtor pretende aderir maior objetividade, enquanto o uso da PPP foi mais associado ao “plural de modéstia”.

Quando se discute a referencialidade da PPP, é fundamental o estudo de Benveniste (1991[1946]),[9] que observou dois principais sentidos relacionados ao nós: o nós inclusivo que significa “a junção da pessoa não subjetiva com o eu implícito” e o nós exclusivo, que significa a junção do eu com a “não-pessoa” (Benveniste, 1991, p. 257). Logo, o nós inclusivo, para Benveniste, e para muitos outros linguistas, como Fiorin (1995, 1996), Bini (2023) e Bini e Sella (2023b), trata-se de inúmeras possibilidades que envolvem o eu + tu, como eu + vós; eu + tu + ele; eu + tu + elas; eu + vós + eles etc., enquanto o nós exclusivo corresponde a inúmeros grupos em que o tu não é incluído, como eu + ele; eu + eles; eu + elas etc., tratando-se, portanto, de descrições dêiticas.

Contudo, não são ocorrências da PPP com as funções inclusiva e exclusiva que este artigo visa a investigar, mas sim ocorrências de embreagem actancial da PPP pela PPS. De acordo com Manetti (2015) e Maurizi (2017), há dois usos contrapostos muito comuns na maioria das línguas indo-europeias que podem ser compreendidos como dilatações do eu, o plural de modéstia e o plural majestático. Na perspectiva de Fiorin (1995), esses usos são mecanismos de embreagem, em que há a utilização da PPP pela PPS.

O eu dilui-se no anonimato do nós ou é amplificado. O que distingue um uso de outro é o tipo de texto em que o nós se encontra. Quando aparece, em alocuções solenes, que emanam de altíssimas autoridades civis (chefes de governo e de estado) e eclesiásticas (papa e bispos) ou em documentos oficiais, esse plural é majestático. ... Já no chamado plural de modéstia, o eu evita dar realce a sua subjetividade, diluindo-a no nós. (Fiorin, 1995, p. 100)

A maioria das gramáticas de cunho prescritivo apresentam, em relação à PPP, o plural de majestade, em que o eu se amplia em uma pessoa mais solene e maciça, e o plural de modéstia, e as atrela à linguagem formal. Sobre o plural de modéstia, Cunha e Cintra (2017, p. 297) discorrem:

para evitar o tom impositivo ou muito pessoal de suas opiniões, costumam os escritores e os oradores tratar-se por nós em lugar da forma normal eu. Com isso, procuram dar a impressão de que as ideias que expõem são compartilhadas por seus leitores ou ouvintes, pois que se expressam como porta-vozes do pensamento coletivo. A este emprego da lª pessoa do plural pela correspondente do singular chamamos PLURAL DE MODÉSTIA.

Comparem-se estes exemplos:

Algumas [cantigas], mas poucas, foram por nós colhidas da boca do Povo.

(J. Cortesão, CP, 1 2.)

As ocupações oficiais em que nos achamos desde 1861 a 1867, quer nas repúblicas de Venezuela, Equador, Peru e Chile, quer nas próprias Antilhas, não nos deram muita ocasião de pensar em semelhante edição, para a qual até aí nos faltavam auxílios.

(E A. Varnhagen, CIA, 9.) (Cunha e Cintra, 2017, pp. 297-298).

Em LP, o plural de modéstia tem seu uso registrado e já consagrado nas gramáticas de cunho prescritivista e em estudos na área de Sociolinguística, como Lucchesi (2009), quando afirma que essa forma da PPP se refere ao próprio falante. Além disso, o pesquisador constatou que, nas variedades orais da LP, o plural de modéstia também se apresenta por meio do uso do a gente.

Maurizi (2017) afirma que o plural de modéstia é utilizado como uma estratégia do plural autoral, com intuito de motivar, nos interlocutores, uma imagem de modéstia em relação ao produtor. A autora também ressalta que, em diversas línguas, como o francês e o italiano, na modalidade oral, o uso da PPP pode revelar a intenção dos falantes de aderir impessoalidade à fala, com função similar ao plural de modéstia. Já Janner, Costanza e Sutermeister (2015), afirmam que o plural de modéstia pode imprimir sentidos relacionados à covardia, ao respeito, à devoção ou à servidão.

Conforme a autora, um uso comum do plural de modéstia é na literatura científica, quando, apesar de se referir à individualidade autoral, cria uma sensação de pertencimento a um grupo ou filiação teórica. Em relação à utilização do nós em textos científicos, Marques e Duarte (2016) afirmam que a PPP é uma estratégia que possibilita a construção de imagem de comunidade científica. Para as autoras, a PPP é usada em textos acadêmicos de modo a aderir credibilidade ao discurso científico “para o fortalecimento da comunidade científica, da qual o autor começa a participar” (Marques e Duarte, 2016, p. 205).

González de Requena (2020) também discute sobre os usos da PPP em gêneros acadêmicos, mas opta pela denominação nós retórico. Conforme o pesquisador, o nós retórico é uma realização da primeira pessoa do plural que aparece frequentemente no discurso acadêmico e, particularmente, nos formatos pedagógicos da comunicação acadêmica. Consiste em certo deslocamento do papel do produtor e em uma focalização da comunicação na posição discursiva de um terceiro, que poderia ser qualquer um (esse não-lugar da perspectiva científica), ao mesmo tempo em que há uma clara alusão persuasiva ao receptor ou ao leitor. Para o autor, “ni el emisor ni el receptor están referencialmente enfocados en este nosotros retórico, aunque ambos aparecen tangencialmente en el espacio discursivo como un enunciador autorizado por terceros y un receptor interpelado por el discurso del saber” (González de Requena, 2020, p. 209). Embora concordemos que a PPP pode assumir funções retóricas específicas em textos vinculados à esfera acadêmica, a partir das discussões realizadas nesta pesquisa, verificamos que esses usos, quando não há nem a inclusão nem a exclusão da audiência, em nível de referencialidade e de construção retórica, tratam-se do plural de modéstia.

Diferentemente de usos relacionados ao plural de modéstia, que podem conferir ao produtor do texto uma imagem de comedimento, pertencimento a um grupo de especialistas ou de aprendiz, o uso do plural de majestade é utilizado para criar um efeito oposto, ou seja, com a função de exaltar o eu. Como é possível verificar em Cunha e Cintra (2017), este uso encontra-se em desuso na LP:

O pronome nós era usado outrora pelos reis de Portugal — e ainda hoje o é pelos altos dignitários da Igreja — como símbolo de grandeza e poder de suas funções:

Nós, Dom Fernando, pela graça de Deus Rei de Portugal e do Algarve, fazemos saber...

É o que se chama PLURAL DE MAJESTADE. Observação: De início, o nós majestático deveria ser uma fórmula de modéstia: o rei a confundir-se com a nação, que falava por sua boca. Também na Igreja seria, no princípio, uma forma de humildade: os prelados a solidarizarem-se com os seus fiéis dentro de uma comunidade mediante o emprego do nós. Mas, perdido o valor originário, este plural com que superiores se dirigiam a inferiores veio a ser sentido como uma enfática expressão de grandeza, de poder, de majestade do cargo. (Cunha e Cintra, 2017, p. 298)

Assim, a literatura consultada evidencia que o plural de modéstia e o plural de majestade se diferenciam do nós inclusivo e/ou exclusivo, uma vez que se trata de uma ilusão ou projeção de pluralidade, já que a marca de plural é mantida, mas, em nível referencial, há apenas o eu. Os efeitos de sentido movimentados pela ilusão da pluralização são ou a hipérbole do eu (plural de majestade) ou, ao contrário, a construção de uma personalidade comedida e com ausência de vaidade (plural de modéstia). Na perspectiva da Retórica, segundo Reisigl (2006), ambas as formas[10] são sinédoque generalizantes, pois são estabelecidas por um conceito semanticamente mais amplo que representa um conceito semanticamente mais estreito, ou seja, o plural representa o singular. A utilização dessas estratégias linguísticas (associadas a outras), em contextos pragmáticos delimitados, pode constituir presenças autorais mais ou menos proeminentes.

Para investigar efeitos de sentido relacionados à intensidade e à atenuação em usos da PPP em língua italiana, Favela e Bazzanella (2009) coletaram um vasto repertório de instâncias dessa unidade linguística e exploraram uma escala de valores identitários que a PPP pode transmitir de acordo com os contextos e as variedades da língua italiana em que é produzida, variando da comunicação escrita à conversação. Considerando, especificamente, a embreagem actancial da PPP pela PPS, as autoras destacam que há uma distinção convencionalizada em que o plural de modéstia é associado ao máximo de mitigação e contrastado ao plural de majestade, que transmite o máximo de ênfase.

Também Caffi (2007) associou o plural de modéstia à mitigação, e destaca que um tipo de atenuação é a ancoragem da mensagem ao papel social do produtor. Para exemplificar, a autora cita que, recorrentemente, médicos mudam da PPS para a PPP, em língua italiana, em construções como “vamos dar uma rápida olhada em sua garganta”, que transmitem um efeito semelhante ao produzido por construções impessoais (Caffi, 2007, p. 108, tradução nossa).[11] Este uso da PPP, de acordo com a pesquisadora, sinaliza distância pessoal e distingui descrições de procedimentos laboratoriais impessoais de declarações sobre opiniões pessoais. Ademais, as rotinas de polidez profissional resolvem em parte o problema de encontrar um equilíbrio entre a necessidade de profissionais de preservar a face positiva em relação aos pacientes, enquanto realizam tarefas profissionais que podem ser ameaçadoras para a face. Segundo a autora, em alguns casos, há fórmulas linguísticas comumente características dos estilos de médicos específicos, como fórmulas com a PPP inclusiva ou o plural de modéstia mais ou menos frequentes de acordo com a rigidez e previsibilidade das tarefas realizadas.

A partir dos estudos discutidos nesta seção, observamos que o plural de modéstia pode atenuar a presença autoral, pois ele cria a ilusão de distância entre o produtor e o texto, dando a impressão de que a declaração ou ação está sendo tomada por um grupo maior em vez de uma única pessoa. Esse uso do plural pode criar um senso de responsabilidade compartilhada ou diluída, o que pode ajudar a desviar o foco do autor individual e dar mais ênfase à mensagem em si. Dessa forma, a estratégia é muitas vezes utilizada em contextos de alta formalidade, como forma de atenuar a presença autoral e reforçar a autoridade da instituição ou do grupo representado.

2.1 Efeitos da omissão e da explicitação dos pronomes pessoais

Existem três formas em que a LP permite a omissão do sujeito em frases, a saber: (i) o sujeito oculto, também conhecido como sujeito elíptico; (ii) o sujeito indeterminado; e (iii) as orações que não possuem sujeito. Neste artigo, centramos nossa atenção para casos do primeiro tipo, especificamente quando o sujeito oculto corresponde exclusivamente ao produtor, porém, é localizado por meio de marcas da PPP, ou seja, o plural de modéstia. Sobre sujeito oculto, consideramos a definição de Cunha e Cintra (2017):

É aquele que não está materialmente expresso na oração, mas pode ser identificado. A identificação faz-se:

pela desinência verbal:

Ficamos um bocado sem falar. (L. B. Honwana, NMCT, 10.)

[O sujeito de ficamos, indicado pela desinência -mos, é nós.] (Cunha e Cintra, 2017, p. 141)

Em LP, nas plataformas de pesquisa consultadas, não encontramos estudos que associem a omissão do sujeito a estratégias de atenuação da presença autoral do produtor. Mas encontramos estudos em língua inglesa sobre como a presença de pronomes pessoais na PPS ou na PPP imprimem maior proeminência à imagem do produtor, como Schmid (2014), e sobre efeitos da omissão/explicitação desses pronomes, na função de sujeito, no português e no espanhol.

Para Schmid (2014), utilizar a primeira pessoa do discurso para demonstrar um pensamento, uma crença, um desejo ou uma intenção é diferente de afirmar que um determinado objeto discursivo tem essa atitude. Segundo o autor, as declarações que utilizam a PPS ou a PPP vêm com alguma forma de autoridade, constituindo compromissos não envolvidos quando o falante não explicita o posicionamento diretamente. Assim, falar em primeira pessoa é comprometer-se publicamente.

Conforme Posio (2011), que fez estudo sobre os usos de pronomes pessoais em língua espanhola, o uso desses elementos reflete um maior nível de proeminência dado ao sujeito, enquanto os pronomes são usados ​​com menos frequência quando outro elemento recebe mais atenção na oração. A focalização da atenção explica vários fenômenos ligados ao uso de pronomes na posição de sujeito, como as diferenças atestadas na frequência de determinados elementos na primeira pessoa do discurso com diferentes funções semânticas, sendo que o uso explícito dos pronomes aumenta o peso pragmático de um dado enunciado.

No discurso falado, segundo Posio (2012, p. 340), que comparou funções semânticas da PPS em LP e língua espanhola, o que caracteriza a primeira pessoa do singular é a alta frequência simbólica de formas verbais como “eu penso”, “eu digo” e “eu sei”, que servem a diferentes funções pragmáticas relacionadas com tomada de posição e organização de turnos. A presença ou ausência do pronome sujeito em espanhol está relacionada à função pragmática da sequência no discurso. Por exemplo, a sequência de alta frequência “yo creo que” está associada a uma função subjetiva, marcando a proposição como opinião pessoal do falante e sinalizando que o falante assume a responsabilidade pelo valor de verdade da proposição, enquanto a expressão “creo que” é frequentemente usada com função atenuante, ou seja, sinalizando que o falante não está assumindo plena responsabilidade pelo valor de verdade do enunciado. Nesse cenário, esses estudos motivam a investigação de se o plural de modéstia em sujeito oculto se constitui como uma estratégia de atenuar a proeminência da presença autoral em textos de LP.

3. O plural de modéstia e a proeminência autoral

Com base na fundamentação teórica apresentada na Seção 2, descrevemos, na Seção 3, alguns fenômenos representativos de um recorte da pesquisa de Bini (2003). Foram selecionados 18 textos publicados em seis dossiês de 2018, sendo três pela revista Nova Águia (Fidelino de Figueiredo, 50 anos depois, ed. 21; Nos 150 anos do nascimento de António Nobre e Raul Brandão, ed. 21; e Dalila Pereira da Costa, 100 anos depois, ed. 22); e três pela revista Cult (Benedito Nunes: o filósofo da poesia, ed. 231; Hilda Hilst: um unicórnio na literatura brasileira, ed. 233; e O imenso Graça: vidas secas, 80 anos, ed. 239). A seleção considerou todos os textos, publicados nos dossiês, que utilizam o plural de modéstia.

Em um primeiro momento, realizou-se a tabulação de recortes com todas as ocorrências da PPP, e, com base em estudos da Linguística Enunciativa e da Pragmática, a classificação das ocorrências e a análise qualitativa, separando as marcas linguísticas de plural de modéstia (que se refere exclusivamente ao produtor, mas na PPP) das marcas que imprimem as funções inclusiva (produtor + leitores) e exclusiva (produtor + objetos discursivos), totalizando-se 358 ocorrências da PPP. A seguir, realizou-se a análise estatística descritiva,[12] que revelou que o plural de modéstia corresponde a 13,13 % das ocorrências de PPP nos textos (47 ocorrências). Ademais, verificamos que, em 100 % das ocorrências de plural de modéstia, no corpus, há a omissão do pronome pessoal do caso reto “nós”.

Verificamos que a explicitação dos pronomes pessoais da PPP reflete um maior nível de destaque dado ao articulista, enquanto os pronomes pessoais do caso reto são usados com menos frequência quando os argumentos apresentados recebem mais atenção na oração do que a imagem do produtor. A mobilização de diferentes tipos de marcas linguísticas da PPP possibilita aos produtores dos textos imprimirem maior destaque ora ao conteúdo do texto ora à presença autoral. Observamos que, nos textos, quando a impessoalidade é utilizada, o enfoque principal está centrado no argumento, enquanto os pronomes pessoais do caso reto imprimem maior proeminência ao articulista. Assim, as demais marcas linguísticas na PPP estabelecem um nível intermediário de focalização entre o conteúdo proposicional e a presença autoral.

Sobre a ausência de ocorrências do pronome pessoal do caso reto nós que correspondam ao plural de modéstia, nos textos analisados, constatamos que evidencia quantitativamente o caráter de embreagem desse mecanismo, que se refere à PPS, mas que, para evitar um tom impositivo ou muito pessoal ao texto, o produtor opta pela PPP. Caso optasse por explicitar o nós com a função de sujeito pronominal expresso, na PPP, os argumentos seriam ancorados, com maior proeminência, à presença autoral do produtor, quando o propósito argumentativo dessa marca é justamente de atenuar a presença autoral do articulista.

Nos textos analisados, constatamos que a atenuação da presença autoral por meio do plural de modéstia está relacionada a quatro usos. A seguir, analisamos alguns recortes representativos do corpus.

a) Credibilidade ancorada à ilusão de neutralidade e convenção das esferas acadêmica e jornalística

Em textos publicados nas esferas sociais científica e jornalística,[13] é comum os autores criarem a ilusão de uma posição neutra, evitando o posicionamento explícito, com o intuito de ampliar a credibilidade do texto. Assim, em alguns contextos, o uso do plural de modéstia pode ser visto como uma demonstração de humildade, mostrando que o produtor não está se colocando em posição de superioridade em relação ao leitor ou ao assunto tratado.

Em algumas áreas acadêmicas,[14] é comum o uso do plural de modéstia para se referir a ideias, conceitos ou argumentos. Isso pode ocorrer para evitar a ênfase na autoria individual ou para que os leitores infiram que a posição expressa é compartilhada por outros pesquisadores da área. Vejamos dois exemplos:

Recorte 1: Nesse fragmento citado, percebemos o destaque alcançado pelo seu grupo de teatro, devido à participação nos festivais nacionais promovidos por Paschoal Carlos Magno (1958, em Recife, e, em 1959, em Santos); e a ponderação de que, mesmo com a fama conseguida, o Norte Teatro Escola do Pará ainda era uma ação muito restrita, “uma ilha”, ou seja, notamos a percepção de que muito se precisava fazer para transformar a produção cênica em Belém. (Cult, Dossiê Benedito Nunes, 2018)

Recorte 2: A vida e a obra de Fidelino Figueiredo espelham bem, exemplarmente diríamos, a situação das Ciências Humanas na transição do século XIX para os séculos XX-XXI [...] (Nova Águia, Dossiê Fidelino de Figueiredo, 2018)

No Recorte 1, o produtor da Cult utiliza os verbos “percebemos” e “notamos”, ambos conjugados na PPP, como forma de explicitar a própria percepção e observação sobre a situação. Esse uso do plural de modéstia tem como objetivo evitar a exaltação pessoal, diante da apresentação de avaliações e percepções, em vez de destacar apenas o seu próprio papel.

Já no Recorte 2, o produtor da Nova Águia imprime alto grau de engajamento, mas de forma atenuada pela PPP. Ao analisar a vida e a obra da personalidade homenageada, comparando-a à situação das Ciências Humanas em um período histórico delimitado, o produtor demonstra seu conhecimento técnico-científico e constrói uma presença autoral ancorada à credibilidade acadêmica. Caso mobilizasse a PPS, afirmando explicitamente ser detentor desse conhecimento, poderia ser percebido como arrogante pelos leitores, o que não ocorre com a utilização do plural de modéstia. Por meio da PPP, em “diríamos” (aliado ao advérbio modalizador “exemplarmente”), o articulista também direciona os leitores a concordarem com seu posicionamento, e esse norteamento é ancorado à credibilidade científica da própria presença autoral.

Nos exemplos dos recortes 2 e 3, verificamos que os produtores reconhecem a importância de associar a percepção pessoal a uma ideia de coletividade para a compreensão da realidade em questão. Esse recurso linguístico também pode indicar uma postura mais democrática e participativa, em que diversas perspectivas são consideradas na tomada de decisão ou na avaliação de um determinado assunto.

b) Estruturação do discurso

Nos textos analisados, alguns articulistas utilizam o plural de modéstia para estruturar[15] o discurso. Nestes casos, o produtor expressa baixo nível de engajamento, utilizando a PPP apenas para discursivizar/explicitar a organização textual. Vejamos um exemplo:

Recorte 3: Concluímos com “A arte pede misericórdia”, que traz carta de Graciliano Ramos inédita em livro, descoberta pelos pesquisadores Ieda Lebensztayn e Thiago Mio Salla, enviada a Oscar Mendes, em 1935 (Dossiê O imenso Graça, Revista Cult).

No Recorte 3, há o plural de modéstia, uma vez que se refere apenas ao produtor. Em “concluímos”, por meio do contexto do recorte, o verbo na PPP, por um lado, despersonaliza o discurso, dando maior destaque ao conteúdo e atenuando a presença autoral; por outro lado, não deixa de explicitar o papel central do articulista enquanto responsável não só por um projeto de dizer, mas também pela pesquisa que o antecede, porém, de forma atenuada.

Nos textos analisados, verificamos que a utilização do plural de modéstia como um atenuador da presença autoral, durante a estruturação do texto, trata-se de uma estratégia recorrente, especialmente no contexto acadêmico e jornalístico, em que convencionalmente os articulistas tentam se aproximarem da ilusão de impessoalidade.

c) Polidez e suavização de conteúdos impositivos

Em alguns contextos, o produtor assume o papel de especialista ou de voz autorizada, fazendo sugestões ou recomendações com base em suas pesquisas ou no que observou durante sua trajetória. Por meio de elementos linguísticos, os leitores são norteados a realizarem uma ação ou a interpretarem um determinado fenômeno conforme o interesse do produtor (e de seu grupo). Nos textos analisados, verificamos que alguns articulistas atenuam a presença autoral diante de expressões impositivas, como as relacionadas a modalizadores de cunho deôntico,[16] por meio do plural de modéstia. A utilização desse recurso pode ser vista como uma forma de suavizar a mensagem e evitar que ela soe autoritária ou impositiva, o que pode prejudicar a relação com o leitor ou com o público em geral.

Nesse contexto, o uso do plural de modéstia pode ser visto como uma estratégia para preservar a polidez e evitar conflitos, o que pode tornar a mensagem mais aceitável para o leitor do que uma presença autoritária. Vejamos um exemplo:

Recorte 4: Aqui devemos destacar vários importantíssimos elementos: para já, vemos que todas as experiências espirituais de Dalila (NOVA ÁGUIA, Dossiê Dalila Pereira da Costa, 2018).

No Recorte 4, o uso do modalizador deôntico “devemos”, apesar de tratar-se de plural de modéstia e, portanto, referir-se apenas à obrigatoriedade relacionada à ação do articulista, pode ser interpretado como um norteamento para que o leitor preste atenção em determinados elementos do texto. Ao empregar a PPP e não a PPS, o produtor evita soar autoritário ou impositivo, sugerindo uma ação sem impor ou obrigar o leitor a concordar com suas ideias.

Já o verbo “vemos” também se apresenta no plural de modéstia, mas desta vez com a função de criar uma ilusão argumentativa de que a informação apresentada é resultado de uma análise compartilhada por um grupo, e não apenas uma opinião ou interpretação individual do produtor. Desse modo, o articulista atenua a presença autoral, atribuindo a construção do conhecimento a uma comunidade, e não somente a si mesmo.

d) Preservação da face diante de um tema polêmico

Ao usar o plural de modéstia, o produtor pode transmitir uma mensagem de que não está impondo sua opinião e que está aberto a outras perspectivas. Além disso, o uso desse recurso pode sugerir que o produtor reconhece a complexidade de um determinado tema. Essa estratégia pode ser especialmente útil em temas cujas opiniões possam divergir.

Nesse cenário, o uso da PPP, em contextos que se referem exclusivamente ao articulista, pode ajudar a suavizar a mensagem, reduzindo a possibilidade reações negativas, ao mesmo tempo em que demonstra uma postura mais aberta e colaborativa em relação ao tema tratado. Vejamos um exemplo:

Recorte 5: Em jeito de últimas palavras, aqui, podemos dizer ainda que a Dalila Pereira da Costa não interessa o “paganismo” particularmente; se no território português tivesse existido digamos, o zoroastrismo, esse seria o foco da sua atenção, para perceber quais as características de que se revestia o zoroastrismo aqui. (NOVA ÁGUIA, Dossiê Dalila Pereira da Costa, 2018)

No Recorte 5, o produtor menciona a escritora Dalila Pereira da Costa e sua suposta falta de interesse pelo “paganismo”, bem como sua possível dedicação ao estudo de outras religiões. O uso do plural de modéstia atrelado ao modalizador “podemos” sugere que o produtor não está impondo sua opinião, mas sim compartilhando uma interpretação possível. Esse uso da PPP sugere que o produtor reconhece a complexidade do tema tratado e opta por preservar a face positiva ao invés de comprometer-se em uma afirmação polêmica.

A expressão “digamos” amplia o sentido suposição, levando os leitores a considerarem que o articulista não tem certeza sobre a existência do zoroastrismo no território português. O uso dessa expressão pode ser visto como uma forma de relativizar a mensagem e como um recurso linguístico utilizado para preservar a face do autor diante de um tema complexo/polêmico.

Nesta seção, apresentamos análises sobre o Plural da modéstia em recortes textuais de dossiês publicados em revistas de cultura e literatura, no PB e no PE. A análise demonstrou que esse recurso linguístico é frequentemente usado para criar a ilusão de neutralidade, evitando posições explícitas e enfatizando a credibilidade. Em alguns contextos, pode ser usado para evitar ênfase na autoria individual ou para indicar que a posição expressa é compartilhada por outros pesquisadores. Em alguns casos, também pode indicar uma abordagem mais democrática e participativa. Ademais, o Plural da modéstia também pode ser usado para estruturar o discurso, expressando um baixo nível de engajamento e focando na organização do texto. Os exemplos apresentados mostram como o uso do Plural da modéstia pode afetar a percepção dos leitores sobre a proeminência da presença autoral.

4. Considerações finais

Neste artigo, objetivamos demonstrar como o plural de modéstia pode ser utilizado para atenuar a presença autoral. Para exemplificar possíveis usos, consideramos recortes de 18 textos, que foram publicados em seis dossiês de 2018, no PB e no PE. Assim, apresentamos discussões a partir de recortes representativos do fenômeno, considerando uma totalidade de 47 ocorrências de plural de modéstia, sendo que, em todas as ocorrências de plural de modéstia, no corpus, há a omissão do pronome pessoal do caso reto “nós”.

Após a análise dos dados coletados neste estudo, foi possível identificar que o uso do plural de modéstia é utilizado, principalmente, para atenuar a presença autoral. No entanto, a sua utilização não é homogênea, e varia de acordo com o contexto pragmático e o propósito argumentativo do articulista. Nos textos analisados, constatamos que a atenuação da presença autoral por meio do plural de modéstia está relacionada a quatro usos: a) Credibilidade ancorada à ilusão de neutralidade e convenção das esferas acadêmica e jornalística; b) Estruturação do discurso; c) Polidez e suavização de conteúdos impositivos; e d) Preservação da face diante de um tema polêmico.

Diante dessas constatações, assumimos limitações decorrentes desse trabalho acadêmico, que possui um corpus delimitado, na modalidade escrita, de um gênero específico. Se, por um lado, a constatação estatística a partir do corpus que associa o plural de modéstia à omissão do pronome pessoal do caso reto nós, considerando uma totalidade de 47 ocorrências em 18 textos, não significa que o plural de modéstia deve ocorrer obrigatoriamente em sujeito oculto; por outro lado, evidencia não só uma recorrência significativa da associação entre ambas as estratégias em LP, mas também que a combinação de ambas potencializa o efeito de atenuação da proeminência autoral. Ademais, sugerimos a realização de novas pesquisas que contemplem a investigação de usos do plural de modéstia em outros gêneros e em corpus mais amplos.

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Notas

[1] As 20 possibilidades de embreagem actancial, segundo Fiorin (1995, p. 88), são: “1. terceira pessoa pela primeira do singular; 2. terceira pessoa pela primeira do plural; 3. terceira pessoa pela segunda do singular; 4. terceira pessoa pela segunda do plural; 5. segunda pessoa do singular pela terceira; 6. primeira pessoa do singular pela terceira; 7. primeira pessoa do plural pela terceira; 8. segunda pessoa do plural pela terceira; 9. primeira pessoa do singular pela segunda do singular; 10. segunda pessoa do singular pela primeira do singular; 11. primeira pessoa do plural pela segunda do plural; 12. segunda pessoa do plural pela primeira do plural; 13. segunda pessoa do plural pela segunda do singular; 14. primeira pessoa do plural pela primeira do singular; 15. segunda pessoa do singular pela segunda do plural; 16. primeira pessoa do singular pela primeira do plural; 17. primeira pessoa do plural pela segunda do singular; 18. segunda pessoa do plural pela primeira do singular; 19. segunda pessoa do singular pela primeira do plural; 20. primeira pessoa do singular pela segunda do plural”.
[2] O termo presença autoral, neste artigo, refere-se à maneira como o produtor se apresenta e/ou se posiciona em seus textos. De acordo com Taylor e Goodall (2019), por meio da PPP, articulistas podem aderir maior ou menor proeminência à presença autoral, sendo o plural de modéstia uma marca que representa atenuação.
[3] Também considerando uma seleção de textos publicados em dossiês de 2018, nas revistas Cult e Nova Águia, foi publicado o artigo Nós da nação, de Bini e Sella (2023a), que, com base em estudos da Retórica, investiga o páthos ligado a três tipos diferentes de grupos virtuais, ligados à PPP, que envolvem a noção de território e cultura compartilhada em um espaço geográfico.
[4] A Nova Águia é uma revista semestral portuguesa voltada à cultura e à literatura lusófona, sendo uma homenagem à Águia, uma das mais importantes revistas portuguesas do século XX, e teve a colaboração de célebres escritores portugueses, como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Raul Proença, Leonardo Coimbra, António Sérgio, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva (Zéfiro, 2020).
[5] A Cult é uma revista mensal brasileira voltada às áreas de arte, cultura, filosofia, literatura e ciências humanas e possui a seção fixa Dossiê, desenvolvida não só por jornalistas, mas também por pesquisadores das respectivas áreas de discussões (Cult, 2023), o que confere certo grau de autonomia e de cientificidade aos textos. Em pesquisa anterior a partir de textos da Cult, Bini e Sella (2019) constataram que a primeira pessoa do plural pode ser utilizada como um recurso linguístico que movimenta diferentes realizações de ethos e modalizações, em um dossiê publicado em 2017.
[6] O corpus deste artigo é constituído por recortes textuais da modalidade escrita da língua portuguesa, em um gênero em que se observa alta-formalidade. Não foram observadas ocorrências do a gente, do possessivo da gente ou dos pronomes oblíquos com a gente e com nós nos textos analisados, nem no PB, nem no PE. Assim, as discussões teóricas deste artigo não aprofundam reflexões sobre essas variedades. A inexistência dessas formas nos textos que compõem o corpus, apesar de serem cristalizadas na modalidade oral-dialogada da língua portuguesa, evidencia, possivelmente, que ainda há uma preferência entre os produtores pela perspectiva tradicional da linguagem na modalidade escrita da língua. Consideramos que essa preferência pode ser maior no perfil dos produtores dos dossiês que são, predominantemente, intelectuais e especialistas em literatura e cultura. A totalidade dos recortes que compõem o corpus pode ser consultada no Apêndice 1 da pesquisa de Bini (2023).
[7] Apesar de considerarmos a possibilidade de aferir algumas estratégias linguísticas de atenuação, e o propósito retórico que a motiva, concordamos com Fraser (1980), que destaca que não existe uma maneira de garantir que um efeito perlocucionário pretendido será bem-sucedido, uma vez que a mitigação envolve efeitos perlocutórios, o falante não pode assegurar que sua tentativa de suavizar qualquer um dos efeitos será removido. É claro que o uso de uma sentença como performativo obrigatório representa um recurso mais ou menos convencional para fazer o ouvinte reconhecer a intenção do falante de mitigar a força do pedido.
[8] O Projeto NURC teve início em 1969, e foi proposto como uma extensão do Proyecto de Estudio Coordinado de la Norma Lingüística Culta de las Principales Cidades de Iberoamérica y de la Península Ibérica, de que participavam países de língua espanhola da América Latina. A proposta inicial do Projeto era documentar e estudar a norma falada culta de cinco capitais brasileiras: Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
[9] Para o desenvolvimento desta pesquisa, consultamos a tradução brasileira do artigo, que foi publicada em formato de capítulo de livro na obra Problemas de Línguística Geral I. A versão original da pesquisa foi publicada em 1946 e intitula-se Structure des relations de personne dans le verbe.
[10] Para Reisigl (2006, p. 603), “pluralis pro singulare (i.e., the plural stands for the singular: ‘We [representing a single person like a queen or a state’s president; cf. pluralis maestatis or pluralis modestiae] hereby enact a general amnesty.’)”.
[11] “…guardiamo la gola un attimo /…let’s have a quick look at your throat” (Caffi, 2007, p. 108).
[12] No apêndice da tese de Bini (2023, p. 297), é possível acessar a totalidade de quadros não só com recortes textuais dos textos considerados para análise no presente artigo, mas também a classificação das ocorrências da PPP. Considerando a recorrência de alguns fenômenos, com base em Reis e Reis (2002), realizamos a análise estatística descritiva para organizar, resumir e descrever os aspectos importantes que se manifestam quantitativamente em nosso corpus, sendo que os fenômenos relacionados ao plural de modéstia são discutidos neste artigo.
[13] É comum manuais de redação técnica, tanto na esfera acadêmica (ex. Soares, 2011) quanto na esfera jornalística (ex. O Estado de S. Paulo, 1997) apontarem o plural de modéstia como mais indicado do que a PPS. A título de exemplificação, consta, no Manual de Redação e Estilo de O Estado de S. Paulo: “Nosso de modéstia ou opinião: O nosso pode tanto substituir o meu como expressar a opinião de entidades ou instituições, caso em que se enquadram, por exemplo, os editoriais do jornal: Com este discurso, foi nosso (meu) objetivo... / Nossa opinião (do jornal) sobre o escândalo não sofreu nenhuma contestação”, mesmo em textos escritos por um único autor. Considerando os textos da Cult e da Nova Águia, verificamos que os produtores se encontram inseridos em ambas as esferas sociais, uma vez que o público-alvo desses veículos é composto por interessados em literatura, cultura e discussões teóricas das ciências humanas, sendo que a maior parte dos textos é escrita por produtores com perfil acadêmico, como professores universitários.
[14] Ao analisar os usos da primeira pessoa do discurso em artigos científicos das áreas de Engenharia Mecânica, Engenharia Elétrica, Marketing, Filosofia, Sociologia, Linguística Aplicada, Física e Microbiologia, Hyland (2001) constatou que os pronomes em primeira pessoa foram utilizados com mais frequência em textos da Linguística Aplicada e Sociologia do que em artigos de pesquisa nas áreas de Microbiologia e Física.
[15] Sobre esses usos, estudos como os de Marques e Ramos (2015, p. 168) utilizam a classificação função metadiscursiva: “ocorre em contexto de estruturação do discurso, como é o caso da Introdução, ou em momentos de retoma e antecipação de conteúdos discursivos”.
[16] Segundo Castilho (1994), os elementos modalizadores expressam a avaliação pessoal do produtor a respeito de seu conteúdo; ou seja, por meio desses elementos linguísticos, o produtor do texto realça sua intervenção ou ação de orientar o discurso. A modalização deôntica (do grego: deon, que significa "dever"), de acordo com Neves (2006, p. 160), “está condicionada por traços lexicais específicos ligados ao falante ([+] controle) e, de outro lado, implica que o ouvinte aceite o valor de verdade do enunciado para executá-lo”.
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