Infância, educação e produção de subjetividade: o fenômeno “youtuber mirim” no Brasil

Resumo

Neste artigo discutimos, com base no construcionismo social e nos estudos de gênero, como a mídia trabalha enquanto ferramenta que educa a infância e produz modos de ser, de pensar, de agir. O objetivo central do estudo foi problematizar sentidos de maternidade e infância veiculados no youtube, por intermédio da publicidade de brinquedos e jogos infantis. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva, de caráter documental, cujo corpus foi composto por dezesseis vídeos da youtuber brasileira Valentina Pontes, revisados e interpretados a partir da análise de discurso. A análise resultou na construção de dois eixos temáticos. Traremos, aqui, as discussões do eixo “A representação de maternidade na mídia: da mãe infantilizada à menina mãe”, que convida a problematizações sobre a construção da maternidade, do ponto de vista midiático, e sua influência na produção de subjetividade infantil. Discutimos, primeiramente, a imagem que Erlânia, a mãe de Valentina, representa: a de uma maternidade que renuncia sua identidade em favor do cuidado das crianças. A segunda representação de mãe encontrada é a da própria Valentina, incentivada, por uma série de dispositivos, a exercer a maternagem. O papel desempenhado pela menina, em meio a falas e brincadeiras, reforça a ideia determinista de que, para a mulher, a maternidade é algo natural no percurso da vida. É possível afirmarmos que a família Pontes é produtora de muitas infâncias brasileiras. Exemplo disso é a ampla audiência do canal, que dá à Valentina um lugar de destaque entre as youtubers mirins, fato que, possivelmente, não somente incide nos desejos, verdades e perspectivas de outras famílias, mas também reforça o que acreditam ser um modo ideal e adequado de exercício da infância e da maternidade.