Resumo
Este artigo tem como objetivo discutir algumas das contribuições da Epistemologia Qualitativa e do Método Construtivo-Interpretativo para a pesquisa em Educação, sobretudo no que se refere aos processos de aprendizagem escolar. Ambos foram elaborados por Fernando González Rey em sua proposta teórica para o estudo da subjetividade, em uma perspectiva cultural-histórica. Embora a pesquisa qualitativa tenha avançado em termos de metodologia nas ciências humanas, a prevalência de um imaginário positivista na investigação científica qualitativa perdurou, sem muitas mudanças. Nesse sentido, dentre as contribuições que serão debatidas, cita-se, sobretudo, a premência de conceber a epistemologia como uma ferramenta de pensamento crítico para o fazer científico na pesquisa qualitativa, ao buscar abranger a dimensão histórica, cultural e subjetiva dos fenômenos humanos. Para tanto, é apresentado um estudo de caso, realizado em uma escola pública brasileira, em que se objetivou compreender processos subjetivos produzidos pelo participante no curso das suas dificuldades escolares, tendo em conta a utilização dos pressupostos teórico, epistemológico e metodológico supracitados. Como instrumentos, foram utilizados dinâmica conversacional, produção de texto e complemento de frases. Os resultados apontam para as contribuições do fazer investigativo por essa perspectiva, que possibilitaram abarcar a análise das complexas tramas sociais, individuais, históricas e culturais, a partir do modo como emergiram nas produções subjetivas do aluno frente às suas dificuldades, dimensões geralmente não abarcadas sem que uma exclua a outra no estudo dos processos educativos pelo caminho científico caracterizado como qualitativo.
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